Opinião: Faltam mudanças radicais no Oscar



DETSCHE WELLE BRASIL

Branco demais, masculino demais: essa foi a principal acusação antes da cerimônia do Oscar neste ano. A premiação distingue muito poucas diretoras e roteiristas mulheres e cineastas negros, afirmam os críticos. Há de se concordar – bem como provar a afirmação com dados e números. Mas não seria o caso de ir mais a fundo para encontrar o verdadeiro problema do Oscar?

Vamos voltar no tempo: o Oscar existe desde 1929. O prêmio foi criado quando o cinema ainda era, em grande parte, mudo. Eram outros tempos, em que poderosos donos de estúdios dominavam Hollywood. Mas, já naquela época, o meio ainda jovem derrapava em sua primeira crise: os espectadores não iam ao cinema.

Era preciso criar um prêmio. Um prêmio que voltasse a colocar o cinema sob os holofotes. Com muito marketing, relações públicas e um evento de gala. O conceito funcionou. O Oscar, entregue pela primeira vez em 1929, mostrou-se uma história de sucesso. Não imediatamente em seu primeiro ano, mas em pouco tempo a premiação, com tudo o que há em volta, se transformou num poderoso motor para toda a indústria.

Premiavam-se os filmes que, antes da cerimônia, podiam ser vistos nos cinemas, ou seja, filmes dos Estados Unidos. À época, o cinema europeu, sem falar de outros locais do planeta, enfrentava muita dificuldade no continente norte-americano. O Oscar era um prêmio nacional de cinema, que deveria fortalecer a indústria local. Funcionou – e basicamente nada mudou até hoje.

Exceto pelo fato de que o mundo mudou desde então. Em certo momento a Academia também percebeu isso. Em 1948, foi introduzido um prêmio especial para filmes do exterior, ou seja, filmes de países de língua não inglesa. Em 1957, a distinção única passou a ser chamada, de maneira consequente, de "Oscar de melhor filme em língua estrangeira".

Em 2020, a categoria foi rebatizada de "melhor filme internacional". Via de regra, cinco filmes são indicados – o que quer dizer que todo o mundo do cinema pode ser encontrado nessa única categoria. Por outro lado, isso também quer dizer que o Oscar continua sendo um prêmio nacional de cinema. Nada contra. Outros países também fazem assim.

A única diferença é que, com seu poder financeiro, a aura do tapete vermelho e a posição dominante dos filmes de Hollywood no mundo todo, o Oscar tem um enorme poder de atração. Entre muitos amantes da sétima arte, vale como o "prêmio cinematográfico mais importante do mundo".

Ainda assim, é uma premiação "American First" (América em primeiro lugar). Não reflete, de maneira nenhuma, o cinema mundial – diferentemente da Palma de Ouro de Cannes ou do Leão de Ouro de Veneza.

O Oscar é ainda mal-interpretado do ponto de vista artístico e irremediavelmente superestimado. Por isso, também não faz sentido sobrecarregá-lo com toda sorte de objetivos nobres: a indicação de mais mulheres, a valorização de produções afro-americanas, a premiação de todos os grupos populacionais dos Estados Unidos. Essas são algumas das demandas.

Os europeus – para mencionar apenas esse continente – deveriam ter autoconfiança suficiente para refletir em seu próprio prêmio a diversidade de suas línguas e povos. Com o Prêmio do Cinema Europeu (European Film Awards), criado em 1988, isso é possível e está sendo feito.

Mas a mídia europeia, mesmo a mais esclarecida e crítica, costuma olhar de maneira estrábica e fascinada apenas para Hollywood. Quem vai ganhar neste ano? Quem usará o que no tapete vermelho? Que comentário crítico sobre o noticiário mundial será pronunciado durante o evento? Vão falar das mudanças climáticas? E assim por diante.

Minha gente, o Oscar é um evento perfeitamente estilizado. É bonito de se ver, um encontro de grandes estrelas e estrelas menores. Também premia bons filmes americanos. Mas não é uma festa internacional do cinema. Não oferece um fórum para debates socialmente relevantes. Também não deveria ser levado muito a sério quando se trata de direitos das mulheres e de minorias. Para isso, existem outras plataformas importantes.

O Oscar é show, glamour e um palco para moda, fofocas e imprensa sensacionalista. O fato de "Parasita" ter sido o primeiro filme de língua não inglesa a receber a estatueta de melhor filme não muda nada nisso. Se o Oscar realmente quiser se tornar um prêmio internacional de cinema, precisaria repensar radicalmente suas categorias. Somente nesse caso seria possível abordá-lo com demandas socialmente relevantes. Caso contrário, continuará sendo o que é: um prêmio comercial americano de cinema com muito show.

Jochen Kürten é jornalista da DW

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