SBT analisa “Casa Gucci”: um filme que deveria entender que, as vezes, menos é mais

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SBT analisa “Casa Gucci”: um filme que deveria entender que, as vezes, menos é mais -


Um império familiar glamuroso, repleto de histórias escandalosas, ganância, traições e até assassinatos. Se “Poderoso Chefão” tivesse um filho suntuoso e sem foco, seria “Casa Gucci”. Baseado no livro de Sara Gay Forden, o filme é um base picante para uma história lotada de extravagância, que narra a transição de poder e decadência da marca tão ilustre e renomada nas mãos daquela família italiana.

O segundo filme do diretor Ridley Scott do ano, após o superior (O Último Duelo) “Casa Gucci” conta a história da humilde, porém ambiciosa Patrizia Reggiani (Lady Gaga) que se apaixona por Maurizio Gucci (Adam Driver), um jovem estudante de direito e herdeiro da herança da marca de moda. Logo, apaixonados, o casal se casa, muito a contra gosto do pai de Maurizio, temendo que a mulher estaria interessada apenas em subir na vida utilizando o poder avassalador do sobrenome que dá título ao longa. Entendendo a dinâmica familiar e os conflitos que a cercam, Patrizia começa a se envolver cada vez mais diretamente nos negócios da família e com isso adentra nos ciclos mais íntimo dos Gucci. O diretor, logo de cara, já deixa claro o quão dicotômicos são os componentes daquele casal, na simplicidade de uma cena de dança, vemos todo o controle e voracidade de Patrizia, sendo contrapostos pela excessiva timidez e inocência de Maurizio, aspectos que serão determinantes no futuro do relacionamento, família e negócios.

“Casa Gucci” era inegavelmente um dos filmes mais esperados da temporada, muito por conta da imponência de seu fortíssimo elenco. Primeiro ponto a se destacar nesse quesito é a escolha do sotaque italiano na língua inglesa proferido pelos personagens, a sensação de imitação a filmes de máfia superiores do passado permeia por quase todo o longa, onde cada ator tem um cacoete vocal diferente para dar vida a um personagem ítalo. Conduzindo a trama, temos os personagens de Gaga e Driver, vemos de forma veloz o primeiro encontro, o despertar da paixão e o casamento dos dois, para então prestigiarmos de forma demasiada o drama que culminou com a marca Gucci fora das mãos da família em questão e em um grande crime. Como apêndices para o casal protagonista, temos Rodolfo e Aldo Gucci (Jeremy Irons e Al Pacino), irmãos que dividem a marca e trazem consigo a importância e tradição de ser um Gucci. Irons não faz muito, a não ser rejeitar Patrizia por ela não ser uma mulher com riqueza cultural e por conta disso desenvolve uma desavença com o filho Maurizio que seria resolvida sem muitos pesares anos depois. Aldo é quem acolhe a jovem e a ensina os maneirismos e importância de portar tanto um vestido Gucci, mas mais ainda o sobrenome Gucci. Completando o elenco, o destaque tanto físico, a maquiagem o deixa irreconhecível, quanto interpretativo, será lembrado em premiações: Paolo Gucci (Jared Leto). Um empresário fracassado que pensa ter o dom da criatividade estilística, porém a cada empreitada apenas desaponta ainda mais o pai Aldo. Divertido, Paolo trás vivacidade cômica em momentos que o filme se perde em meio a um melodrama familiar e mesmo com um arco diminuto, possui os melhores momentos do filme. Para finalizar Pina (Salma Hayek), uma descartável e mal desenvolvida conselheira de Patrizia, não tem como ir além disso.






Os problemas de “Casa Gucci” estão além do elenco, o acúmulo de informações que o roteiro decide transmitir para o público faz com que o filme se torne apressado demais, mesmo tendo um ritmo vagaroso, onde o sentimento de que as duas horas de quarenta pesam, porém não são suficientes. O longa precisa conciliar muitas questões ao mesmo tempo, como consolidação da marca, apresentação de vários personagens e seu desenvolvimento, apresentação de diversas problemáticas e intrigas familiares e um grande crime, em um “curto” período, onde começa a ficar claro, conforme a narrativa avança, que os cortes se tornam cada vez mais abruptos para que aquela história possa terminar de ser contata no tempo proposto pelo estúdio, fazendo com que transições de locação e passagem de tempo fiquem cada vez mais desconexas e confusas.

Mesmo despejando muitas informações relevantes de uma vez, sem muito polimento e cuidado, “Casa Gucci” não pode ser caracterizado com um filme restritivo, mas sim simplificado e objetivo de uma história que não deveria ser adjetivada dessa forma. Ou seja, ao sair da sala de cinema, a mensagem que fica é de que caso o espectador tenha se interessado pela contextualização histórica ou por algum personagem específico, ele deve então procurar mais informações ou na internet ou no próprio livro, pois o filme acaba se tornando apenas um modelo dessa que é uma coleção gigantesca. Mesmo com prato cheio de intrigas familiares, envolvendo jogos de poder, traição, o diretor se perde em tentar abranger o macro, onde se focasse no mínimo, a ótima relação entre Patrizia e Maurizio, certamente teríamos um filme menos desconexo, perdido e sem muito desequilíbrio.

“Casa Gucci” possui um elenco fortíssimo, uma história ainda mais poderosa, onde é difícil não se interessar rapidamente pela relação daquela família tão conhecida e saber o que levou a queda dos mesmos. Porém o diretor excede em ganância e prefere resumir em diversas cenas bruscas, subtramas que acabam por quantidade agirem contra a narrativa, tirando o foco do que realmente importa, acarretando em um desfecho inegavelmente frustrante, onde não se aprende muito mais do que já se sabia antes na sessão começar.

Nota do Crítico: 5.0

Nota Média do Público (IMDb): 7.1

Horários das Sessões Cineflix em Araçatuba, Shopping Praça Nova:

Dublado: 15h10 e 21h30
Legendado: 18h20
Classificação Indicativa: 14 anos

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