Caminho de Santiago – Santo Domingo de la Calzada a Redecilla del Camino – 17° dia
Antes de começar o relato de hoje, preciso falar sobre a história de Santo Domingo. Ele dedicou sua vida para melhorar a rota dos peregrinos no século XI, construindo estradas e pontes. Santo Domingo, cujo nome de batismo era Domingo Garcia, nasceu em 1019 num vilarejo pobre que se chamava Vilória e morreu aos 90 anos. Construiu um hospital para peregrinos e a igreja que é hoje a Catedral da cidade, e restaurou as calçadas romanas do Caminho de Santiago.
Com relação à Catedral, existe uma lenda em que um casal de peregrinos seguia para Santiago de Compostela com seu lindo filho e resolveram pernoitar nesta região. A filha do dono da pensão em que pernoitaram se apaixonou pelo jovem devoto, mas este não cedeu aos encantos da donzela. Esta, sentindo-se rejeitada, colocou uma taça de prata na mochila do jovem peregrino, denunciando-o em seguida. O mesmo foi preso e condenado à morte por enforcamento. O rapaz foi enforcado e seus pais seguiram para Compostela. No retorno, voltaram ao local em que o filho havia sido pendurado e perceberam que o rapaz ainda estava vivo, graças à intervenção de Santo Domingo.
Ao se dirigirem ao juiz que ordenara o enforcamento, relataram o milagre mas o juiz não acreditou , dizendo que o jovem estava tão morto quanto o frango que ele estava comendo. Naquele momento o frango pôs-se de pé no prato e cacarejou vibrantemente. Diante disto, o juiz foi até o local e confirmou o fato de que o rapaz estava mesmo vivo, cortando-lhe imediatamente a corda que este tinha ao pescoço. É por esta razão que até hoje existe um galinheiro, com um galo e uma galinha verdadeiros, em frente ao sepulcro de Santo Domingo, dentro da Catedral, para lembrar deste milagre creditado ao Santo. Devida à história de Santo Domingo de la Calçada, seus milagres e suas obras em prol dos peregrinos, a cidade é também chamada de Compostela de Rioja.
Voltando ao nosso relato de hoje, saímos do Hostal Miguel às 08:30hs com um pouco de apreensão com uma bolha que havia nascido no pezinho esquerdo da Cris. Ontem eu já havia ido à farmácia para comprar agulha, mertiolate e um tipo de esparadrapo aqui chamado de segunda pele.
Seguimos o Caminho mas a bolha voltou a incomodar.
O cenário desta etapa é idêntico ao de ontem, muito verde e vastas planícies com boa trilha e pontos de apoio para descansar e reabastecer com água cristalina das fontes públicas. Resolvemos parar logo no primeiro povoado pelo qual passamos, Granón, mas não gostamos da opção de hospedagem, uma simpática Casa Rural na Rua/Calle Mayor.
Em frente havia uma casa em reforma e alguns operários trabalhando bem em frente à “nossa” janela. A Cris propôs andarmos mais 3,8 kms até Redecilla del Camino. Assim fizemos e nos hospedamos no Hostal Redecilla del Camino. O local é bem cuidado pela proprietária, a Lourdes, uma paraguaia que já mora na Espanha há mais de 16 anos. O problema é que a Lourdes e seu empregado estavam doentes, ela com pneumonia e ele operado do apêndice. Nos hospedamos neste Hostal, mas tivemos que almoçar em outro local, o Restaurante el Chocolatero, a 1,7 kms da pousada, à pé, mais 1,7 kms para voltar, à pé, claro, com a bolha no pezinho da Cris. Podem rir.
À noite a Lourdes cumpriu a promessa de nos servir uma salada mista típica da região e um omelete caprichadíssimo.
Recebi um WhatsApp do Governador Paulo Hartung comentando sobre o blog. Fiquei super contente com sua generosidade e gentileza em escrever-me no final do seu expediente. Ele sempre surpreende com gestos de carinho e atenção. Tive o privilégio de ter sido Secretário de Turismo de seu Governo. Trata-se de um executivo moderno, visionário e que ama o que faz. Vive a sua missão de bem servir os capixabas 24 horas por dia, 7 dias da semana, honra a expressão “servidor público”. Uma rápida amostra do método de trabalho do Governador Paulo Hartung: como secretário, eu despachava direto com ele assuntos importantes da minha pasta. Conversa rápida, assertiva e definitiva, sem mi-mi-mi. Caso surgisse algum fato novo, o Governador ligava diretamente para discutir as providências ou convocava para uma reunião no mesmo dia. Certa noite, eu estava retornando do meu curso de Filosofia da UFES por volta das 21:00hs quando o telefone toca e era ele. Perguntou aonde eu estava, disse-lhe que estava indo para casa. O Governador pediu-me para que passasse na Residência Oficial pois tinha um assunto importante para falar comigo. Informei-o que estava de bicicleta e com meu uniforme de estudante de filosofia (calça jeans, sandálias Havaianas, camiseta Hering branca e surrada, e minha super bolsa de pano cru). Ao chegar à Residência Oficial parei minha bicicleta em frente ao portão da guarita de segurança. O segurança de longe perguntou o que eu queria. Marotamente, sem explicar nada, eu disse que queria falar com o Governador Paulo Hartung. O segurança com cara de poucos amigos perguntou – O quê?
Para não complicar a situação expliquei que era o Secretário de Turismo e o governador havia me convocado para uma reunião. Ele deve ter ligado para alguém para ter certeza que eu estava falando a verdade, liberando o meu acesso. Ao entrar no gabinete, o Governador recebeu-me com um sorriso de discreta aprovação pelo minha inadequada indumentária. A conversa foi rápida e eu fui para minha casa, que fica bem próximo dali. Assim é trabalhar com o Paulo (agora posso voltar a chamá-lo assim): muito trabalho, transparência, respeito e dedicação.
Ultreia e Suseia !
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