Tom positivo externo é insuficiente para animar Ibovespa, que mostra queda

O tom levemente otimista no exterior é insuficiente para estimular alta do índice Bovespa nesta sexta-feira, 20. Após abrir aos 112.921,52 pontos e subir 0,09%, na máxima aos 113 024,87 pontos, o Ibovespa mudou de direção, caindo para a faixa dos 111 mil pontos. A agenda esvaziada e o vencimento de opções sobre ações no índice reforçam o clima negativo, abrindo espaço para volatilidade. Em seu último pregão no Ibovespa, as ações da Americanas subiam 17%. Ontem, a Justiça aceitou o pedido de recuperação judicial da empresa.

Com exceção do minério de ferro, que fechou com valorização de 1,76% em Dalian, na China, os ganhos no exterior são moderados.


O foco de atenção hoje recai sobre discursos de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) e no último dia do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça. Já no Brasil, os ruídos políticos seguem no radar dos investidores.

A expectativa é de um pregão instável, com diminuição do fluxo, o que é "natural" para uma sexta-feira, avalia a economista Ariane Benedito, do time de relações com investidores da Esh Capital. "O cenário para o Brasil ainda é de incerteza. Pode-se ter mais ajuste de posição tanto por conta do vencimento de opções sobre ações quanto pelo cenário de aversão a risco do local", diz. A economista lembra que nos últimos dias os ruídos políticos não penalizaram tanto o índice Bovespa - que por ora deve fechar a semana em alta (acumula quase 1% até agora) - por conta dá situação da Americanas.

"Em dia de exercício de opções é natural a volatilidade, e agora ainda mais por conta do caso da Americanas. A fala do Lula também beneficia esse quadro aversão a risco. Coloca um sinal amarelo, embora saibamos que o governo não tem poder de barganha para mexer na independência do BC. Porém, é um sinal ruim", avalia Gustavo Neves, especialista em renda variável da Blue3. "O Ibovespa subiu muito nos últimos dias. Estava esperando para realizar", completa Neves.

O analista da Empiricus Matheus Spiess ressalta que a queda do índice Bovespa é puxada por alguns papéis com mais liquidez, como Petrobras, alguns do setor de siderurgia e bancos. "Ontem começou deste jeito negativo. Pode ser que vire o jogo. Tem alguns pesos pesados de mau humor no interior do índice. A alta de Vale é insuficiente para animar", diz.

O comportamento, afirma Spiess, reflete em parte os inúmeros desafios internos. Além de o mercado tentar entender o caso da Americanas e tentar vislumbrar como isso ficará no futuro, há preparação dos investidores para a safra de balanços do quarto trimestre, "que não parece que será grande coisa", e tem ainda as falas de Lula. "Apesar de terem sido desmentidas, gera apreensão em termos de certa interferência", afirma o analista da Empiricus.

Ontem, o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse não haver nenhuma predisposição por parte do governo de fazer qualquer mudança na relação com o Banco Central. A afirmação veio após Lula criticar, nesta semana, em entrevista à GloboNews, e ontem, em encontro com reitores, a política de juros, com a Selic em 13,75% ao ano, e a meta de inflação.

Reportagem especial do Estadão/Broadcast mostra que a fala de Lula tem a meta de inflação como alvo, indicando que o presidente pode querer mudá-las na tentativa de brecar o risco de uma recessão econômica.

O mercado monitora a reunião de Lula com Padilha e o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, além do encontro do chefe do Executivo com o presidente da Fiesp, Josué Gomes, e com as Forças Armadas.

Às 11h33, o Ibovespa cedia 0,97%, aos 111.827,41 pontos, após cair 1,05%, na mínima aos 111.734,58 pontos, abertura aos 112 921,52 pontos e máxima aos 113.024,87 pontos (alta de 0,09%). Petrobras cedia 1,20% (PN) e 1,76% (ON). Entre as siderúrgicas, Gerdau PN cedia 0,78%. Já Vale subia 0,63%.