Indefinições

Candidaturas vão e vem, algumas se consolidando, outras marcando passo e outras ainda procurando sinalizar o seu caminho

Indefinições - Reprodução


O cenário político continua assaz indefinido. Candidaturas vão e vem, algumas se consolidando, outras marcando passo e outras ainda procurando sinalizar o seu caminho. Como a campanha começou precocemente, nomes foram sendo também abandonados, sem que se saiba ao certo o desfecho de todo este processo. De qualquer maneira, as eleições ocorrerão somente em outubro, havendo um importante percurso a ser ainda trilhado, passando pela desincompatibilização partidária em abril e as convenções em junho. Contudo, algumas candidaturas começam a consolidar-se, como a do ex-presidente Lula e, talvez, a do atual presidente Jair Bolsonaro. São esboços, não desenhos definidos.


Fatalismo. Há, porém, um certo fatalismo que começa a se impor, como se a polarização Lula/Bolsonaro fosse desde já inevitável. É como se cumpríssemos apenas tabela, o resultado estando pré-decidido. Mesmo os mais recalcitrantes em relação a Lula já começam a dar a sua eleição como certa, como se devêssemos unicamente observar o desenrolar do tempo enquanto espectadores. Os partidários de Bolsonaro, por sua vez, ainda guardam uma certa esperança de, chegando ao segundo turno, possa recuperar forças e vencer as eleições. O que, no entanto, gostaria de ressaltar é que este espírito de resignação é algo estrategicamente concebido, tendo sido criado precisamente para que o eleitor descarte uma terceira via, uma outra alternativa, considerada assim como altamente improvável. Ou seja, o fatalismo não é uma força natural ou religiosa, mas produto da ação política de grupos que se polarizam no cenário eleitoral. Eles procuram esboçar este cenário, como se fosse uma obra acabada.

Federação no Centro. Outro ponto que tem merecido destaque diz respeito às federações que estariam sendo construídas, em particular a envolvendo MDB, PSDB e União Brasil. Note-se, primeiramente, que se trata de uma notícia que está ganhando dimensão, embora as negociações sejam, por enquanto, muito embrionárias. Há um evidente descompasso entre o apresentado e o realizado. Como os respectivos candidatos ainda não decolaram, parte-se, com toda a razão, para uma composição que poderia viabilizar algum deles. Contudo, convém observar que federações são empreendimentos de alto risco, de uma enorme complexidade, sobretudo quando envolvem grandes partidos de mesmo porte. É mais fácil fazer uma federação entre um partido grande e um pequeno, uma vez que os interesses em jogo são mais compatíveis. Isto é, não se trata somente de uma composição para uma candidatura presidencial, mas passa pelas candidaturas aos governos estaduais e municipais, com os seus respectivos interesses, frequentemente antagônicos. Dito isto, acho altamente improvável uma federação entre MDB e PSDB e, com maior probabilidade, o União Brasil, na medida em que este novo partido não possui o mesmo nível de estruturação que os dois outros, além de estar à procura de uma candidatura presidencial, provavelmente ocupando a posição de Vice-presidente na chapa.

Federação na esquerda. Na esquerda, a movimentação para a formação de uma federação partidária continua mais avançada, apesar de seus percalços não serem poucos. Ressalte-se, preliminarmente, que o PT nem aliança consegue fazer, porque sua pretensão é sempre hegemônica, voltada exclusivamente para a consecução de seus próprios interesses. Procura dominar os demais. Não aceita a ideia de igualdade partidária. Neste sentido, torna-se mais fácil para ele agregar partidos menores como o PCdoB e PSOL e mais difícil maiores como o PSB. No que diz respeito aos menores, eles tendem a ser partidos-satélites, orbitando em torno de seu eixo menor, e assegurando, em seus interesses próprios, a sua própria sobrevivência, vencendo a cláusula de barreira. No que concerne aos socialistas, tratando-se de um partido melhor estruturado, com posições de poder bem definidas, a negociação frequentemente chega a impasses nos estados e, também, em municípios que terão eleições em dois anos, sendo elas desde agora levadas em consideração nas negociações.