SBT analisa “Eternos”: felizmente um filme da Chloé Zhao? Não, infelizmente mais um filme da Marvel!

O filme está em cartaz em todas as salas Cineflix do Brasil

SBT analisa “Eternos”: felizmente um filme da Chloé Zhao? Não, infelizmente mais um filme da Marvel! -


O anúncio da diretora merecidamente reconhecida e premiada na temporada que se passou, Chloé Zhao, para performar atrás das câmeras do novo filme do universo Marvel, além da obrigação de escrever esse texto, foi o único fator que pôde despertar uma fagulha de expectativa em meio ao afogamento em um oceano de indiferença em que eu me encontrava perante ao universo. Se nem mais personagens canônicos da editora me chamavam à atenção ou geravam um sentimento de curiosidade para ver o próximo trabalho tela, esses, aos quais eu não conhecia, não fiz questão de conhecer antes de ver o filme e muitos menos me despertaram curiosidade de me aprofundar em suas histórias, passaram perto de fazê-lo.

Zhao assina a direção, mas quanto mais o caminhar da narrativa progride, mais vemos que nem mesmo uma diretora vencedora da maior honraria da sétima arte é capaz de se sobrepujar a um estúdio formuláico e novamente conservador, onde sua assinatura é apenas notada no trabalho visual do longa. Todas as, previsíveis, batidas narrativas estão presentes. É quase impossível não notar a cada sequência uma similaridade com filmes do passado, muito menos esperar ser surpreendido, o que geralmente ocorre nos novos pilares dos filmes da Marvel: suas cenas pós-créditos e aqui não é diferente.

“Eternos” seque um grupo de heróis que protege a Terra desde os primórdios da civilização contra os Deviantes, uma raça animalesca e fatal de alienígenas predadores. Após séculos de um hiato, com a volta das criaturas assassinas, o grupo precisa se reunir para evitar que o pior aconteça com a raça humana. O principal problema de “Eternos” é ser um filme de origem, ainda mais a origem de mais de meia dúzia de personagens e personagens totalmente desconhecidos para o grande público. Nem as mais de duas horas e meia de rodagem dão conta de apresentar de forma contundente e desenvolver os mesmos.






Diferentemente do que a diretora abordara em seus trabalhos anteriores (Nomadland, Domando o Destino), onde o enfoque recaía em apenas um, ou no máximo dois personagens a serem rapidamente apresentados e gradativamente desenvolvidos durante a narrativa, aqui a, indesejável, mas inegável pressa acaba, como diz o jargão, sendo a inimiga da perfeição. Somos apresentados logo de cara ao grupo em ação, podemos ver seus poderes, juntamente com a ameaça que os cerca. Já fica claro as questões hierárquicas tanto em batalha, quando como mini sociedade que são.

Encabeçando o grupo, Ajak (Salma Hayek), com poderes de cura é uma espécie de figura materna ao grupo, que se apoia em suas conversas com o celestial Ashirem para tomar a próxima decisão. Ikaris (Richard Madden) é o mais poderoso, um genérico Superman, e o típico super soldado cegamente fiel as ordens que recebe, ao qual terá um conflito entre amor e responsabilidades. Sersi (Gemma Chan) é o destaque do grupo, com mais camadas a serem exploradas. O momento mais intimista, assinatura da diretora, está entre ambos, cena visualmente sem precedentes no universo, mas que denota uma tentativa da diretora de evidenciar os traços mais humanos naqueles tão poderosos seres. Kumail Nanjiani, Kingo, é o previsível alívio cômico.  O filme, aparentemente, não satisfeito com apenas uma veia, cria um sistema cômico. Kingo tem uma espécie de apêndice, seu mordomo Karun (Harish Patel) que além de complementar as jocosidades do mestre, também cria tempo para proferir suas próprias. Somados a Phastos (Bryan Tyree Henry), temos quase um show de stand-up comedy de grupo. Para o parágrafo não se tornar eterno, os outros personagens, com exceção de Druig (Barry Koeghan) e Thena (Angelina Jolie) que possuem certas nuances que podem vir a serem exploradas sempre futuramente, são unidimensionalmente desinteressantes, ou simplesmente por serem caricaturas de personagens mais cativantes e ilustres, ou pelo filme não ter tido tempo de desenvolvê-los melhor, escolha o que melhor lhe servir. Bem como o filme, quase me esqueci de Kit Harington, que tem cerca de quatro linhas de diálogo e nada a oferece, por ora, pois sabemos a adubação eterna para colheitas futuras que são os filmes da Marvel.

Possuindo uma narrativa repleta de flashbacks, previsivelmente engessados, contribuindo ainda mais para o desvinculo público/personagem, o trabalho de tentar se conectar com um deles é árduo e dificilmente irá funcionar, a menos que você tenha algum traço de personalidade similar, pois o trabalho de representatividade está lá e pode-se dizer que funciona. Com o twist de ameaças já no terceiro ato, o filme ganha uma pequena vivacidade e gera um mínimo de interesse, pois os Deviantes são simplificadamente derivados. A montagem de “Eternos” é deficiente, onde a diretora sempre presente em tal processo criativo de seus filmes, desta vez, em seu maior projeto, ficou de fora, o que pode ter gerado tais problemas ao aspecto técnico do filme, o tornando repetitivamente cansativo. O filme tem boas cenas de ação, bem produzidas, com efeitos gráficos de encher os olhos, porém com o investimento disponível, eu não consigo ir além de dizer que fora feito o mínimo esperado. Diferementemente de “Pantera Negra” (2018), onde a fórmula Marvel está presente, mas a visão criativa e temática do diretor segue sempre evidenciada, em “Eternos”, Zhao fica nas sombras do estúdio, onde a sensação de que o filme é da diretora se passa apenas em pouquíssimos momentos durante as intermináveis quase duas horas e quarenta minutos.

“Eternos” é um filme de introdução que mesmo tendo um resumão ala Star Wars nos primeiros minutos de sua amostragem, perde tempo demais apresentando toda àquela equipe, salve exceções, bem desinteressante e descartável, onde o fardo de ter que manter a tocha acessa após as primeiras fases do universo Marvel recair sobre estes novos personagens (não me refiro apenas aos Eternos), torna tal missão bem mais hercúlea do que proteger a humanidade por mais de sete mil anos.

Nota do Crítico: 5.0

Nota Média do Público (IMDb): 6.8

Horários das Sessões Cineflix em Araçatuba, Shopping Praça Nova:

Dublado: 18h30, 21h40

Dublado (sala 4K): 15h20, 18h50, 22h00

Legendado: 21h50

Classificação Indicativa: 12 anos

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