A cidade sem motoristas

A cidade sem motoristas -


Startup da Embraer que desenvolve uma espécie de táxi voador – um eVTOL (sigla em inglês para veículo elétrico de pouso e decolagem vertical) –, a Eve estreou na bolsa norte-americana com uma carteira de US$ 5,4 bilhões em pré-encomendas. Paralelamente, big techs como Google e Apple junto com tradicionais montadoras testam carros autônomos nos EUA e na China. São pelo menos 600 empresas que investiram mais de US$ 50 bilhões para inventar veículos que se guiam sozinhos, e que podem mudar radicalmente a dinâmica urbana.

O simples fato de os ocupantes das máquinas não precisarem se concentrar na condução delas já provoca uma reconfiguração das cidades. Os cidadãos poderão fazer reuniões ou dormir enquanto o veículo os leva, sozinho, a seus destinos. É bem provável que tornar o deslocamento confortável de tal maneira estimule o surgimento de moradias cada vez mais afastadas dos centros urbanos e reduza a demanda por viagens de avião. Além disso, outdoors e grandes fachadas perdem a função se ninguém olha pela janela.

Os sistemas de comunicação entre os veículos sem motorista organizarão, em conjunto, o trânsito, com os próprios carros tomando decisões sobre velocidade da frota, trajetos e economia de energia. Assim, será possível cortar drasticamente congestionamentos e transformar áreas hoje destinadas a carros e motos em espaços públicos, zonas comerciais e bolsões verdes.

E mais, a maioria das companhias que testam veículos autônomos aposta em modelos de assinatura e não na compra dos produtos pelo consumidor, dado o alto custo de tecnologia embarcada. Ora, se as pessoas não terão mais carro próprio, para que servirão as garagens dos prédios? Na Califórnia há novos edifícios que preveem a transformação de estacionamentos em apartamentos.

Ao longo dos séculos diferentes fatores dirigiram o crescimento das cidades. A urbanização de Hong Kong sofreu influência dos surtos de doenças e a cada epidemia a ex-colônia inglesa promoveu novas regras de construção de forma a aumentar a ventilação nos bairros. Há cidades cujo desenvolvimento se deu em torno de instalações militares, outras por conta da proteção contra vulcões. As do Ocidente, principalmente, cresceram a partir do uso de automóveis a combustão. Agora se apoiarão na evolução da mobilidade para veículos autônomos.

Embora em lugares como Phoenix nos EUA seja possível usar hoje um robotáxi sem motorista e diversas startups afirmarem que os primeiros eVTOLs começarão a fazer o transporte de pessoas a partir de 2024, há um longo caminho até tais operações se tornarem comerciais. A maioria dos especialistas em mobilidade urbana prevê veículos autônomos nas ruas e nos céus das metrópoles só na década que vem.

Precisamos, no entanto, pensar desde agora nas oportunidades e nos impactos dos veículos autônomos sobre a vida nos grandes centros. Se derem certo, eles irão redesenhar a urbanização das cidades, as atividades comerciais e diversas indústrias, assim como fizeram os carros a partir de 1910.



Wladimir D’Andrade é jornalista, empresário e especialista em inovação

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