Investimento-Anjo é coisa para Executivos?

7 dicas para começar a investir em Startups

Investimento-Anjo é coisa para Executivos? -


Imagem: Depositphotos

Muito prazer. Sou Orlando Cintra. Durante mais de 20 anos fui executivo de grandes corporações de tecnologia, como SAP, HP e Informatica Corp, e atuei em diversas posições como Presidente e Vice-Presidente para América Latina. Hoje sou Conselheiro de várias empresas, CEO e fundador da BR Angels, associação de investidores-anjo formada por mais de 100 CEOs de grandes empresas de diversos setores.

Muito prazer. Sou Agricio Neto, Executivo com mais de 30 anos de experiência em empresas de Telecomunicações e Consultoria Estratégica, fui CEO na Claro TV, Vice-Presidente de Marketing e Programação da SKY Brasil e Gerente Senior na Arthur Andersen/Deloitte) Atualmente, sou empreendedor, investidor-anjo e Membro Associado da BR Angels.

Você deve estar se perguntando:

- Por que dois executivos C-Level que lideraram grandes organizações decidiram se tornar empreendedores e investidores-anjo?

- O que os faz brilharem os olhos no ecossistema de startups?

- O que ganham com isso?

- Vale a pena colocar parte do capital que ganharam como executivos em um mercado de risco como o de startups?

Para responder estas questões temos que revelar um princípio de quem, como nós, decidiu mergulhar no oceano da inovação – It’s NOT all about Money!

Quem entra no mercado de startups em busca apenas de dinheiro fácil e tão somente com as vestes de investidor não só corre o risco de acabar se frustrando, mas deixará de desfrutar do melhor ativo que se pode extrair ao se aproximar e conhecer de perto estas empresas novatas e seus empreendedores cheios de sangue nos olhos: conhecimento.

Só quem vive o dia a dia de uma startup sabe o quanto se aprende todos os dias, sobretudo em como atravessar a ponte da transformação digital. Ao nosso lado, temos na BR Angels um universo diversificado de CEOs de grandes empresas dos mais variados setores, como varejo, bens de consumo, tecnologia, financeiro, educação e serviços. Todos embarcaram no investimento-anjo com um propósito principal – aportar, mais do que capital financeiro, capital intelectual, e, em troca, receber mais do que retorno financeiro, mas, principalmente, ter a chance de beber na fonte da inovação.

O maior desafio atual e futuro das grandes corporações está em manter suas posições de liderança e o market share conquistado. Especialmente agora no mundo pós-pandemia, não perder terreno depende essencialmente de quão capazes elas são de se reinventarem, desenvolvendo novos produtos e serviços que venham ao encontro das demandas destes novos tempos em que a tecnologia virou commoditie. Estar sempre na vanguarda é determinante para não ser engolido por uma startup em condições de fazer uma rápida disrrupção que irá enterrar seus modelos de negócios tradicionais que, da noite para o dia, se tornaram ultrapassados.

Enquanto estão sentados nas cadeiras de CEOs, os investidores-anjo ganham, e muito, ao compartilharem o que sabem e aprenderem o que não sabem com os empreendedores de startups. Olhando para o futuro, estão, no final do dia, fazendo um verdadeiro MBA que irá prepará-los para, ao deixar a vida executiva, se tornarem empreendedores e/ou gestores de um portfolio de startups que, inclusive, poderão render um bom dinheiro. Quem teve a chance de colocar um dinheirinho nos primeiros dias de negócios que acabaram se tornando unicórnios sabe bem disso ;)

Pesquisa feita pela Anjos do Brasil revelou que o investimento-anjo atingiu seu ápice no País. Na última década, o total aportado por investidores-anjo mais do que dobrou no Brasil, saltando de R$ 450 milhões para mais de R$ 1 bilhão em 2019, que registrou crescimento de 9% sobre 2018.

O ticket médio subiu de R$ 85 mil em 2011 para R$ 129 mil em 2019, um crescimento de 44%. No ano passado já havia 8220 investidores-anjo; no começo da década eram 5300, um avanço de 55%. Mas ainda há muito espaço para crescer. Os EUA têm quase 40 vezes mais investidores que o Brasil e o valor aportado em startups é 134 vezes maior.

Outro estudo feito pela On The Go com a Poli Angels revelou o perfil do investidor-anjo brasileiro – 25% investem há pelo menos cinco anos, outros 25% começaram entre 2015 e 2018 e os demais há menos de 2 anos, confirmando um crescimento recente do universo de anjos. Outro dado mostra o interesse de executivos na modalidade: 51% trabalharam em empresas antes de começar a investir. A preferência de 63% é por investir em grupo, como fazemos na BR Angels.

Em pouco mais de 1 ano investimos pela BR Angels em 5 empresas e devemos fechar 2020 com 7 investidas. Entre elas temos a MindMiners, de human analytics; a Chiligum, de automação de marketing; a Nvoip, de telecomunicações; a Home Agent, de call center em home office; e a VUXX, de logística.

Nosso intercâmbio com as startups nos traz a oportunidade de respirar inovação em segmentos diversos, agregando conhecimento em múltiplas áreas de negócio. Aquilo que aprendemos na carreira executiva é um insumo rico aos empreendedores, que aceitam de muito bom grado nossas mentorias na estruturação da gestão.

