Raul Gazolla infartou 4 vezes :como isto é possível e por que ele não morreu?

Em dezembro de 1992, a atriz Daniela Perez foi brutalmente assassinada por um outro ator e sua esposa. Daniela era casada com o ator Raul Gazolla. Daniela, Raul e o assassino contracenavam na mesma novela e eram aparentemente amigos.

Quando o crime foi desvendado, o impacto, em termos de estresse, foi colossal na vida de Raul Gazolla e o mesmo partiu para uma nova filosofia de vida, baseada em prática intensa de atividade física, aprendizado de lutas marciais e busca de um perfeccionismo físico inimaginável.

Certamente esta mudança de filosofia de vida poderia ter tido os melhores desmembramentos caso houvesse  a concomitância de paz de espírito e plena serenidade. Mas não foi assim, visto que Raul acumulava em seu âmago profunda angústia e uma ferida que não cicatrizava. Seu corpo seguia um determinando curso totalmente oposto aos pensamentos e sentimentos que permeavam sua mente.  

Deste desequilíbrio entre corpo e mente, surgiram os problemas cardiovasculares de Raul Gazolla. E isto certamente não aconteceu ou acontece somente com Raul - quantos de nós  já passamos por experiências adversas e decidimos mudar radicalmente nossos hábitos, sem planejar ou consultar alguém que pudesse efetivamente aconselhar e orientar como proceder adequadamente ?

No caso de Raul Gazolla, ele apresentou o primeiro infarto do coração há 10 anos, quando estava em um aeroporto, preparando-se para uma viagem de trabalho. Achou que os sintomas de mal estar poderiam estar relacionados a uma intoxicação alimentar, sendo que, na verdade, era um infarto que necessitou de tratamento intervencionista, por meio do implante de um “stent”. Ele relatou que estava profundamente estressado, ainda abalado com a morte da Daniela Perez, e que também havia um fator hereditário muito marcante em sua família.

Após este primeiro infarto, ele manteve sua rotina utilizando medicamentos mas acentuou sua prática de atividade física, imaginando que não houvesse efeitos colaterais por estar treinando em ritmo tão rígido. Durante um treino de jiu-jitsu, cerca de 1 ano após o primeiro infarto, ele apresentou uma nova ocorrência. Segundo relatado por ele, após este segundo infarto, recebeu orientações para não treinar com uma frequência cardíaca acima de 180 batimentos por minutos.  Ele  começou a seguir esta orientação, associou treinos de “crossfit”, decidiu parar as medicações e manter alimentação regrada. No final daquele ano, abusou dos alimentos doces e gordurosos, apresentando sequencialmente mais dois infartos do coração.

Neste histórico um tanto quanto confuso na vida de Raul Gazolla, existem aspectos sobre a saúde cardiovascular, que merecem muita atenção de nossa parte e sobretudo uma melhor compreensão. A partir desta análise, vocês conseguirão perceber o porquê Raul infartou tantas vezes e o porquê de não ter morrido. Que estas lições sirvam para todos nós.

Lição 1

Quando existe forte influência dos fatores hereditários em sua saúde cardiovascular, você precisa tomar mais cuidado com seu nível de estresse e com excesso de atividade física. A influência genética pode representar uma menor tolerância do coração e das artérias do coração a uma sobrecarga causada pelos hormônios de estresse e pelas demandas provocadas pela atividade física muito rígida. Deveríamos manter uma rotina de acompanhamento cardiológico, sempre respeitando os limites individuais.

Lição 2

Quando realizamos atividades físicas, existe uma correlação muito forte entre o condicionamento e a frequência cardíaca (número de batimentos do coração por minuto).Observem como as “pessoas comuns” cansam facilmente quando correm e como os batimentos cardíacos destas pessoas aumentam muito rapidamente, ficando com aquela sensação de “coração saindo pela boca”. O condicionamento cardiovascular e cardiopulmonar consiste em treinar nosso coração e nosso pulmão, sob determinadas circunstâncias de carga, intensidade e frequência, a um determinado ritmo de esforço físico. No caso do treinamento físico realizado por Raul , incluindo lutas marciais e movimentos funcionais intensos, gerou uma acentuada elevação dos batimentos cardíacos, sem que houvesse o devido condicionamento. Não houve tempo suficiente de adaptação do corpo a este tipo de treinamento físico, resultando em risco maior para uma ocorrência cardiovascular, como o infarto do coração.

