SBT analisa “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa”: Momentos de apoteose inseridos em uma bagunça mal-escrita

A estreia mais esperada do ano está em cartaz em todas as salas Cineflix, corra para conferir

SBT analisa “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa”: Momentos de apoteose inseridos em uma bagunça mal-escrita -


O Homem-Aranha foi meu primeiro contato com o universo dos super-heróis. Uma ex-namorada, dando fim em coisas velhas da casa dela, encontrou uma revista do personagem e, acertadamente, ao invés de jogar no lixo, me presenteou. Eu rapidamente li aquele quadrinho edição 128 e mesmo sem qualquer tipo de contextualização me apaixonei. A partir daquela pontual sexta-feira, o jovem eu dedicaria muitas horas ao prazer de folhear as mais diversas páginas coloridas, tudo isso graças ao amigão da vizinhança. Aquele “jovem João” ficaria horas numa fila para ter a oportunidade de ver um de seus heróis favoritos ser transposto das pequenas páginas, para a gigantesca tela. Porém aquele menino cresceu e devido a grandes responsabilidades da vida, abandonou o velho hábito de ler quadrinhos. Hoje, bem mais malcontente e desanimado é incapaz sentir euforia diante de filmes como esse, porém mesmo com indiferença, fui com boa fé ao cinema.

“Sem Volta para Casa” dá continuidade exatamente onde “Longe de Casa” havia terminado. Mysterio revela que Peter Parker (Tom Holland) é o herói aracnídeo, o que obviamente deixa a vida do garoto pendurada de cabeça para baixo. Rapidamente, o filme já demonstra os percalços que serão enfrentados tanto por Peter, quanto por aqueles que o amam: MJ (Zendaya), Ned (Jacob Batalon) e May (Marisa Tomei). Após Ned e MJ serem rejeitados no MIT pelo simples fato de estarem associados ao nosso herói, Peter decide por um plano em ação. O “bruxo” que ele conheceu quando salvava metade das vidas existentes poderia lançar um feitiço para que todos esquecessem sua identidade secreta. Mesmo sabendo todos os perigos, Dr. Strange (Beneddict Cumberbatch) aceita o pedido. Durante a conjuração, algo dá errado e os vilões do personagem, de outras realidades, começam a aparecer.

Como os trailers e informações vazadas já haviam revelado, somos soterrados por uma avalanche de mitologia do aranha, esse é um filme que se dedica exclusivamente a golpear seu lado afetivo, mas esquece que com grandes poderes com é a nostalgia, vem grandes responsabilidades. A partir da chegada dos vilões, alguns muito marcantes, outros nem tanto, é que o roteiro começa a dar indícios de que foi escrito foi uma criança de seis anos bastante criativa. Começamos com a problemática que poderia ser evitada com meia linha de um texto bem escrito, mas o que seria dessa década de Marvel sem as mais galhofas facilitações narrativas, não é mesmo?!






“Lembrando que você está escrevendo sobre um filme de heróis.” me escreveu um amigo, fã do universo, provavelmente temendo um possível escarnio da minha parte para com o longa. É inegável dizer que “Sem Volta para Casa” possa ser adjetivado como divertido, bem-humorado e até grandioso, contudo, não creio que as palavras formidável ou excelente se encaixem aqui. Mesmo partindo do pressuposto de que um “filme de herói”, teoricamente, não deva conter camadas, nuances ou ser ambíguo, um roteiro como o desse filme é descredibilizar a inteligência de qualquer espectador. Tudo que envolve decisões práticas e objetivas são incoerentemente discrepantes com qualquer senso de realidade, até mesmo para uma obra que conta a história de uma pessoa que adquire poderes após ser picado por uma aranha.

 

Esse aspecto do filme é tão incomodo que acaba afetando até mesmo uma de suas melhores qualidades, e não poderia ser diferente, as cenas de ação. Mesmo com o polimento de uma ótima computação gráfica e coreografias dignas de serem retiradas de uma splash page, mas com o orçamento disponível, eu não consigo elogiar mais do que o jargão “não fez mais que a obrigação”, onde  a proveniência e desfecho das mesmas são extremamente contraditórios, onde você pega se perguntando: “Mas esse personagem, por ser quem é, não deveria prever que isso iria acontecer?” ou “O filme quer mesmo que eu acredite que esse personagem tem chances de lutar e até vencer esse outro?”. Mas mesmo com todos esses problemas narrativos, “Sem Volta para Casa” faz um ótimo trabalho em suas batalhas.

