Para jovens europeus, guerra na Ucrânia é mudança de era

A guerra não é a única crise em questão, o estudo mostra que a maior ameaça para os jovens europeus continuam sendo as mudanças climáticas.

Para jovens europeus, guerra na Ucrânia é mudança de era - DEUTSCHE WELLE BRASIL


Pesquisa com jovens de 16 a 26 anos de sete países mostra que 68% deles estão dispostos a fornecer ajuda humanitária, como acolher refugiados. Apesar do conflito, mudanças climáticas ainda são maior temor.


São férias de verão em Gliwice, na Polônia. Aleksandra Piasecka, Lena Kubisa e Kinga Zuwała foram para Gdansk, no Mar Báltico. As três amigas planejaram a viagem há meio ano, ou seja, antes do começo da guerra na vizinha Ucrânia – fato que também mudou suas vidas.

"De vez em quando, penso na guerra e tenho algo como um ataque de pânico, porque está tão perto. Tenho a sensação de que esse medo não vai desaparecer até que a guerra acabe", conta Kinga.

Uma família ucraniana agora vive ao lado de Lena. São sete pessoas, às vezes oito, no apartamento ao lado do seu, que era de sua avó e felizmente estava vazio.

"Claro, é uma grande mudança. Mas obviamente é uma mudança muito maior para a família [ucraniana]", diz Lena. Aleksandra, Kinga e Lena têm em torno de 18 anos e se formarão na escola no ano que vem. E elas não estão sozinhas em seus sentimentos sobre a guerra.

Mais de 60% dos jovens europeus veem a guerra na Ucrânia como uma nova era. É o que mostra o estudo Junges Europa 2022, da Fundação TUI. O instituto de pesquisa de opinião YouGov entrevistou mais de 6,2 mil jovens de 16 a 26 anos na Alemanha, no Reino Unido, na França, na Espanha, na Itália, na Grécia e na Polônia em abril de 2022.

Os jovens, especialmente na Polônia, na Alemanha e na Grécia, veem a invasão da Ucrânia pela Rússia como uma ameaça pessoal. Além disso, como a família de Lena, eles estão muito dispostos a fornecer ajuda humanitária, como acolher refugiados (68%)."Antes da guerra, os mais velhos sempre diziam que era tudo fácil para nós, adolescentes. Mas, agora, tenho a sensação de que eles sentem mais empatia pela gente, por termos que aprender em circunstâncias tão difíceis, com tantos fatores de estresse", diz Lena.

Afinal, a guerra na Ucrânia não é a única crise em questão. O estudo mostra que a maior ameaça para os jovens europeus continuam sendo as mudanças climáticas.

Mudanças climáticas: principal temor

"As mudanças climáticas afetam todos nós como seres humanos. Então, espero que todos acordemos e comecemos a fazer realmente mais", afirma Javier Fabra Rodriguez, de 25 anos, que mora em Cádiz, na Espanha. Ele terminou um mestrado e quer ensinar história.

Rodriguez se descreve como uma pessoa otimista. "Na verdade, sempre acho algo positivo." Ele se vê primeiro como europeu e, depois, como espanhol. O jovem gosta muito de viajar pela Europa e tem amigos de vários países. Quando se senta no bar com eles para conversar, agora, o principal tema em questão é o medo de não conseguir um emprego. Além disso, cada vez mais, a crise climática é debatida.

"Sempre culpamos as grandes empresas por não se importarem tanto com o clima. E o governo deveria fazer mais. Mas, em algum momento, concordamos que todos nós também poderíamos fazer mais pelo clima, por exemplo, deixando de comer carne, reciclando e andando menos de carro", diz.

De fato, assim como para Rodriguez, as mudanças climáticas são a questão pela qual os jovens europeus mais estão dispostos a limitar seu próprio padrão de vida.Mais de 60% deles estariam dispostos a fazer isso, e 69%, veem uma grande responsabilidade individual na luta contra as mudanças climáticas. Além disso, 58% esperam que os governos imponham mais impostos, regras e proibições para lidar com a questão.

Mais da metade dos entrevistados acha que os países da União Europeia (UE) deveriam priorizar a luta contra as mudanças climáticas sobre a independência energética. Os estados do sul da Europa, em particular, acreditam que essa é uma responsabilidade de toda a UE, e não apenas dos governos nacionais.

"Para mim, a Europa é um lugar onde posso desenvolver minha personalidade e realizar meus sonhos. E onde tenho direitos, isso é importante para mim, também por causa da minha origem", afirma Daniela Capuccio.

Atualmente, ela está de volta à sua cidade natal, no noroeste da Itália. Ela é metade colombiana e, portanto, sabe os direitos e liberdades que um passaporte europeu oferece.A jovem de 25 anos acabou de se formar em Direito, e trabalha e se prepara para o exame de admissão para se tornar advogada. Há muitos anos, ministra seminários em escolas para educar os jovens sobre as instituições da UE.

Para a maioria dos jovens (69%), a UE é, acima de tudo, uma união econômica e uma área com fronteiras abertas, onde as pessoas podem viajar e trabalhar livremente.

Além disso, 62% acreditam que o bloco é uma aliança para a manutenção da paz. Na Espanha e na Itália, em particular, os jovens querem que os Estados-membros da UE sejam mais integrados ao bloco.

"Tenho a sensação de que esperamos que a União Europeia resolva muitos grandes problemas", diz Daniela. "Mas, ao mesmo tempo, os países não querem abrir mão de seus poderes individuais. É por isso que espero realmente que a União Europeia tenha mais poderes formais no futuro, para poder enfrentar os desafios".