SBT analisa “Eduardo e Mônica”: a magia que é não existir razão nas coisas feitas pelo coração

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SBT analisa “Eduardo e Mônica”: a magia que é não existir razão nas coisas feitas pelo coração -


Amor verdadeiro é quando uma única alma habita dois corpos diferentes. Quando alguém diz que você completa ela e vice-versa, sabe, que nem feijão com arroz. A vida é em essência uma experiência melancólica, mas inegavelmente linda. E essa beleza está diretamente ligada a falta de sentido e imprevisibilidade que permeia nossa existência. Some isso as infinitas coincidências que sofremos a cada segundo que existimos e somos presenteados com encontros e desencontros, onde algum destes sem qualquer tipo de razão, desperta um sentimento diferente: o de estar realmente vivo.

O filme projeta em tela a história cantada pela banda de rock Legião Urbana “Eduardo e Mônica”, segundo projeto cinematográfico que expõe uma canção da icônica banda brasiliense, sendo o primeiro, o operante “Faroeste Caboclo” (2013). O roteiro, seguindo as batidas da melodia, nos apresenta a Eduardo (Gabriel Leone) e Mônica (Alice Braga), seres completamente distintos, que sem qualquer pingo de imaginação viriam a viver um romance digno de se tornar uma música ou até mesmo um filme. Eduardo abre os olhos, vê as horas, mas decide não se levantar. Mônica, do outro lado da cidade, toma um copo de conhaque bem como eles disseram. O filme abre com uma montagem, destaque em toda a projeção, flutuando entre a rotina e automaticamente as personalidades antagônicas dos dois. Alavancada por uma fotografia, novamente, incompatível, aconchegantemente abrasadora quando se dedica a mostrar Eduardo, um garoto sensível, bondoso e, principalmente, inocente. Com três minutos de rodagem, Du já é nosso amigo e desejamos tudo o que há de melhor para o garoto. Já ao evidenciar Mônica, os tons se tornam mais frios e acromáticos, devido as cicatrizes que a mulher possuia na vida. A trilha sonora brinca com as mesmas notas musicais da canção de Renato, porém ritmadas de forma diferente, o dedilhar mais apressado nas cordas do violão não só nos remete a melodia, mas também impõe e já deixa claro, logo de cara, que o filme terá sua própria identidade.  

Uma história de amor só é apaixonante se também apaixonar quem a presencia. Então a base de qualquer filme de romance, são seus românticos, e aqui, bem como o jovem Eduardo, nos rendemos no primeiro momento em que aquelas pessoas tão dicotômicas se cruzam pela primeira vez. Em uma festa, Eduardo é guiado, como se uma força superior o levasse até a futura mulher de sua vida. A partir deste momento, o roteiro toma suas liberdades, bem com em “Faroeste Caboclo”, para preencher as lacunas deixadas na música. O “primeiro e espontâneo encontro” do casal, nos leva a uma aventura por pontos turísticos de Brasília, outro excelente trabalho do longa em explorar os mais diversos cantos de seu cenário. Quando vemos que apenas alguns copos mais amargos e um holofote é o necessário para aquelas duas pessoas darem sorrisos sinceros, temos certeza de que estamos diante de pessoas verdadeiramente apaixonadas.






Mônica sabe exatamente quem é, ou acha que sabe e crê, em um primeiro momento, que nunca funcionaria uma mistura tão distinta de ingredientes, possivelmente pela experiência que tinha na bagagem da vida. Eduardo, experimentando o mais puro sentimento que é o primeiro amor, abandona sua timidez enraizada e em uma cena memorável faz o que muitos de nós deveríamos ter feito um dia para impressionar uma garota que gostávamos. Ao som de “Total Eclipse of the Heart”, o adolescente canta, em um péssimo inglês (pois ainda estava nas aulinhas) e encanta não só a irrefutável Mônica, mas toda aquela gente esquisita, naquela festa estranha.

Alice Braga parece ser incapaz de não ser ótima, seja o idioma que for, mas o belo português potencializa sua interpretação. Desde o primeiro olhar repleto de deboche ao último “eu te amo”, Mônica sempre impõe seu ar de superioridade para com o jovem Eduardo, mas não se engane, ela o ama de todo o coração, atuação que se encaixa no ponto certo para que o texto funcionasse como deveria. Gabriel Leone é encantador, a inocência do garoto o coloca em situações desconcertantemente constrangedoras, onde é impossível não deixar escapar um sorriso de complacência e se ver, ou querer ter se visto, na pele do jovem. Mas não se engane, o personagem possui um tom de mistério, pouco revelado, mas faz com que Eduardo se destaque tanto para Mônica, quanto para com o público, mesmo não tendo essencialmente sua própria voz. A junção dessas duas pessoas com características aparentemente incompatíveis é o motor que faz esse relacionamento funcionar, mesmo batalhando por grana e segurando as piores barras que viriam a ter. Mas o filme proporciona momentos distintos para que o relacionamento respire e cada um possar ter seu momento de explanar seus pensamentos que nos respondem alguns “por quês” que a canção não nos proporciona, nos deixando entender como fizeram o romance funcionar.

No elenco de apoio, temos um Otávio Augusto, interpretando o avô Bira de Eduardo, ele é escrito como um estereótipo de ex-militar indignado com as “modernices” dos jovens, apenas para uma cena de confronto bastante clichê e desnecessária para tentar mostrar ainda mais as diferenças do casal, que já estavam bem pavimentadas até então. O destaque recai por completo em Victor Lamoglia, o Inácio, melhor amigo e voz da razão hilária de Eduardo, mesmo a história não sendo sobre ele, nos momentos em que o garoto sai de cena, sempre deixa saudades.

“Eduardo e Mônica” em diversos momentos é inegável e inevitavelmente clichê, por isso eu não poderia ter começado esse texto de forma menos piegas, porém o que é o amor senão um amontoado de momentos que nos tornam cada vez mais patéticos? Seja uma advogada cautelosamente destemida amante de cachorros e um jornalista deprimidamente cômico aficionado por cinema ou uma médica apaixonada por Nouvelle Vague e um estudante jogador de futebol de botão, fica claro que não existe razão nas coisas feitas pelo coração.

Nota do Crítico: 7.0

Nota Média do Público (IMDb): 7.4

 

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Nacional: 16h30, 19h00 e 21h30

Classificação Indicativa: 14 anos

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