"Parem de matar a gente!", diz mãe de modelo que morreu após ser baleada no RJ

Kathlen Romeu, que estava grávida, morreu durante operação policial no complexo do Lins

"Parem de matar a gente!", diz mãe de modelo que morreu após ser baleada no RJ - Divulgação/SBT


"Um dos policiais ainda falou: 'a senhora sabe quem é eles?' Eu falei: 'meu filho, eu quero a minha neta!' Eu não sei quem era quem, só sei que era muita polícia. Não foram eles que socorreram. Eu pedi, eles não queriam nem que ela entrasse no carro. Eu falei: 'me leva nem que for na caçamba'".


O relato acima é de Sayonara de Oliveira, avó de Kathlen Romeu, morta nesta terça-feira (8), vítima de bala "perdida", mas que atinge os mesmos corpos nos mesmos lugares após operações policiais em confronto com criminosos. Desta vez, no complexo do Lins, zona norte do Rio de Janeiro (RJ).

A avó estava com a neta, grávida de três meses, indo entregar comida à tia, quando foram surpreendidas pelos tiros. Sayonara tentou se jogar em cima da vítima para protegê-la, em vão. Kathlen já estava baleada. "Eu me levantei durante o tiroteio e comecei a gritar. Eu não sei como eu não estou baleada também", contou Sayonara.

Modelo e vendedora, Kathlen aguardava a chegada do bebê e tinha se mudado há um mês, saindo do Lins com medo da violência. "Eu perdi a minha neta nesse mundo estúpido, nesse tiroteio estúpido", disse a avó.

Moradores protestaram na estrada Grajaú-Jacarepaguá, que liga as zonas norte e oeste do Rio. Bombas de efeito moral foram disparadas contra a população.

Em nota, a Polícia Militar afirmou que "os policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora UPP Lins foram atacados a tiros por criminosos na localidade conhecida como 'Beco da 14', dando início a um tiroteio". Em buscas, os agentes encontraram "um carregador de fuzil, munições de calibre 9mm e drogas ainda não contabilizadas".

"Eu não tenho mais vida"

No dia seguinte, ainda no aguardo da liberação do corpo, a mãe de Kathlen, Jackelline Lopes, afirmou que "essa bagunça está no Lins há muito tempo" e que já foi alvo de operações abusivas. 

"Polícia já entrou na minha casa. Falta de respeito, porque eles acham que tudo ali é parente de bandido. E eles acham que qualquer vizinho é bandido. Não é assim que funciona. Parem de matar a gente!", suplicou a mãe da modelo.

Lamentando a morte da filha, Jackelline cobrou "respeito" à memória de Kathlen, pois a filha sempre foi um "exemplo" por não se envolver com criminosos. "Morava no morro porque precisava. Mora no morro quem precisa", afirmou.

"Eu tô aqui de pé falando porque eu tenho força pra falar só nesse momento. Eu não tenho mais vida. Eu não tenho mais filho, eu não consigo ser mais mulher, não consigo ser mais profissional. Tudo o que eu fiz na minha vida foi por ela", afirmou a mãe de mais uma jovem negra morta em mais uma operação policial na "guerra às drogas", realizada pela Unidade de Polícia Pacificadora.