Eduardo Bolsonaro diz que Brasil não é "tão submisso" aos EUA

Presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara diz que a política do pai não fica a serviço do governo de outros países

Eduardo Bolsonaro diz que Brasil não é "tão submisso" aos EUA - Agência Brasil


Enquanto o Colégio Eleitoral dos Estados Unidos não confirma o presidente eleito Joe Biden no cargo, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) diz que a política do pai, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), não é "tão submissa" ao governo norte-americano a ponto de trocar ministros de pastas estratégicas para melhorar a relação diplomática entre os países.


Ao SBT News, Eduardo afirma que o chefe do Executivo não cederá à pressão de Biden e não demitirá Ernesto Araújo, do Itamaraty, e Ricardo Salles, do Meio Ambiente. "A política de Jair Bolsonaro? não a vejo ao sabor de quem venha a ser o governo em qualquer outro país. Não estou falando especificamente dos Estados Unidos. Mas não vejo dessa maneira. Não acho que o Brasil seja tão submisso para chegar a esse ponto", explica.

À frente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (Creden) da Câmara, Eduardo já protagonizou episódios polêmicos com agentes internacionais, como é o caso da China, maior parceiro comercial do Brasil. O episódio mais recente ocorreu semana passada, quando o parlamentar usou as redes sociais para indicar que o governo chinês "espionaria" informações dos cidadãos caso a tecnologia 5G fosse implementada por aqui.

Em nota, a Embaixada da China informou que as declarações do deputado eram "infundadas" e que não eram "condignas" com o cargo que ocupa na Creden. Pequim pediu que autoridades brasileiras deixem de "seguir a retórica da extrema direita" para evitar "ir longe demais no caminho equivocado tendo em vista os interesses de ambos os povos e a tendência geral da parceria bilateral. Caso contrário, vão arcar com as consequências negativas e carregar a responsabilidade histórica de perturbar a normalidade da parceria China-Brasil", escreveu.

Os Estados Unidos travam uma batalha com a multinacional chinesa Huawei, que está à frente na corrida pelo 5G. O discurso norte-americano também acusa a empresa de não assegurar sigilo dos dados dos usuários e o presidente Donald Trump tenta barrar o acesso da tecnologia chinesa a outros países, como é o caso do Brasil. Apesar de Biden ter sido eleito, a guerra comercial entre os dois países deve continuar.

Derrota e reeleição

Questionado se a derrota do republicano Donald Trump terá impacto nas eleições presidenciais de 2022, Eduardo admite que tudo o que ocorre os EUA influencia o país "de maneira ou de outra". No entanto, minimiza eventual influência no resultado do pleito, que o pai busca reeleição à Presidência. Para Eduardo, o Brasil "experimenta novos ares" com Bolsonaro no poder e aposta no aumento da popularidade do presidente "ou de alguém com perfil semelhante ao dele".

"De maneira eleitoral, não vejo tanto assim, não. Óbvio que a relação entre o Brasil e os EUA nunca estiveram tão boa, principalmente porque existem dois presidentes que se sentam em uma mesa e praticamente não é uma mesa formal com negociações. É mais uma conversa entre duas pessoas que comungam da mesma visão de mundo", sustenta.

Com apoio declarado a Trump e crítico ferrenho ao sistema eletrônico de votação brasileiro, Eduardo afirma que o reconhecimento formal da vitória do democrata "é um assunto interno norte-americano". Segundo o parlamentar, independentemente de quem venha a ser o presidente dos EUA, Bolsonaro irá reconhecer a vitória do candidato: "Mas enquanto estiver com esse cenário, qualquer um pode ser o vencedor".

O deputado diz ver como positiva a provável indicação de Antony Blinken como novo Secretário de Estado dos EUA, no governo de Biden. "O que vejo de positivo é por ele ter sido a pessoa que quebrou o gelo dos EUA na época do (analista Edward) Snowden, em que fala-se de uma espionagem nos e-mails da (ex-presidente) Dilma Rousseff. Então vejo que é uma pessoa do diálogo. Acho até que, não sei se vai ajudá-lo ou prejudicá-lo, mas acho que é um bom nome caso venha a ser confirmado na equipe do próximo presidente".

Saliva e pólvora

Com o interesse internacional na Amazônia, Eduardo diz que países interessados em doar para a ajudar a floresta são bem-vindos, desde que não cobrem o destino da verba, porque seria um "crime" com a soberania brasileira. "Não pode outro governo chegar aqui e dizer o que vai fazer e onde. Seria um crime contra nossa soberania", completa.

Durante a campanha eleitoral, Biden disse que buscaria "organizar o hemisfério e o mundo para prover US$ 20 bilhões para a Amazônia" e que o Brasil poderia enfrentar "consequências econômicas significativas" se não cuidar da floresta. Em resposta ao presidente norte-americano, Jair Bolsonaro disse que "quando acaba a saliva, tem que ter pólvora".

"Foi dito [o comentário de Biden] em um calor de um debate. O quanto isso é verdade, só eles [Estados Unidos] vão poder dizer. Se quiser levar a cabo esse tipo de política, o Brasil vai se opor frontalmente", reage.  No dia 23 de novembro, o democrata anunciou que nomeará o ex-secretário de Estado John Kerry como enviado presidencial especial para o Clima. Uma das promessas de Kerry era reverter as políticas para meio ambiente implementadas por Trump.