As chances de Moro

Os líderes partidários já dão como certa a sua presença de Moro no pleito do próximo ano

As chances de Moro -


A maior novidade na corrida presidencial é o iminente lançamento da candidatura do ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro à presidência da República pelo partido Podemos. Os líderes partidários já dão como certa a sua presença no pleito do próximo ano, sendo que algumas autoridades já foram informadas a respeito.


Não se trata de um mero balão de ensaio, mas de um projeto em andamento.

Saída da polarização. A entrada de Sergio Moro muda o cenário político, na medida em que se trata de um personagem popular de importante penetração na opinião pública, aparecendo como uma alternativa à polarização vigente. Isto por que não apenas condenou o ex-presidente Lula e vários líderes petistas enviando-os à prisão, como enfrentou o atual presidente quando esse tentou interferir diretamente na Polícia Federal, subordinada ao Ministério da Justiça. Os argumentos dos bolsonaristas de que seria de esquerda a ele não colam, nem tampouco os do PT de que seria um bolsonarista de extrema direita. Sua posição é de equidistância, algo que favorece o seu comparecimento político enquanto representante de uma terceira via.

Bandeira. Frente aos seus contendores mais importantes, ele é aquele que melhor pode incorporar a bandeira da luta contra a corrupção, ou ainda, aproveitando uma velha bandeira traída pelo PT: a ética na política. O PT, por razões mais do que conhecidas, não pode mais se colocar como defensor da luta contra a corrupção por ter sido um dos seus artífices no mensalão, na gestão da Petrobrás e em outros órgãos estatais. Perdeu totalmente a credibilidade e, com ela, qualquer traço de moralidade. Bolsonaro não se encontra em melhor posição pelas ações de sua família, pelas acusações de rachadinhas, pelo favorecimento aos seus próximos, e, sobretudo, pelo seu negacionismo em relação às vacinas e às medidas sanitárias de combate à pandemia. Os resultados da CPI, assim como sua transmissão televisiva nos últimos meses, são altamente prejudiciais ao seu projeto eleitoral. Ao se posicionar contra as vacinas, deu literalmente um tiro no pé, principalmente em um país que preza e adere em massa aos processos de vacinação. Ou seja, colocou-se frontalmente contra um valor reconhecido pela sociedade.

Excessos. Sem desconsiderar os excessos da Lava Jato, que foram muitos, isto não afeta sobremaneira a opinião pública. Uma coisa é o argumento jurídico de advogados que defendem suas causas, outra muito diferente o impacto político desta grande operação pública. Deve-se aqui distinguir as razões jurídicas das políticas, visto que as primeiras são de pouca ou difícil compreensão para a sociedade em seu conjunto, enquanto as últimas estão de alcance de todos. Durante anos, a Lava Jato ocupou a televisão, as rádios, a imprensa e as redes sociais. Foi recorrentemente um grande assunto cotidiano. Difícil de ser apagada. E dentre os seus méritos, apareceu a limpeza moral do país. Foi neste rastro, inclusive, que Bolsonaro foi eleito ao colocar-se como alguém totalmente de fora de um sistema político considerado como corrompido. Hoje, sofre os prejuízos de não ter cumprido a sua promessa.

Bandeira vigente? Moro coloca-se portanto neste cenário como alguém que pode resgatar essa bandeira perdida e abandonada. Uma bandeira que não está tremulando entre nós. Talvez os ventos soprem a seu favor se alguém alçá-la. Tudo sinaliza para esta aposta do ex-juiz que é, na verdade, o símbolo mesmo da Lava Jato. Procura ele tornar politicamente perceptível o simbolismo que representa.

Conservadores. Pode ele também angariar votos em uma direita conservadora e liberal, que se distanciou das posições de extrema direita do presidente Bolsonaro e, de maneira mais geral, do bolsonarismo mais radical. Há um eleitorado órfão a ser adotado. Diria mesmo, mais concretamente, que poderia ter o apoio de setores militares que estão descontentes com o atual presidente, assim como de um eleitorado conservador que se reconhece em valores religiosos. Saliente-se que Bolsonaro não demonstrou nenhuma compaixão com as vítimas da COVID, em uma posição claramente contrária aos valores cristãos.

Liberais. No que diz respeito à pauta liberal e suas reformas, também deixada de lado pelo atual governo, Sergio Moro ainda não se manifestou a respeito. Sabe-se, porém, que já tem buscado conversar com economistas que representam esta corrente de pensamento. Em todo caso, de um ponto de vista eleitoral, não pode ser ele o cantor de uma nota só. A situação econômica e fiscal do país é muito ruim e os prognósticos não são melhores para o próximo ano. As pessoas querem comida, emprego e renda! Não importa a cor ideológica!