Não posso citar os grandes embates sem dissecar seus combatentes, mesmo que a maioria deles não tenha muito o que eu dizer. Do lado vilanesco sem muito a fazer, apenas sendo o brutamontes do grupo com duas linhas de diálogo para denotar seu propósito ridículo e claro motivo de chacota do grupo, temos o Lagarto (Rhys Ifans). Na mesma proporção, porém um pouco mais incompreendido, o Homem-Areia (Thomas Haden Church). Electro (Jamie Foxx) tem seus momentos, como a maioria do elenco também possui, proferindo uma piada, porém com toda a (sentido aranha detectou um trocadilho) energia carismática de Foxx, quase sempre funcionam. Os destaques começam com Dr. Octopus (Alfred Molina), carregando um humor proveniente de uma raiva confusa, o tom aqui é assertivo quando Molina precisa ser a jocosidade da vez, quanto quando necessita impactar emocionalmente envolvendo-se com outro personagem específico. Mas o holofote recai todo sobre Willem Dafoe, o Duende Verde. A insânia emergente gera um senso de desconfiança a todo momento que Norman Osborn está em tela e quando a loucura escapa, somos presenteados com uma interpretação repleta de insanidade progressiva. O senso do hiato de Dafoe como Duende passa de 19 anos para 19 minutos em questão de duas cenas.

Já como mocinhos, serei bem sucinto com o elenco de apoio para me focar no trio que realmente interessa. Ned é digressivo demais, já há muito espaço para humor, o personagem acaba ficando descolado em meio a tantas tentativas de fazer rir. MJ dita as batidas narrativas mais românticas, onde o amor outrora adolescente se torna mais cativante e abrasador, pode ser que alguém de coração mais mole se emocione com o beijo final do casal, eu não. May não tem o impacto de um Tio Ben e em seu momento mais grandioso, a previsibilidade se pendura mais alto do que a força da excelente frase de efeito dita.

E o Homem-Aranha? E os Homens-Aranha!

A reunião finalmente aconteceu. Holland, Garfield e Maguire juntos. Todos os aspectos do filme a partir da reunião se catapultam, onde somos brindados com tudo aquilo que se esperava: referências a filmes passados do personagem, quadrinhos, memes de internet, a geração Z certamente transformará as salas de cinema mais silenciosas em estádios de futebol argentinos dos anos 90. O ponto mais alto e orgástico é, de longe, mesmo que pequena, a interação entre Garfield e Maguire, a amizade parece vinda de fora das telas, o que, infelizmente, deixa Holland um pouco intrusivo e estabelece de vez que o mesmo é apenas o terceiro melhor Homem-Aranha do trio. Se fui intolerante com o roteiro do filme, fica aqui minha exaltação: Tobey Maguire não tem uma linha de diálogo ou passagem que seja desaproveitada, tudo que envolve o primeiro e melhor Aranha funciona magistralmente. Seguido por um Andrew Garfield que possui um charme subjacente e um tom mais galanteador que contrasta perfeitamente com a persona do Peter Parker de Maguire. Atrás dos dois, Tom Holland, não me entendam mal, ele é um bom Homem-Aranha, mas ao lado de seus dois antecessores, lhe resta o coadjuvantíssimo.

Como eu havia dito no primeiro parágrafo, hoje, bem mais deprimido do que o jovem eu que adentrou a este universo de heróis vários anos atrás, é difícil eu me empolgar com um produto que está se tornando cada vez mais pasteurizado, porém mesmo com todos os inúmeros problemas que “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa” possui, o filme teve o heroísmo de despertar em mim um sentimento que não experimentava há tempos: o de querer chegar em casa, abrir aquelas caixas de papelão e folhear novamente aqueles velhos quadrinhos que um dia me proporcionaram tanta felicidade.

Nota do Crítico: 6.0

Nota Média do Público (IMDb) 9.2


Horários das Sessões Cineflix em Araçatuba, Shopping Praça Nova:

Dublado: 14h30, 15h45, 17h30, 18h45, 20h30, 21h45

Dublado 4K: 16h00, 19h00

Dublado 3D: 22h00

Legendado: 15h30, 18h30, 21h30

Classificação Indicativa: 12 anos

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