Entre janeiro e junho deste ano, 948 mil famílias que vivem na cidade de São Paulo estavam inadimplentes — são 14,7 mil lares a mais com contas em atraso do que o registrado no mesmo período do ano passado. O número representa uma média 23,5% de famílias, ante 22,9% registrados no primeiro semestre de 2022.
Os dados são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), elaborado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). O endividamento, por outro lado, registrou queda no semestre: de 74,1%, entre janeiro e junho de 2022, para 72,9%, no mesmo período deste ano.
São 2,94 milhões de famílias na capital paulista que têm algum tipo de dívida — no ano passado eram 2,97 milhões. Sem surpresas, o cartão de crédito continua sendo o maior vilão entre os endividados (83,5%), seguido pelos carnês (14,4%), pelo crédito pessoal (11,1%) e pelo crédito consignado (6%). De acordo com a FecomercioSP, a redução do endividamento e o aumento da inadimplência são sinais de alerta frente a um cenário desafiador para as famílias paulistanas. Embora o mercado de trabalho esteja aquecido, a inflação tem demorado para ceder e o crédito permanece caro, o que limita o acesso e dificulta o pagamento e a negociação de dívidas.
Por outro lado, a partir de julho, o Desenrola, novo programa do governo federal, deve ajudar a reduzir a inadimplência no curto prazo. Contudo, a Federação ressalta que mesmo com o parcelamento em 60 meses, as famílias, principalmente as de baixa renda, correm o risco de não conseguirem arcar com esse compromisso ao longo do tempo.
Consumidores mais otimistas
Segundo o levantamento da Entidade, o cenário ficou relativamente mais favorável às finanças domésticas: o índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) registrou crescimento de 29,8% no primeiro semestre, em comparação ao mesmo período de 2022. Todos os sete itens analisados pela pesquisa apontaram alta, com destaque para renda atual e momento para duráveis, cujas variações positivas foram de 55,6% e 42,9%, respectivamente.
O Índice de Confiança do Consumidor (ICC), outra pesquisa de confiança da FecomercioSP, também seguiu a linha positiva e apontou crescimento de 19,5%. Os dois itens analisados nesse indicador obtiveram alta: enquanto o índice de condições econômicas atuais registou elevação de 42,9%, na avaliação do cenário econômico do País e da família em médio e longo prazos, o aumento foi de 11,3%.
A FecomercioSP explica que a situação média da família paulistana está melhor do que há um ano. No entanto, os juros altos têm trazido complicações para acerto de contas e consumo de longo prazo. Além disso, inflação é outra variável que ainda aperta o bolso, por mais que esteja desacelerando. A tendência, no curto prazo, é de manutenção dos números das três pesquisas, pois não há nenhum indício, no momento, de qualquer tipo de mudança. Por exemplo, a evolução gradativa do emprego e da renda é, de certa forma, combatida pelos juros elevados. Somente quando o Banco Central (Bacen) iniciar um novo ciclo de cortes da Selic (taxa básica de juros) será possível prever melhoras mais significativas na inadimplência e no consumo.
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