“Que importa se a distância estende entre nós léguas e léguas?”

O mundo é a nova fronteira de trabalho e não mais sua cidade

Com o devido respeito à genialidade do grande poeta Vinícius de Moraes. Ele, falando de amor, disse em 1933: “Que importa se a distância estende entre nós léguas e léguas”. Tomo emprestado, em 2020, seu pensamento para falar de trabalho, pois no instante em que pensei em escrever sobre este tema, de imediato veio à cabeça a frase que inicia sua brilhante poesia.

“Que importa se a distância estende entre nós léguas e léguas?” - O poeta, cantor e compositor Vinicius de Moraes. Foto: Internet
O poeta, cantor e compositor Vinicius de Moraes. Foto: Internet


O COVID-19 criou inúmeras barreiras físicas para todos nós, mas também nos ensina diversas coisas. Por que alguém que realiza uma função de back office, por exemplo, precisa estar pessoalmente presente em um escritório? Já percebemos que é totalmente possível haver compromisso dos colaboradores, ainda que estes estejam em suas casas. Ora, qual a diferença entre estar a 10 quilômetros da sede da empresa ou a 1000? Vamos além: a 10.000?

Por vezes, é requisito para uma vaga em São Paulo fluência em inglês, enquanto para uma vaga em Londres, ser proficiente no português. Neste sentido, qual o problema em uma empresa situada no Brasil contratar um londrino e outra inglesa contratar um paulistano, residentes em seus respectivos países?

As questões culturais, de pronto alguém trará à tona. Mas se este funcionário precisa do idioma em sua rotina diária, significa que se comunicará com mais frequência com outras pessoas mais próximas à sua cultura de origem, portanto pode desempenhar ainda melhor as atividades por entender com mais facilidade o estilo e a cultura de trabalho. Observando com ainda maior profundidade, falamos desde a década de 80 em globalização. Não seria dado o momento de colocarmos este conceito em prática na sua plenitude, em um movimento de aproximação cultural das diversas sociedades, de forma mais real e exponencial?

“Que importa se a distância estende entre nós léguas e léguas?” - As distâncias são cada vez menores em um mundo conectado. Imagem: Internet
As distâncias são cada vez menores em um mundo conectado. Imagem: Internet


Se empresas conseguiram através da globalização se tornar internacionais, o ser humano obviamente também tem a capacidade de ser um cidadão do mundo, abrindo seus horizontes e gerando novas possibilidades.

Para o filósofo, estudante de Bioprocessos e Biotecnologia, que residiu na Europa Oriental e nos Estados Unidos, Victor Bardeli de Carvalho “não existem portas fechadas àqueles que trazem consigo dons e boa vontade. A porta dessa vez, porém, abriu-se em uma tela. A tela que liga cada lugar do mundo com milissegundos de diferença se abriu ao mesmo tempo em que as portas das casas se fecharam. Nesse contexto, surge um impasse que para os determinados está resolvido. Esta expansão de fronteiras aumenta as oportunidades ou a concorrência?”, questiona. 

Provavelmente ambas, mas sem dúvidas mais oportunidades serão uma vantagem àqueles que estiverem mais preparados, sobrepujando o fator concorrência.

“Que importa se a distância estende entre nós léguas e léguas?” - Victor Bardeli de Carvalho. Foto: Arquivo Pessoal
Victor Bardeli de Carvalho. Foto: Arquivo Pessoal


Complementa Bardeli: “Fato é que essa quebra de paradigmas irá levar a mais um progresso exponencial na produção humana, análogo, mas de proporções ainda maiores ao advento da máquina à vapor. A única barreira que vejo seriam as legislações trabalhistas de cada país, ainda protecionistas. Entretanto, ainda assim, realmente é uma tendência mundial o encurtamento de distâncias a partir do aumento destas”.

São novos tempos e só poderemos avançar na prática ao percebermos que não há pré ou pós COVID-19, mas sim uma continuidade dos aprendizados deste momento que a humanidade vive e - em um breve futuro - simplesmente viveu, visto que deixará de ser o presente para ficar na história como tempos difíceis, mas de superação e progresso.  

 

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