Internações por covid-19 mais que dobram em hospitais privados de SP

Nas redes municipal e estadual, os hospitalizados por covid mais do que dobraram no mesmo intervalo de tempo

Internações por covid-19 mais que dobram em hospitais privados de SP - Reprodução


Em um período de um mês, o número de internados por covid-19 subiu até 275% em hospitais privados de São Paulo. A maior variação foi registrada no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, mas também houve aumentos expressivos em hospitais como o Albert Einstein e o Sírio-Libanês. Nas redes municipal e estadual, os hospitalizados por covid mais do que dobraram no mesmo intervalo de tempo.


Apesar do cenário de alta, os números ainda seguem distantes do pico da variante Ômicron, no começo do ano. Com o avanço da vacinação, especialistas dizem que há risco bem menor de saltar a quantidade de pacientes graves. Mas, diante do avanço da transmissão, o comitê científico do governo estadual recomendou a volta do uso de máscaras em ambientes fechados. A proteção, porém, será exigido por lei só em unidades de saúde e no transporte público.

O Hospital Alemão Oswaldo Cruz contabilizou oito pacientes internados por quadro suspeito ou confirmado de covid no dia 30 de abril. Um mês depois, passaram a ser 30 pacientes, o que representa aumento de 275%. Apesar da alta, a situação não tem sobrecarregado leitos para atendimento no hospital. "O gerenciamento de leitos envolve um processo dinâmico, permitindo a abertura de novos leitos de internação e de UTI de acordo com as demandas da instituição", informou o Oswaldo Cruz.

No Hospital Sírio-Libanês, 11 pacientes estavam internados com suspeita ou confirmação de covid no final de abril, entre leitos de enfermaria e de UTI. Após um mês, o número de hospitalizados saltou para 30. Ainda com a alta, o patamar segue distante do apresentado no final de janeiro, pico da variante Ômicron. Na ocasião, o hospital tinha 115 hospitalizados com a doença, quase quatro vezes o valor atual.

Já o Hospital Albert Einstein atendia naquela mesma época 139 pacientes internados com a covid-19. Com a melhora da pandemia, esse número caiu para 10 no dia 30 de abril. Um mês depois, as hospitalizações pela doença praticamente triplicaram e estão atualmente em 29. Houve, portanto, reversão na tendência de queda.

No Hospital 9 de Julho, entre casos suspeitos e confirmados de covid, 11 pacientes estavam internados em 30 de abril. Após um mês, o número mais do que dobrou e passou a ser de 25 hospitalizados. Conforme o hospital, a taxa de positividade para covid no pronto-socorro também apresentou aumento - de 10%, em abril, para 31%, no último mês.

Com a melhora da pandemia, grande parte dos hospitais passou a desmobilizar os leitos destinados a pacientes de covid. Pesquisa do Sindicato dos Hospitais Privados de São Paulo (SindHosp) realizada entre 29 de abril a 12 de maio indica que 91,78% dos hospitais do Estado reduziram o número de leitos para tratamento da covid nos últimos 30 dias.

Como principal causa, estaria a queda nas taxas de ocupação. O levantamento, que reuniu dados de 76 hospitais privados, apontou que no começo de maio a ocupação de leitos para covid - o que inclui tanto os clínicos quanto os de UTI - era inferior a 20% em mais de 93% das instituições, o que permitiu que os hospitais atacassem outras frentes. Com o aumento de casos de coronavírus, a atenção deve voltar a ser dividida.

Dados da Fundação Seade indicam que a média móvel de novas internações por covid ou suspeita da doença no Estado saltou de 171, em 30 abril, para 374, em 30 de maio. Os números representam alta de 118,7%, apesar de seguirem bem abaixo do pico da variante Ômicron. Em 29 de janeiro, a média móvel de novas hospitalizações chegou a ficar em 1.521 no Estado, número três vezes maior do que o índice atual.

Como mostrou o Estadão nesta terça, a capital paulista teve aumento de 251,8% no total de internados na rede municipal com o coronavírus em leitos de enfermaria e de UTI no último mês Entre 30 de abril e segunda-feira, 30, o total saltou de 56 para 197. O número também segue abaixo do registrado no fim de janeiro, quando o surto da Ômicron provocou 873 internações na rede.

Casos têm sido marcados por forte tosse, dor de cabeça e dor de garganta, diz médico do Emílio Ribas

No Instituto de Infectologia Emílio Ribas, 26 pacientes com casos confirmados de covid foram atendidos na semana que foi do dia 9 a 15 de janeiro. Na última semana de abril, entre os dias 24 e 30, foram cinco. Depois, 19 hospitalizados tiveram diagnósticos positivos para covid na semana entre os dias 22 a 28 de maio.

"Existe um claro aumento do número de casos de covid", disse o médico infectologista Jamal Suleiman ao Estadão. Ele alerta que o cenário atual requer atenção ainda que a demanda por leitos de alta gravidade esteja distante do pico do início do ano. "O vírus circula, tem pessoas vulneráveis", destacou.

Suleiman explica que a interrupção na tendência de queda começou a ser observada no hospital há cerca de quatro semanas e diz ainda não ser possível ver um platô, quando há estabilização das curvas. Como causas do cenário atual, aponta principalmente o encerramento de medidas não farmacológicas. "O que fez a retomada dos casos foi abolir completamente as estratégias de proteção, como a não exigência de máscara."

Os acessórios de proteção deixaram de ser obrigatórios em ambientes fechados em São Paulo a partir de 17 de março. Nesta terça-feira, o Comitê Científico, grupo que assessora o governo de São Paulo sobre as ações adotadas durante a pandemia, voltou a recomendar o uso de máscaras de proteção em ambientes fechados no Estado, mas não alterou a legislação vigente.

Segundo o médico, grande parte dos casos tratados no Emílio Ribas são da BA.2, subvariante da Ômicron. "Essa subvariante, em especial, dá muita dor de cabeça, muita dor de garganta e muita tosse", explicou. Além disso, Suleiman reforçou que a BA.2 "tem uma capacidade de infectividade alta", o que seria uma preocupação a mais.

Diante desse contexto, o médico reforçou a importância de a população completar o esquema vacinal para diminuir os riscos não só de contaminação, mas de que a doença evolua para quadros graves. Destacou ainda que manter o uso de máscara, sobretudo em ambientes fechados ou com aglomeração de pessoas, pode fazer a diferença.