Desunião tucana

Desunião tucana -


O PSDB fez uma prévia para a escolha de seu candidato a presidente da República, visando a lhe dar visibilidade pública e unidade partidária. A visibilidade seria uma forma de fortalecimento do partido junto à sociedade por intermédio da discussão de ideias e posicionamentos, tendo como limite, evidentemente, os seus valores, concepções e princípios.


A unidade permitiria, por sua vez, que as rivalidades internas pudessem ser equacionadas mediante uma escolha majoritária decidida pela constituição de um colégio eleitoral. Contudo, já no transcurso deste processo, os embates entre os candidatos tenderam a se acirrar e as ideias não tiveram maior repercussão junto à sociedade. De qualquer maneira, o seu resultado foi assegurado pela escolha de João Dória, atual governador de São Paulo, derrotando seu principal oponente, Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul. O que aconteceu então?

Desunião. Esperava-se que o candidato vencedor pudesse trabalhar tranquilamente, contando, mesmo, com o apoio dos seus rivais e de seus seguidores. Em todo o caso, se não houvesse esse apoio, pelo menos os ruídos internos deveriam cessar. Não é possível um candidato avançar se, em vez de se preocupar com os seus adversários externos, tiver a todo momento de se preocupar com os seus descontentes internos. Diria mesmo que não se trata apenas de uma questão eleitoral, mas partidária. Para um partido crescer e se afirmar, a união é essencial. Caso contrário, a fragmentação e o seu enfraquecimento é o seu destino. Pegue-se o exemplo do PT. Briga antes das eleições e depois no novo governo, mas no processo propriamente eleitoral comparece unido, pois tem ciência de que o seu futuro disto depende. Hoje, o PSDB é uma pálida imagem do que foi.

Brigas. O partido está muito desunido internamente, sendo incapaz de seguir a decisão de uma convenção, livremente decidida por ele. Não obedece nem as suas próprias escolhas. O governador Dória é torpedeado a todo tempo e conta apenas consigo mesmo e seu grupo. Alguns adversários tudo fazem para inviabilizá-lo, contando com isto terem recursos para suas candidaturas estaduais. Outros são bolsonaristas, tendo como alvo uma maior aproximação com o atual governo, seus parlamentares votando com presidente. Outros advogam para que se retire imediatamente se não decolar, deixando todos de mãos livres. Outros o consideram de direita como se existisse uma alternativa tucana de esquerda, visando a uma aproximação com o PT. O ex-governador Alckmin chega a sair do partido para se aliar aos seus inimigos de outrora. Outros ainda veem a candidatura do MDB como uma alternativa, uma novidade a catalisar os descontentes. Note-se que toda esta movimentação se faz à luz do dia, seus protagonistas não escondendo as suas intenções e, inclusive, tornando-as públicas. Qual é o seu único objetivo? Torpedear o atual governador. Isto não é coisa de um partido que se preze.

Esquerda. No meio destas querelas, chama particularmente atenção um tipo de consideração ideológica. Dória não seria um tucano histórico, leia-se de esquerda, enquanto outros o seriam, ou seja, os “autênticos”. O governo Fernando Henrique, símbolo desta corrente, foi um governo de privatizações, de reforma do Estado, de responsabilidade fiscal, de saneamento de bancos públicos, de controle da inflação, seguindo, neste sentido, uma pauta que o PT considerou como neoliberal. Pauta essa aliás que assegurou o sucesso do primeiro mandato do presidente Lula. Neste sentido, Dória é tão liberal ou não liberal quanto Fernando Henrique. A discussão simplesmente nem faz sentido. Acontece que a narrativa tucana histórica, não o seu governo, seguiu a ideologia de esquerda, sempre sonhando com uma união socialdemocrata com o PT, aliás, por esse rechaçada! Até hoje o presidente tucano namora o petista e tem seus seguidores. Ocorre, porém, que o PT de hoje é o do mensalão, do petrolão, da irresponsabilidade fiscal, do aparelhamento do Estado. É com ele que procuram um tipo qualquer de compromisso? É a união de esquerda pretendida? Lula tem, pelo menos, a virtude da inteligência, ausente em seus interlocutores.