SBT analisa ‘Malévola: A Dona do Mal’: mais uma sequência que se perderá no oceano do genérico?



JOÃO MARCELO MORAES - DE ARAÇATUBA

Cinco anos após os eventos de ‘Malévola’ de 2015, a, agora, rainha Aurora está prestes a se casar com o príncipe Phillip para tentar reunir seus reinos e trazer paz. Durante um jantar de celebração entre as famílias dos noivos, Malévola dá um chilique, todo mundo briga, temos o nosso filme.

A direção aqui é do norueguês Joachim Ronning e ele dirigiu a quarta sequência de Piratas do Caribe (2017) e ‘Bandidas’ (2006) que são quase inassistíveis. E aqui ele não faz nada de mais em relação a direção, propriamente dita, é só operante. 

O bom aqui é a criação de mundo, que além de expandir os conceitos concebidos no filme de 2015, também apresenta várias novas ideias em relação a povos, reinos e mitologia daquele universo. O diretor consegue bem enquadrar a beleza de suas paisagens e a computação gráfica é bem utilizadas aqui, seja no cenário ou nos personagens, consegue-se ver peso e textura, principalmente, nas criaturas. Outro ponto positivo aqui são os figurinos, pelo menos, todos os da Malélova são muito bonitos e a cor escura e caliginosa contrasta e sempre a destaca em meio a uma cinematografia matizada.

 Mas é a partir daí que começam os problemas.

O diretor parece não ter tido aula de ritmo na faculdade de cinema, em nenhum momento o ritmo do filme é consistente. Como eu citei, são apresentadas novas ideias daquele universo, mas elas são apenas jogadas ao público, não há nenhum desenvolvimento sobre elas. Novas criaturas aparecem, reinos, e em nenhum momento o filme se importa em explicar quem eles são, de onde vem.

Chegamos então ao roteiro do filme, e que anarquia. Não tem problema nenhum o fio condutor da narrativa ser o mesmo de outros seis milhões de filmes, se for bem feito, claro. 

Aqui temos a mesma historinha de ‘Avatar’, ‘As Crônicas de Nárnia’, Jonh Carter: Entre dois Mundos’ (e seu eu ficar citando exemplos não termino o texto hoje). Um protagonista deslocado em seu meio, que precisa decidir de que lado está e um povo superior querendo eliminar o nativo e mais fraco.   

Só que o roteiro é tão porcamente escrito, com tantas, mas tantas facilitações narrativas que mesmo o filme sendo da Disney, chega a ser um insulto à inteligência de uma criança de quatro anos. Sem falar as inúmeras sequências sem significado nenhum para o desenvolvimento da trama, que deixa a duração de 1h e 58m de filme quase um desafio de achar posições na poltrona para ficar assistindo.

A Angelina Jolie mesmo sendo subaproveitada, se o filme chamasse ‘Casamento de um casal sem química e uma mãe desvairada’ faria muito mais jus ao filme, é ótima, a fisicalidade colocada na personagem acrescida a uma sensualidade insólita faz de Malévola a melhor coisa do longa. O problema aqui é que a essência de maldade da personagem que já se esvai um pouco ao fim do filme antecessor aqui é jogada de lado, pode-se argumentar que é o arco dramático da protagonista, pelo excesso de falhas que o filme tem e pelas incontáveis tentativas de piadas forçadas que ela reproduz, prefiro crer que foi escolha do, péssimo, roteiro descaracterizá-la de tal forma. Felizmente Jolie tem talento, o que ajuda bastante.

O resto do elenco também é muito prejudicado pelo roteiro. Elle Fanning (Aurora) consegue ter alguns momentos dramáticos, mas é resumida a donzela apaixonada e sempre confusa com o que está acontecendo. Sam Riley (Diaval) é o alívio cômico e não funcionou, pelo menos comigo não. Ainda temos Chiwetel Ejiofor fazendo nada, poderiam economizar verba e colocar uma pessoa da equipe técnica mesmo, porque qualquer um consegue fazer cara de sério e falar frases de efeito que não causam impacto.

Se Jolie tira leite de pedra com sua personagem, Michelle Pfeiffer tira Merlot de pedra aqui. Qualquer outra atriz no papel seria uma calamidade, mas Pfeiffer consegue transformar a persona mais estupidamente genérica desde o Lobo da Estepe em ‘Liga da Justiça’, em algo assistível. Para um vilão funcionar você precisa crer em suas motivações e aqui a personagem é apenas idiota. Ela vê algo e só reage, vê algo e decide que não gosta sem quaisquer motivos ou explicação aparente. Sorte que Pfeiffer aceitou participar da brincadeira.

O diretor ainda tenta, no terceiro ato, durante a batalha final passar a sensação de épico ao filme. Ronning mira Ben-Hur de 1959 e acertou em cheio na versão de 2016.

‘Malévola: Dona do Mal’ tem uma beleza estética inegável e uma boa protagonista, mas é muito maior do que o necessário, destrói um elenco super talentoso, tem um roteiro genérico, derivado e principalmente caótico e a pouca vergonha de tentar se levar a sério no terceiro ato. Malévola é mesmo a dona do mal e que mal é esse filme.

 

Nota: 3,0

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