Se acha que a experiência e o conhecimento reunidos durante décadas de carreira não têm lá grande valia, está redondamente enganado. Para uma startup é ouro. Você tem muito a doar. E muito a receber. E mais: para fazer investimento-anjo não é preciso colocar milhões de reais na mesa. Com alguns milhares já é possível começar a investir e, mais do que isso, viver e aprender com o ecossistema de startups. Esta é, sem dúvida, a melhor forma de construirmos um Brasil melhor através do empreendedorismo.

Pense o quanto tem a ganhar e a oferecer fazendo investimento-anjo. Quem sabe não está aí o começo de uma nova jornada na sua carreira em um ecossistema anabolizado pela inovação. Tem uma moçada jovem lá fora ansiosa para aprender contigo e prontinha para te mostrar um mundo novo que, pode ter certeza, irá te abrir muitas estradas para conduzir a empresa que atualmente comanda com os dois pés no futuro.

O caso de Wlado Teixeira, Diretor Executivo e Head do Comitê de Seleção do GV Angels, mostra o quanto esta relação pode ser frutífera. Depois de ser executivo por mais de 20 anos no mercado financeiro, ele tornou-se empreendedor de uma fintech, que vendeu para Accenture em 2013. Desde então, dedica-se integralmente ao ecossistema de startups.

“A proximidade entre executivos de corporações com empreendedores é muito enriquecedora. Os executivos ganham jogo de cintura ao se aproximarem de um estilo de gestão informal e um modelo de negócios inovador. Os empreendedores, por sua vez, passam a entender a importância de incorporarem formalidade na gestão de suas startups, em particular na área financeira e controladoria, que frequentemente é relegada para segundo plano na gestão de startups. É uma relação ganha-ganha“, pontua.

Maria Rita Spina Bueno, Diretora Executiva da Anjos do Brasil e fundadora da MIA – Mulheres Investidoras-Anjo, concorda com Wlado: “Investir em startups é uma jornada usual para executivos de todo globo. Quando olhamos para alguns dos lugares mais inovadores do mundo, como Silicon Valley, Londres ou Tel Aviv, encontramos um contingente enorme de homens e mulheres que atuam como investidores-anjo. Sempre unidas a ganhar dinheiro, são muitas as motivações que levam essas pessoas a investirem em empreendedoras e empreendedores de negócios inovadores - retornar conhecimento para a sociedade, aliar capital e propósito e aprender sobre inovação são só algumas delas. Se quer ser relevante no mundo, torne-se um desses investidores você também! E, faça isso através de uma rede, já que esse é um espaço no qual boas práticas, conhecimento e oportunidades de negócios são encontrados”, acrescenta.

Para fechar, deixamos 7 dicas para que se torne um investidor-anjo:


Nunca invista sozinho: procure uma associação de investidores-anjo com a qual se identifique. Além de aprender com outros investidores, é mais seguro investir em uma startup que passou pelo crivo de vários analistas com anos de experiência em vários setores.
Não invista apenas buscando retorno financeiro: não esqueça que este é um investimento de risco e o ganho de capital não é o único valor que irá receber por ter apoiado uma startup em seus primeiros dias.
Aprenda com os outros investidores-anjo: converse com outros investidores-anjo mais experientes e procure aprender com seus erros e acertos.
Aprenda com as startups: converse com empreendedores que já receberam investimento-anjo e procure saber o que esperam e como poderá contribuir com sua experiência como executivo.
Aplique seu “SMART”: reserve um bom tempo para acompanhar, doar seu capital intelectual e dar mentoria às startups investidas. Este é o melhor proveito que pode extrair dos empreendedores: intercambiar conhecimento.
Aproveite o conhecimento para o mundo corporativo: se ainda está em uma posição executiva, procure buscar nas startups investidas as respostas que precisa para transformar sua empresa. Encare as startups como uma injeção de inovação. Fazendo isto você estará mais envolvido e comprometido com sua investida.
Não tenha pressa em buscar uma saída para seu investimento: aporte todo capital intelectual que puder para levá-la a um estágio mais maduro para receber um novo investimento de risco ou vender uma participação. Você não está em uma corrida de 100 metros.


E então? Vai começar a se aproximar da verdadeira inovação ou ficar aí parado num mundo que já não existe mais?

*Este artigo foi escrito em co-autoria com Agricio Neto, sócio-investidor da Cerveja Praya e do Raízs (alimentos orgânicos). Executivo com mais de 30 anos de experiência em empresas de Telecomunicações e Consultoria Estratégica, como Claro TV, SKY Brasil e Arthur Andersen/Deloitte. Atualmente, sou empreendedor, investidor-anjo e Membro Associado da BR Angels.



Orlando Cintra: Fundador e Presidente do BR Angels, grupo de investimento anjo com mais de 100 CEOs e empreendedores. Com especializações em Harvard e Stanford, foi Presidente e Vice-presidente Sênior para América Latina em grandes corporações como: SAP, HP e Informatica Corp. Orlando também é membro de diversos Conselhos de empresas como: Hyperloop, SMARTIe (Solví Participações), Portwork, SOLSTIC e LECOM Tecnologia.

Comentários