No mundo da fantasia

A sexualidade feminina é um dos assuntos que ainda em tempos modernos se cerca de tabus. Verdades pré-estabelecidas, mesmo sem maiores fundamentos, tomam força de regra e atrapalham o jogo da brincadeira amorosa.

É tempo de questionar: será mesmo que o desejo feminino é menor do que o dos homens? Para eles, o sexo teria, realmente, peso e importância maior? Ou estaríamos menosprezando a energia sexual feminina? Estudos apontam que, em comunidades primitivas, eram as mulheres que determinavam e elegiam seus múltiplos companheiros. Talvez a cortina cultural e social esteja ocultando um desejo sexual feminino fluido, intenso e até desconcertante.

A monogamia é a base eleita de costura para nosso equilíbrio emocional e familiar. Mas acabamos aceitando por convenção que em relações estáveis e duradouras é normal o desejo sexual diminuir. Enfim, como manter o desejo pelo que já se tem? É tempo de questionar: o que nos faz acreditar que mesmo em relações estáveis já temos algo ou alguém? Por que não manter aceso o encanto da conquista e reinventá-la, fazendo o cultivar do erotismo na relação um grande e prazeroso desafio?

Esther Perel, em seu best-seller “Sexo no Cativeiro”, nos convida a dispensar a espontaneidade. Planejar algo cria expectativa e alimenta a paixão. “Precisamos querer não resistir ao sexo”, diz a autora.  A vida atual é tão cheia de expectativas e busca de desempenho. Transportamos isso para nós mesmas, nossos corpos e relações. É tempo de questionar: não poderíamos apostar no gratuito, no descontraído e no brincar, amando sem cobranças e sem metas?

Desenvolvemos recursos que nos levam mais rapidamente a nossas buscas e objetivos. Mas não valorizamos a fantasia sexual como um atalho direto para o prazer. Considera-se fantasia sexual toda a atividade mental que gera desejo e intensifica o entusiasmo. Muito já se questionou se as fantasias não seriam pecado ou uma perversão de mentes imaturas. Hoje são reconhecidas como um componente natural e saudável da sexualidade adulta. O amor ganha o tempero da imaginação, saímos dos limites do mundo racional e vamos para o terreno da liberdade, onde as fantasias não tem compromisso com convicções morais e ideológicas.

Assim, reconhecendo a fluidez do desejo, reinventando a conquista e inserindo a fantasia como antídoto aos sentimentos opositores do prazer; vamos revendo nossos conceitos e nos permitindo novas verdades.

Cristiane Schneckenberg é médica ginecologista, obstetra e Participa da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia e da Sociedade de Ginecologia da Infância e Adolescência

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