A Vale, Brumadinho e as barragens: faltam respostas



“Depois que esse desastre aconteceu, não podemos mais conviver com esse tipo de barragem. Tomamos a decisão de eliminar, acabar com todas a barragens a montante”. Foi assim que o presidente da Vale, Fabio Schvartsman, anunciou que a empresa só após duas tragédias vai acabar com o modelo mais barato de armazenamento de rejeitos que mantém em 10 unidades espalhadas pelo país. 

Na entrevista, ele anunciou que a empresa vai investir R$ 5 bilhões para encerrar as atividades nas barragens a montante. Segundo ele, a Vale tinha 19 barragens construídas por esse método, e continuava usando dez delas, entre elas a barragem da mina do Córrego do Feijão.

O que assusta é por que só agora, após centenas de mortes, centenas de desabrigados e danos ambientais incomensuráveis à fauna a flora a Vale decide acabar com esse tipo de barragem?

Se a empresa sabia que esse método de armazenamento é mais frágil e perigoso, por que insistiu em usá-lo? Esse investimento não foi feito antes para garantir mais lucros para a empresa e os seus acionistas? Já se sabia que se a Vale deixasse de usar esse método iria reduzir a produção em 40 milhões de toneladas de minério de ferro? 

Quem foi o responsável por optar por usar esse tipo de barragem, que os especialistas consideram o mais simples e menos seguro? Quem, mesmo sabendo dos riscos após a tragédia de Mariana, decidiu continuar com as barragens a montante? 

Será que apenas os engenheiros de empresas terceirizadas que foram presos até agora são os culpados pela tragédia de Brumadinho? Será que quem deu ordem, quem autorizou a barragem, não sabia dos riscos para os trabalhadores e trabalhadoras e para a população do entorno? 

Se a Vale sabia, conforme consta do seu plano de emergência da barragem de 2018, dos riscos de destruição do refeitório e da aérea administrativa, onde morreram a maioria das pessoas, por que  manteve a barragem em funcionamento?

O que se espera da Vale e das autoridades que estão acompanhando o caso é resposta para essas e outras perguntas para fazer com que a dor de centenas de famílias de Brumadinho e Mariana não volte tenha sido em vão.

* Luiz Marinho é presidente do diretório estadual do PT-SP

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