O ex-diretor geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, preso na manhã desta 4ª feira (9.ago) em uma operação que investiga interferência nas eleições de 2022 é, também, investigado por omissão durante os bloqueios feitos por caminhoneiros nas rodovias do país, após a derrota de Jair Bolsonaro (PL) no 2º turno.
A Operação Constituição Cidadã, deflagrada nesta 4ª, investiga integrantes da corporação que "teriam direcionado recursos humanos e materiais com o intuito de dificultar o trânsito de eleitores no dia 30 de outubro de 2022".
Os crimes apurados pela Polícia Federal colocam sob os holofotes a relação próxima do alto comando da PRF com Bolsonaro, que em seu governo ampliou as competências da corporação para além da fiscalização de estradas e rodovias.
Vasques foi nomeado diretor-geral da PRF por Bolsonaro em abril de 2021. Em seu comando, a corporação esteve envolvida em casos emblemáticos, como a morte por asfixia de Genivaldo de Jesus, dentro do porta-malas de uma viatura, em maio de 2022. No mesmo mês, uma operação conjunta da PRF com o Bope (Batalhão de Operações Especiais da PM do Rio de Janeiro) matou 25 pessoas na Vila Cruzeiro, favela da zona norte do Rio.
Vista como uma polícia aliada de Bolsonaro, a PRF fazia, inclusive, a escolta do ex-presidente em suas "motociatas". Em várias delas, ele não usou capacetes e, mesmo assim, não foi multado pelos agentes. Esse uso político da instituição se deu, de forma ainda mais explícita, durante a chefia de Silvinei Vasques.
Campanha para Bolsonaro
Na véspera do 2º turno das eleições presidenciais de 2022, o então diretor-geral da PRF usou suas redes sociais para pedir votos para Jair Bolsonaro, que disputava o pleito com Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Antes, no dia 29 de agosto, Vasques já havia declarado ter proximidade com o chefe do Executivo em entrevista a uma rádio. Já no dia 6 de outubro, elogiou o então presidente durante um discurso de formação policial.
O Ministério Público Federal (MPF), no Rio de Janeiro, listou oito episódios em que Silvinei Vasques teria usado indevidamente seu cargo, durante a campanha eleitoral de 2022, para beneficiar a candidatura de Bolsonaro.
Blitze no Nordeste
No dia 30 de outubro de 2022, dia do 2º turno das eleições presidenciais, a Polícia Rodoviária Federal realizou mais de 500 operações contra veículos que faziam o transporte de eleitores. A maioria das blitze foram feitas no Nordeste, região em que Lula tinha ampla vantagem contra Bolsonaro.
Um possível uso político da polícia pelo então governo Bolsonaro fez com que o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), se reunisse com Silvinei Vasques e determinasse a suspensão das operações.
Omissão durante bloqueios de estradas
As rodovias passaram a ser ocupadas por caminhoneiros e eleitores bolsonaristas logo após a vitória de Lula nas eleições presidenciais. No final da tarde do dia 31 de outubro, um dia após o pleito, foram registrados 236 bloqueios em estradas de 20 estados do país.
A falta de ação preventiva e a demora da Polícia Rodoviária Federal em reagir para desmobilizar os bloqueios de apoiadores do presidente derrotado fizeram com que o Supremo Tribunal Federal (STF) determinasse que a PRF encerrasse o bloqueio e aplicasse multas aos participantes dos atos antidemocráticos.
CPMI do 8 de janeiro
Silvinei Vasques foi a primeira testemunha a depor à CPMI do 8 de janeiro, no dia 20 de junho de 2023. Ele apresentou dados sobre a Operação Eleições 2022 e negou ter usado a instituição para favorecer o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no 2º turno da disputa eleitoral.
Vasques classificou as suspeitas levantadas contra a atuação da polícia nas eleições de "maior injustiça que foi realizada contra a PRF". Mas um documento interno, enviado para as Superintendências da Polícia Rodoviária Federal, revelou que a Operação Transporte Seguro deveria ser feita apenas em 10 estados: nove deles na região Nordeste. A ordem de serviço foi assinada pelo então diretor de operações da PRF, Djairlon Henrique Moura, subordinado de Silvinei Vasques.
Em julho, a CPMI aprovou a quebra de sigilo bancário, telefônico, fiscal e telemático do ex-diretor-geral da PRF.
Quem é Silvinei Vasques
Silvinei Vasques, de 48 anos, é natural de Ivaiporã, no Paraná e tem, no currículo, quatro graduações: Ciências Econômicas, Direito, Segurança Pública e Administração. Mestre em Administração pela Universidade Uniatlantico, na Espanha, Vasques ingressou na Polícia Rodoviária Federal (PRF) em 1995.
Em 2007, se licenciou da instituição para atuar como secretário municipal de Segurança Pública e de Transportes em São José (SC), cargo exercido até 2008.
Foi superintendente da PRF em Santa Catarina e no Rio de Janeiro, onde também atuou como Coordenador-Geral de Operações.
Em 6 de abril de 2021, foi nomeado pelo ministro da Justiça do governo Bolsonaro, Anderson Torres, como diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal. Na época, ele era superintendente da instituição no Rio, berço da família Bolsonaro.
Em novembro de 2022, Vasques se tornou réu por improbidade administrativa, por, segundo o Ministério Público Federal (MPF), usar o cargo durante a campanha eleitoral para beneficiar a candidatura à reeleição de Jair Bolsonaro. Ele foi exonerado do cargo no dia 20 de dezembro de 2022 e, três dias depois, se aposentou voluntariamente.
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