Com o envelhecimento da população, os serviços de saúde do mundo todo serão atingidos por um "tsunami grisalho" de doentes idosos com câncer, nas próximas duas décadas, alertam oncologistas. Em Chicago, no encontro da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco, da sigla em inglês), os especialistas pediram uma ação urgente para aumentar a força de trabalho médica ao alertarem para o fato de que o mundo "não está preparado" para essa explosão.
O tsunami grisalho é uma metáfora usada para descrever o envelhecimento populacional e os impactos econômicos e de saúde associados aos mais velhos. Com o aumento da expectativa média de vida, estima-se que essa cada vez maior população idosa necessitará de cuidados específicos de saúde.
Notícias relacionadas:ANS inclui tratamento de câncer de tireoide na cobertura obrigatória.Tratamento promissor contra câncer é estudado pelo SUS.“À medida que a população se expande e a incidência aumenta, estamos realmente preparados para lidar com essas necessidades? Acho que globalmente não estamos preparados”, adverte Andrew Chapman, diretor do Sidney Kimmel Cancer Center-Jefferson Health e especialista em oncologia geriátrica.
“Sabemos que o câncer é uma doença associada ao envelhecimento e há vários mecanismos biológicos que o explicam”, afirma Chapman. “O que muitas vezes é esquecido é que os objetivos, desejos, necessidades, preferências e problemas dos adultos mais velhos são muito diferentes dos do adulto médio”, sublinha.
A idade avançada é um fator de risco bem identificado pela comunidade médica, o que, às vezes, desencadeia uma atitude de desistência: “Às vezes há um niilismo – se você for mais velho ninguém vai se incomodar – o que é horrível”, acrescentou.
Falência dos serviços médicos
Durante o encontro, outros participantes alertaram para a pressão sobre os já sobrecarregados serviços de saúde.
Os pacientes mais velhos com câncer têm necessidades específicas e os especialistas têm a responsabilidade de melhorar os serviços geriátricos para fornecer cuidados adequados. Os cientistas afirmam que a escassez global de força de trabalho significa que o atendimento não vai melhorar.
“Até 2040, estima-se que a carga global cresça para 27,5 milhões de novos casos de câncer e 16,3 milhões de mortes, simplesmente devido ao crescimento e envelhecimento da população”, explica Julie Gralow, diretora médica e vice-presidente executiva da Asco.
Ela acrescenta que os sistemas de saúde “devem agir imediatamente para evitar a sobrecarrega advinda do aumento de pacientes idosos” com doenças do foro oncológico. "Haverá mais pessoas idosas com diagnóstico de câncer e, claro, vão requer cuidados multidisciplinares", reiterou Charles Swanton, clínico-chefe da Cancer Research UK. “Este grupo geralmente tem comorbidades e outras doenças, como doenças cardiovasculares, problemas cardíacos ou respiratórios”, assinalou.
“A questão é: como é que o sistema de saúde vai lidar com isto? É uma grande preocupação quando se trata de planejamento. Se tivermos que lidar com 30% a mais de diagnósticos de câncer e esses diagnósticos forem mais complexos, precisaremos de pelo menos 30% mais oncologistas, cirurgiões e patologistas para gerir esse aumento de casos”, argumenta Swanton.
Nos Estados Unidos, o National Cancer Institute projeta que, até 2040, quase três quartos das pessoas com câncer terão mais de 65 anos, o que corresponderá a 73% por cento desse grupo de idosos.
No Reino Unido, o número de pessoas diagnosticadas com a doença aumentará em um terço até 2040, elevando o número de novos casos todos os anos de 384 mil para 506 mil pela primeira vez, de acordo com análise da Cancer Research UK.
“A menos que se aprenda mais sobre como a doença afeta pacientes de várias idades, a medicina falhará com o envelhecimento da população”, finalizam os especialistas.
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