Decisão Nonsense

Homenagem a ex-jornalista e empresário rio-pretense, que foi réu confesso no Fifagate, nos faz refletir

Decisão Nonsense -


São José do Rio Preto anunciou, na semana passada, a entrega de um trecho do Anel Viário J. Hawilla. O anel terá 37 quilômetros de extensão e o investimento é de aproximadamente R$ 52 milhões.


A homenagem ao jornalista e empresário no batismo da obra foi justificada pelo prefeito Edinho Araújo (MDB) em projeto de lei enviado à Câmara Municipal por "suas contribuições à cidade".

O momento em que vivemos, hoje, é de reflexão em todos os sentidos.

O processo de justiça histórica que as pessoas estão buscando, engajando mais o lado social do que o lado pessoal, reserva encontros entre a razão e a emoção que ferem o ego da classe privilegiada.

E, neste caso, o conceito de privilegiado não é relativo. Você, hoje, já parou para pensar em como você é privilegiado? Por ter um teto para dormir, comida na mesa todos os dias, por ter internet, no celular ou no computador, e estar lendo esse texto, você já está à frente de milhares no Brasil.

A maioria é privilegiada historicamente e a busca pelos 'representantes dos excluídos', em entender que não existe a necessidade do endeusamento de certas personas, configura a necessidade de engajamento que o diminuído, historicamente, pede. Em qualquer praça paulista onde há um bandeirante, seria justo haver a necessidade de lembrança das mortes de índios e negros para que o "progresso" acontecesse.

A homenagem de Edinho não menciona outros aspectos do personagem, morto em maio de 2018 aos 74 anos

Em 2015, o radialista ganhou fama mundial com a deflagração da operação Fifagate, pelo FBI no hotel Baur au Lac, em Zurique, na Suíça. Empresários e dirigentes ligados ao futebol foram detidos - entre eles o ex-presidente da CBF, José Maria Marin.

Tido como o principal delator do escândalo de corrupção na compra de direitos de transmissão de competições esportivas nas Américas, Hawilla apenas se livrou da prisão em Nova York ao fazer acordo de colaboração em 2013. Ele reconheceu crimes e se comprometeu a pagar US$ 151,7 milhões, na época, para o Departamento de Justiça dos Estados Unidos. O valor, segundo o FBI, era o equivalente ao que a sua empresa, a Traffic, teria alimentado em propinas a dirigentes para garantir com exclusividade contratos de televisionamento e patrocínios em torneios como Copa América, Libertadores e Copa Ouro, entre outros eventos.

Hawilla também diversificou os investimentos, comprando, segundo o jornal Folha de S. Paulo, fazendas em SP e MS, empreendimentos de luxo e a afiliada da Rede Globo no interior paulista, a TV Tem, com sedes em Itapetininga, Bauru, Sorocaba e Rio Preto.

Cinco ano depois, recebe nome em obra pública, para servir de exemplo? À Folha, a Prefeitura de Rio Preto disse que "o homenageado é rio-pretense que gerou e ainda gera muitos empregos na cidade, com grandes investimentos".

É como comemorar um gol de mão num jogo decisivo. Há uma grande diferença entre conhecer o caminho e percorrer o caminho. O que aconteceu neste caminho, bem ou mal, não tem valor? Estamos carentes de exemplos, no esporte e na política, há décadas.

Há como separar a persona boa da má? São uniformes ou antagônicos? São únicos ou plurais? A consciência individual é dependente do próprio julgamento do já julgado. O mundo gira todo dia e certas figuras passadas não precisam acompanhar.