Lição 3

Não subestimem o nível de estresse que você está vivenciando. Estresse precisa ser atenuado de alguma forma, seja usando medicamentos ou, se possível, dando preferência para medidas não medicamentosas, como atividade física moderada, leitura, ouvir música, atividades de relaxamento e viagens de lazer. O nível de estresse do mundo moderno cada vez mais aumenta, enquanto cada vez menos as pessoas procuram o equilíbrio físico e mental. O estresse pode progressivamente extinguir pessoas, ceifar vidas; o estresse é uma questão de saúde pública, precisamos direcionar mais foco e investimentos na contenção deste mal.

Lição 4

Duas atitudes não devem ser adotadas, quando se pretende desfrutar de uma
saúde cardiovascular plena : automedicação e parar de tomar os medicamentos por conta própria. Quem se automedica, está sujeito aos diversos efeitos colaterais das medicações e também às complicações que resultam da mistura inadequada de medicamentos. Por outro lado, ao decidir parar de tomar as medicações por conta própria, como no caso de uma pessoa que já teve um infarto do coração, o risco de recorrência do infarto torna-se significativamente elevado. Parar de tomar as medicações pode até levar a uma falência orgânica e morte.

Lição 5

As pessoas que já vivenciaram uma doença grave do coração, como no caso de um infarto, não deveriam abusar de alimentos gordurosos e doces, mesmo em períodos de festas de fim de ano. Bastaria ter e manter a moderação na escolha e consumo dos alimentos. Volto a insistir que as pessoas já vitimadas por um infarto ou qualquer outra doença cardíaca, não apresentam mais a mesma tolerância ou flexibilidade para extrapolar as regras médicas que foram estabelecidas após o primeiro evento cardiovascular. Isto é  tão real que muitas vezes um reinfarto pode ser mais fatal do que o próprio primeiro episódio de infarto. Raul Gazzola pode ser considerado um sobrevivente !

Lição 6

Existe uma explicação anatômica e fisiológica para o fato de algumas pessoas apresentarem vários infartos do coração e conseguirem sobreviver. Algumas pessoas desenvolvem circulação colateral nas artérias do coração. Esta circulação consiste em vários pequenos vasos sanguíneos que vão  se formando ao longo do tempo , sendo mais numerosos nas pessoas com mais de 50 anos e também em pessoas que mantêm um ritmo de atividade física regular. Pode-se inferir que um dos fatores que favoreceu Raul, permitindo que os infartos não tivessem um desfecho letal, tenha sido a existência de circulação colateral abundante em seu coração. Também podemos cogitar que a extensão dos infartos não tenha sido tão grande, favorecendo a manutenção de uma boa função cardíaca. 

Uma pessoa que infarta várias vezes e consegue sobreviver e ainda mantém uma qualidade de vida razoavelmente boa, pode ser considerada como um sobrevivente. O histórico de Raul Gazolla é rico em dramaticidade, desde a origem de seu imensurável estresse, até a sequência de quatro infartos motivados pela combinação do excesso de atividade física, decisões pessoais equivocadas e exageros alimentares. O caso de Raul reflete um roteiro de vida que nem sempre é bem sucedido; por isto , deve ser motivo de reflexão e ponderação por parte de todas as pessoas . Raul Gazolla , como qualquer pessoa que vivencia vários infartos do coração, pode sobreviver sim, mas não está livre completamente de futuras ocorrências cardiovasculares. Todos os cuidados referentes ao controle do estresse, qualidade da alimentação e intensidade das atividades físicas são fundamentais na prevenção de um novo infarto do coração. Siga Edmo no Instagram.