Inovação ou morte!
Inovação não deve ser visto como um projeto e nem mesmo como um dos pilares da cultura, mas como uma viga da cultura, que serve de sustentação para todos os pilares
Precisamos inovar não apenas no desenho de produtos, embalagens e tecnologia. É necessário pensar também na inovação “fora” das paredes das empresas. Créditos: banco de imagens
O fato de as empresas precisarem se reinventar de forma contínua e da Inovação ser a chave para garantir o futuro dos negócios, todos já sabemos. O que não sabemos com tanta certeza é como criar uma Cultura de Inovação e como fazer a gestão da inovação.
Vários são os desafios para estimular a inovação. Somos um país de criativos, mas precisamos nos transformar em um país de inovadores. Temos que aprender a transformar ideias criativas em valor. O baixo número de patentes que registramos é um dos indicadores do baixo grau de inovação das nossas empresas. O percentual reduzido da receita advinda de produtos e serviços gerados nos últimos 5 anos é outro.
Adoramos ter ideias novas, mas isso não é suficiente. Inovar significa criar e capturar valor. E o check list é simples: essa inovação que você está propondo vai reduzir custos? Aumentar a receita? Mitigar os riscos? Vai acelerar o retorno no investimento? Se, pelo menos, uma das respostas não for afirmativa, a novidade sendo proposta não é uma inovação, mas uma mera ideia criativa. A inovação que não gera valor causa desperdício de recursos – humanos, materiais e financeiros. Além disso, perde-se também o bem mais precioso – o tempo! Como no futebol, inovação útil é a que redunda em gol. Caso contrário é mera firula daqueles que gostam de jogar para a plateia e não para fazer os gols que decidem a partida.
O histórico com inovação de várias empresas bem-sucedidas é intenso e extenso. Em alguns casos, a inovação é até listada como um dos valores. Várias companhias possuem um “Departamento de Inovação” ou estruturaram a área de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D). Contudo, a inovação que o momento disruptivo e exponencial exige não cabe mais em um “departamento”. Inovação precisa ser uma missão de todos: da portaria à presidência. E deve ocorrer todos os dias, de forma sistemática, orgânica e não apenas espasmódica.
Nesse cenário, os desafios para os líderes são consideráveis. Como criar um ambiente de trabalho que inspire as pessoas a dar o melhor de si, todos os dias, expandindo a imaginação humana? Como transformar ideias em valor para clientes, acionistas, comunidades, colaboradores e parceiros? Como construir o futuro, enquanto garantimos o presente?
Precisamos inovar não apenas no desenho de produtos, embalagens e tecnologia. É necessário pensar também na inovação “fora” das paredes das empresas. E na reinvenção dos modelos de negócios. A guerra deixou de ser entre produtos, serviços ou entre marcas, passando, cada vez mais, a ser entre modelos de negócios que usam fatores intangíveis e extra-produtos para ganhar o jogo: meios de pagamento inovadores e inusitados; sistemas de distribuição e logística que eram impensáveis; e capacidade de processar dados em volumes extraordinários são alguns componentes que viram o jogo a favor de uma empresa em detrimento da outra.
A gestão da inovação não é uma questão apenas técnica ou de processos e sistemas. É muito mais uma questão de atitudes, posturas e de uma cultura, mas que exige disciplina. Muita disciplina. Inovação não deve ser visto como um projeto e nem mesmo como um dos pilares da cultura, mas como uma viga da cultura, que serve de sustentação para todos os pilares. Trata-se de um valor, que deve perpassar em toda a empresa.
O primeiro passo na gestão de inovação consiste na identificação e remoção das barreiras mentais internas, que aprisionam expressões inovadoras e nos mantêm reféns da velha forma de fazer as coisas. Precisamos nos livrar de certas “pérolas” do pensamento que constituem barreiras mentais à prática cotidiana da inovação: “em time que está ganhando não se mexe”; “cada macaco no seu galho”; “devagar e sempre a gente chega lá” etc.
Torna-se necessário desmistificar algumas percepções sobre inovação como, por exemplo, a de que seria um atributo natural de uns poucos privilegiados. Isso é uma herança perversa que procurou separar o pensar do fazer, o planejamento da ação, o dirigente dos dirigidos.
Na Era Industrial, os gênios eram caricaturados dentro de garrafas que os aprisionavam. Agora, precisamos libertá-los dos retângulos dos organogramas, das salas de aula e dos sofás em frente às televisões. O grande desafio para o “gênio” do futuro não será inventar um produto ou fazer uma descoberta científica. O trabalho “genial” será criar condições favoráveis para despertar e cultivar a “genialidade” em outras pessoas. Genial é a atitude de co-criação de soluções da empresa junto com seus clientes, fornecedores e parceiros. Co-criação será a nova fronteira da inovação. Será cada vez mais o nome do jogo!
Para finalizar, o investimento que fará a inovação acontecer será reflexo da consciência dos líderes sobre a necessidade de se reinventarem para não perderem a relevância. Esse movimento nos remete a três questões:
• Quantas patentes sua empresa registrou nos últimos cinco anos?
• Qual o percentual do item “capacidade de inovação” no valuation total da sua empresa?
• Qual a fatia da receita de produtos / serviços criados nos últimos cinco anos no faturamento total da sua empresa?
Peço que não se aborreça, caro leitor, mas sou forçado a fazer uma pergunta adicional, aquela que não quer calar: qual o prazo de validade da sua empresa se você não construir uma organização que seja tão ágil quanto a própria mudança e começar a liderar iniciativas focadas na cultura da inovação?
*Fonte: IstoÉ Dinheiro
Cesar Souza: Cofundador e Presidente do Grupo Empreenda. Membro Investidor do BR Angels. Membro do Conselho de Administração de diversas empresas e ONGs. Consultor, palestrante e autor de diversos bestsellers, com cerca de 500 mil livros vendidos, inclusive “Seja o Líder que o Momento Exige”. Foi considerado um dos 200 Global Leaders for Tomorrow, pelo World Economic Forum em Davos, Suíça. Souza é também Curador da Galeria de Líderes do Líder S/A.
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