SBT analisa “O Esquadrão Suicida”: todos merecem uma segunda chance

Fiquem atentos, o filme tem cena pós-créditos

SBT analisa “O Esquadrão Suicida”: todos merecem uma segunda chance -


O novo filme da DC Comics, dirigido por James Gunn, sequência direta de “Esquadrão Suicida” (2016), tem uma certa peculiaridade, já que em poucos momentos você se pega comparando os dois filmes, já que este é quase um reflexo do trabalho de Gunn no estúdio rival: “Guardiões da Galáxia”. Heróis, ou algo que se aproxime disso, de baixo escalão da editora, com diversas divergências, que precisam se unir por um motivo maior para derrotar um ser alienígena destruidor de planetas.  Existe um fator latente desde o primeiro take do longa, que é a falta de identidade, porém, em momento algum se torna um problema do filme, já que tal característica no universo, seja ele qual for, de super-humanos já é um fardo carregado há, pelo menos, uns cinco anos.

A primeira coisa a ser deixado claro em “O Esquadrão Suicida” é a total repaginada que o estúdio teve para com o grupo. Os protagonistas do “primeiro filme” que não morreram, já são rapidamente descartados na sequência de abertura, a menos, claro, que um deles seja um personagem importante para as questões de bilheteria e seja interpretado por uma atriz mundialmente conhecida. Sequência que já deixa claro que pela classificação indicativa ser mais alta, o diretor pode aproveitar mais a visceralidade e os barris de sangue para compor suas sequências de ação. Após a morte tragicamente planejada por Amanda Waller (Viola Davis), a chefe remanescente do filme de 2016, que ainda tem a mesma função: recrutar super criminosos para realizar missões impossíveis, do restante da equipe principal, somos apresentados ao novo time de bandidos suicidas.

Neste quesito, temos uma fusão entre elementos do primeiro filme do universo e do já supracitado “Guardiões da Galáxia” (2014). Se antes tínhamos um super assassino especialista em armas de fogo e combate corpo a corpo para comandar o grupo de vilões/heróis (viróis ou herões?), aqui não é diferente. Ao invés do Pistoleiro, temos Sanguinário (Idris Elba) que além de ter problemas paternais, bem como seu antecessor no posto, se difere apenas, pois possui fobia a ratos. No grupo temos também Caça-Ratos 2 (Daniela Melchior), caso esteja se perguntando, o primeiro era o pai dela. Será mesmo que preciso perder tempo escrevendo o que ela faz e por que ela está presente no grupo, vide que a veia cômica é bastante aflorada no roteiro, acho que não, né?! Além dos dois, temos Bolinha (David Dasmalchian), que após problemas com mãe se torna o vilão, que tem poderes e participação tão incríveis como sua alcunha vilanesca. É evidente que não poderia faltar o ex super astro de luta livre em decadência no pro wrestling que tenta carreira em Hollywood, nesse caso, John Cena interpreta o Pacificador, um homem que após problemas com o pai se tornou um violento mercenário. Para finalizar a trupe, Tubarão-Rei (Sylverter Stallone), e para eu não perder mais tempo, misture o Hulk dos “Vingadores” (2012) e Slot de “Goonies” (1985) e você tem esse personagem. Novamente, o que ele faz e seu propósito de existência no filme já ficaram bem claros, né?! “O Esquadrão Suicida” não perde tempo tentando mandar uma mensagem ao público, mas a que fica é evidente: cuide bem dos seus filhos.

Bom, grupo formado, chips explosivos implantados em suas nucas, as instruções dadas são simples: termine a missão. Se tentarem escapar, Boom! Se não obedecerem a alguma ordem. Boom! Discorde de Waller, Boom! Ao mesmo tempo em que os “antigos personagens” e alguns outros novos que não tem importância alguma, sem ser um mero fan service para mega fãs da franquia, estão sendo massacrados de um lado da praia de Corto Maltês, os novos protagonistas desembarcam do outro lado da ilha para darem continuidade às ordens da chefona. Após outra sequência extremamente violenta, pontos altíssimos do filme quando ocorrem, mostrando com excelência a capacidade de cada um dos integrantes, o grupo se une ao patriótico soldado Rick Flag e a personagem que sobreviveu à carnificina anterior por ser quem é, Arlequina. Todos unidos e amando se odiar, dirigem-se para tentar destruir uma ex base militar nazista que fica no coração da ilha que surpreendentemente revela-se ser a casa de uma estrela do mar alienígena gigantesca. Sim, um caos!

A partir daí, com um roteiro básico, Gunn muito ajudado pelo seu elenco, consegue extrair o que de melhor espera-se de um grupo de personagens, seja ele qual for (super-heróis, mercenários, adolescentes, crianças...): suas interações. Todo o carisma de Will Smith que ajudava muito a segurar, pelas pontas dos dedos, o roteiro do filme de 2016, cai sobre o colo de Elba, que faz um trabalho extraordinário em conseguir ser imponente e cômico ao mesmo tempo, mesmas palavras para Cena, porém em menor escala, pois o humor é mais físico do que escrito. Margot Robbie, faz um bom trabalho como a sexy degenerada do grupo e podem ficar tranquilos, o corpo da atriz está completamente coberto, diferente do, dito por muitos, figurino sexualizado do primeiro filme, entretanto, em contrapartida os closes em homem musculoso de cuecas volumosas são acrescidos e é claro nem serão polemizados. Vai entender essa coerência do público. Rei-Tubarão funciona muito bem como alívio cômico da comédia (isso existe?), a soma conflituosa das características psicológicas (violência e solidão) e sua fisicalidade desengonçada culmina no personagem inesquecível, e, é óbvio, também pois ele é um tubarão que anda. Bolinha e Caça-Rato 2 tem menos espaço, mas seus dramas são abordados de forma objetiva e que faça sentido suas motivações para lutar pelo bem, já que estes são os menos vilanescos.

Bem como vários outros filmes de heróis “modernos”, “O Esquadrão Suicida” se torna repetitivo rápido demais, mas mesmo soando desta forma, o elenco, o tom, dessa vez assertivo e, principalmente, o derramamento de sangue ajudam a deixar o expectador investido nem tanto na história, mas sim no grupo, suas relações e seus embates como equipe. A falta de ambição ecoa mais alto no alto final, onde, novamente, o já não impactante vilão gigantesco derrubando prédios como se fossem dominós torna o desfecho da batalha final um pouco anticlimática, mas não tira a maestria acrobática que ela toda é conduzida. “O Esquadrão Suicida” possui um universo que reflete a si mesmo com obra, se até as mais terríveis pessoas tiveram a oportunidade de receber uma segunda chance para fazer algo de bom, o universo desse filme também recebeu essa oportunidade, e fez valer a pena.

Nota do Crítico: 7.0

Nota Média do Público (IMDb) 7.9

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