O que está por trás do ataque às urnas

O que está por trás do ataque às urnas -


O verdadeiro motivo dos ataques de Bolsonaro às urnas, mais exatamente contra o sistema de eleições através da votação por meio da utilização de urnas eletrônicas, tem como objetivo exclusivo colocar sob suspeita o resultado das eleições que se avizinham, não porque as urnas sejam passíveis de fraude, mas simplesmente para justificar, desde já, uma eventual e provável derrota que se prenuncia. E uma derrota que se vislumbra dolorida justamente frente a um de seus maiores rivais, o candidato do PT.

Como estamos cansados de saber, fato, aliás, que obviamente não é desconhecido para o Presidente Bolsonaro, as urnas eletrônicas são plenamente confiáveis e comprovadamente seguras por não se utilizarem do ambiente da Internet e por não haver qualquer conexão entre uma urna e outra. Tais fatos as tornam invioláveis contra ataques de hackers e, por serem auditáveis, sim, impedem que venham a ser programadas para gerar fraudes. Tanto que esse sistema vem sendo utilizado há mais de vinte e cinco anos e jamais se comprovou qualquer denúncia de fraude.

Os ataques de Bolsonaro decorrem da mera suposição de que ele, nas eleições de 2018, teria vencido já no primeiro turno, mas que fraudes, jamais comprovadas, teriam levado o pleito para decisão em segundo turno. Mera infundada suspeita. Afinal, é importante lembrar que nenhum levantamento de qualquer pesquisa eleitoral realizada na época, apontava ou previa que aquela eleição pudesse vir a ser decidida já no primeiro turno. O resultado, portanto, se manteve dentro das previsões, nada justificando as suspeitas de Bolsonaro.

O verdadeiro objetivo de Bolsonaro, no entanto, é que já prevendo que possa vir a ser derrotado em sua pretensão de reeleição, Bolsonaro ataca as urnas, afirmando que eventual e provável derrota somente ocorrerá se houver fraude. O que pretende Bolsonaro com essa farsa? Obviamente insuflar perigosamente sua base raiz. Pior, ainda, é quando insufla seus arraigados seguidores ao colocar a discussão no patamar da luta entre o bem e o mal, mormente ao tachar, sempre que pode, seu mais poderoso adversário, como um cidadão corrupto e representante do “comunismo”.

Quanto a espalhar o receio de que Lula possa implantar o comunismo no Brasil, tal fato se mostra extremamente equivocado. Lula e o PT não apresentam viés comunista e nem representam perigo que leve o Brasil a ser uma Cuba ou uma Venezuela. Lula e seu partido são legítimos representantes do “socialismo democrata”, sistema político que vem governando países inclusive desenvolvidos, como Canadá, Espanha, Noruega, Suécia, dentre outros.

Por outro lado, e é verdade que pesa sobre o ex-presidente Lula o fato de ter participado de um dos maiores esquemas de corrupção já existentes em nosso país, o “mensalão”, além de, juntamente com Dilma, sua sucessora, ter empreendido, ou ao menos permitido, a existência do “petrolão”, outro grande esquema de corrupção que quase levou à falência uma das maiores empresas de petróleo do mundo, a Petrobrás, não é menos fato que no governo Bolsonaro grassavam inúmeras suspeitas de corrupção, sobretudo associadas ao propalado “orçamento secreto”, que nada mais é do que um “mensalão” com nova roupagem.

Compreende, mais exatamente, um instrumento que vem sendo utilizado pelo governo Bolsonaro para comprar o apoio de deputados e senadores, a fim de evitar que venha a enfrentar eventual processo de impeachment. Mas o perigo Bolsonarista não para por aí. Defensor confesso da ditadura e dos torturadores que atuaram naquela época, Bolsonaro jamais escondeu seu viés autoritária e, em muitas de suas pregações, sempre insinuou a hipótese de se perpetuar no poder, amparado, evidentemente, na atuação das Forças Armada que, segundo sua imaginação, podem dar respaldo às suas ambições ditatoriais.

Por isso mesmo é que, ao colocar sob suspeita o resultado das eleições, o que de fato quer o Presidente é que, em caso de eventual e provável derrota, consiga insuflar perigosamente seus diletos, obstinados e ferrenhos eleitores a ponto os incentivar a irem às ruas para promover badernas, tal como ocorrera no caso do Capitólio, pelos partidários de Trmp, com o propósito de compelir uma atuação repressiva das Forças Armadas, que favoreça e ampare seus latentes potenciais golpistas. Ocorre que nosso país está escolado contra esse tipo de comportamento e, principalmente, que nossas instituições, apesar de tudo, têm se mostrado fortes a ponto de evitar que essa situação possa prosperar. Isso fica claramente demonstrado através da elaboração do manifesto que defende a democracia, cujo documento, em cerca de 24 horas, recebeu mais de trezentas mil assinaturas de importantes personalidades, dos mais diversos segmentos, e cuja leitura ocorrerá oficialmente no dia 11 de agosto, data em que se comemora o icônico dia do advogado, ou seja, na data em que se comemora a autorização para instalação dos cursos jurídicos no Brasil.

Tentando minimizar o documento mas demonstrando toda sua preocupação, Bolsonaro a ele se referia ao dizer que não precisa de eventual “cartinha” para lembrá-lo de seus deveres democráticos e do respeito que deve às disposições constitucionais. Bem ao contrário, no entanto, do que afirmara o Presidente, o documento vem sendo considerado fundamental na luta de nossa sociedade contra os arroubos autoritários que Bolsonaro vem demonstrando ao longo de toda sua carreira política.

Além desse documento que compreende um verdadeiro levante de nossa sociedade em favor da democracia, é importante destacar os pronunciamentos de diversos importantes governos estrangeiros, tais como os governos dos Estados Unidos e do Reino Unido, que demonstraram absoluta confiança em nosso processo eleitoral, comprometendo-se a aceitar e reconhecer, desde logo, o resultados das urnas. Tais fatos nos enchem de esperança e nos levam a crer que o resultado das eleições, seja ele qual for, venha a ser recebido de forma pacífica e respeitado por todos, inclusive pelos bolsonaristas mais obcecados.

*Roberto Oliveira, o Betão, é advogado em São Paulo