​​Terror araçatubense não é acaso

Ataques espetaculares se repetem em SP e sensação de segurança não é mais a mesma

​​Terror araçatubense não é acaso - Reprodução


Eu dormia, por volta de 0h15, ​​quando os tiros e explosões começaram. A primeira a acordar foi minha filha, de nove meses, assustada. Ela não chorou e nem se apavorou, mas despertou e começou a ficar incomodada. Como eu moro longe do centro, os estampidos eram mais baixos. Seguia dormindo.


Fui acordado pela minha esposa. "Olha nos seus grupos de imprensa porque parece que estão explodindo algo e dando tiros no centro. Tá muito feio".

Olhei para não dormir mais.​​ Os tiros não cessavam e só me confirmavam o que estava por vir. "Igual em 2017, no assalto à Protege. Já vou lavar o rosto e me preparar para ficar acordado", pensei.

As informações foram chegando aos poucos. Pessoas escreviam nas redes sociais e os familiares queriam saber o que estava havendo. Por ser jornalista, eu era parabólica para muita gente. Fui informando o que sabia, sem fake news, com responsabilidade. Decidi fazer uma thread no Twitter para informar rapidamente pessoas que talvez estivessem fora de suas casas, além de alcançar mais pessoas que precisavam saber sobre o ataque pelas reportagens do www.sbtinterior.com.

O alcance das reportagens e dos tuites foram instantâneos. Mais de 50 mil impressões em poucas horas e as informações não paravam de chegar. As imagens com reféns servindo como escudo humano me aterrorizaram. Entrei ao vivo na Rádio Gaúcha para relatar o que sabia e afirmei que era o pior crime cometido na cidade em décadas. Pensei que muitos morreriam. Infelizmente, dois inocentes morreram. Tiros, explosões, sustos, medo, tudo das 0h15 às 5h. Só consegui cochilar às 5h40, já pensando nos desdobramentos do outro dia.

Aqui vale um parêntese. Esse terror em uma cidade teoricamente tranquila não é um acaso. Pelo contrário. Tem sido muito comum roubos com essa modalidade, chamada de "Novo Cangaço", que ataca cidades de pequeno ou médio porte, consideradas desprotegidas pelas autoridades. O termo "Novo Cangaço" foi dado porque, nos anos 1990, cidades do sertão eram alvo dos criminosos fortemente armados.

Onde estão as autoridades para frear este tipo de crime? Ações parecidas se repetem pelo interior paulista desde 2018. É preciso interceptar, não apenas trabalhar para diminuir os estragos após esses crimes espetaculares.

De acordo com Bruno Langeani, especialista em controle da de armas, O Brasil chegou a criar uma regulamentação para que vários dos insumos usados nos explosivos instalados no centro da cidade (emulsão, espoleta, cordéis detonantes) tivessem marcação em QR Code e dispositivos intrínsecos de identificação e rastreabilidade. Os fabricantes seriam também obrigados a fornecer material de prova para perícia. Além disso, seria criado um Sistema Nacional de Produtos Controlados​, justamente para monitorar esse tipo de comércio. 

O sistema deveria ter sido implantado até novembro de 2020, mas, segundo Langeani, tudo isso foi revogado a pedido do presidente Jair Bolsonaro, sem mais explicações.

O que nos falta, agora? ​Desemprego recorde, família abaixo da linha da pobreza, ​Inflação nas alturas, consumo caindo, país em crise política, centenas de milhares de famílias enlutadas pela pandemia e, além de tudo, não podemos nos sentir seguros nem em sair para trabalhar ou viver a vida. O Brasil atual é triste, violento e totalmente​ imprevisível.