Por que o excesso de ácidos não é bom para nossa saúde?

Por que o excesso de ácidos não é bom para nossa saúde? -


O metabolismo humano produz ácidos orgânicos e substâncias alcalinas. Em condições de equilíbrio químico, estes dois produtos metabólicos reagem entre si e ocorre a reação de neutralização por meio da formação de sais e água. 

A vida humana depende deste equilíbrio químico. Por outro lado, as situações de estresse orgânico como também as doenças e mecanismos diversos de injúria aos órgãos, causam desequilíbrio químico, com acúmulo progressivo de ácidos em nossa circulação sanguínea.

Temos vários exemplos de estresse orgânico, principalmente relacionados às atividades da viada cotidiana. Quando estamos ansiosos e demasiadamente preocupados com alguma coisa - véspera de prova, resultado de um exame decisivo , dia do casamento, decepção amorosa - nosso organismo produz grande quantidade de hormônios de estresse e consequentemente níveis elevados de ácido clorídrico. A manifestação clínica imediata é a dor de estômago, com náuseas e muitas vezes vômitos.

Após um período prolongado de atividade física aeróbica, como num jogo de futebol ou mesmo numa corrida de maratona, o metabolismo dos músculos produz quantidade significativa de ácido lático, o qual provoca câimbras e dor muscular intensa e limitante.

As pessoas que consomem quantidade exagerada de carnes vermelhas, frutos do mar e alguns grãos como feijão, estão mais sujeitas ao aumento de ácido úrico na circulação sanguínea. Este acúmulo de ácido úrico - denominado hiperuricemia - pode causar diversos agravos ao nosso organismo como hipertensão arterial sistêmica, insuficiência renal e doenças osteoarticulares.

No âmbito das principiais doenças, o acúmulo de ácidos no sangue é extremamente deletério, pois contribui para falência progressiva dos órgãos. Os processos infecciosos como a pneumonia, os abscessos e a sepse cursam com a produção de muitos ácidos orgânicos. Estados de desidratação profunda, como nas diarréias, vômitos profusos e grandes queimaduras, prejudicam a irrigação sanguínea dos tecidos orgânicos, comprometendo a oxigenação e a vitalidade dos órgãos. Sempre que ocorre redução do fluxo sanguíneo para os órgãos, instala-se importante acidose e consequente disfunção e maior risco de morte celular.

Nas insuficiências orgânicas, como insuficiência cardíaca, renal e hepática, o estado de acidose progressiva, quando não responsivo as medidas terapêuticas,  culmina com a morte.

Diante de tantas evidências, pode-se constatar que a morte de um ser humano é resultado de um estado de acidose progressiva, no qual os mecanismos bioquímicos do corpo não conseguem mais compensar por meio da neutralização química. A quantidade de ácidos orgânicos torna-se substancialmente superior a quantidade de substâncias alcalinas e aí vamos morrendo gradualmente.

Para atenuar este risco de acidose orgânica, temos de buscar constantemente mudar nosso estilo de vida e padrão alimentar, além de não medir esforços para prevenir as diversas doenças. Quanto ao estilo de vida, o primeiro passo é saber como lidar e como controlar as tensões emocionais. Para isto, devemos adotar a prática regular de atividade física, criar uma rotina de atividades culturais e de lazer e, quando necessário, fazer uso de medicamentos sempre sob supervisão médica.

O padrão alimentar de países ocidentais geralmente prioriza alimentos muito gordurosos e grande quantidade de carnes vermelhas e açúcares. Certamente estes hábitos alimentares resultam em resíduos metabólicos ácidos, causando gradativamente injúria aos vasos sanguíneos e acúmulo de placas de gordura, calcificação vascular e muitas obstruções ao fluxo sanguíneo. Nota-se, portanto, que estes hábitos alimentares inapropriados produzem metabólitos ácidos que, por sua vez, determinam redução do fluxo sanguíneo em vários órgãos, fato este que potencializa o acúmulo de ácidos orgânicos em nossa circulação sanguínea.

Para prevenção das principais doenças, como cardiopatias, infecções e o câncer, devemos atuar diretamente nos fatores de risco, como hipertensão arterial, diabetes e obesidade. Controlar o estresse e adotar atitudes alimentares saudáveis representam as estratégias mais eficientes para prevenir ou mesmo para atenuar estes fatores de risco.

Do ponto de vista qualitativo, alguns aspectos acerca do padrão alimentar ocidental podem ser discutidos, mas uma questão muito importante e ao mesmo tempo intrigante surge : como o problema gira em torno do acúmulo progressivo de ácidos orgânicos na circulação sanguínea, então deveríamos adotar uma dieta alcalina?

A resposta é não, ou pelo menos, ainda não.

Isto porque, embora haja evidências dos benefícios de alimentos e bebidas alcalinas, faltam estudos de grande relevância que comprovem esta tese. No entanto, uma constatação é verídica - dependendo do nível de tensão emocional do indivíduo e sobretudo de seus hábitos alimentares, a necessidade de neutralização química dos resíduos metabólicos ácidos torna-se prioridade e isso pode ser viabilizado por meio da ingestão de maior quantidade de vegetais, hortaliças, fibras, ingestão de pelo menos dois litros de água ao dia, além da substituição das gorduras saturadas de origem animal por gorduras vegetais e substituição dos açúcares refinados por produtos naturais como o mel de abelhas. Todas estas estratégias podem impedir o acúmulo de ácidos orgânicos no sangue, prevenindo desta forma a ocorrência de novas doenças como também o agravamento de doenças preexistentes.

O excesso de ácidos definitivamente não é bom para nossa saúde global e as principais doenças acarretam injúrias aos órgãos graças a este desequilíbrio químico. Morremos gradativamente a medida que nosso organismo não consegue mais produzir substâncias alcalinas para neutralizar esta acidose excessiva. Precisamos, portanto, rever nossos hábitos comportamentais e alimentares e, talvez, retomar alguns princípios das dietas alcalinas, tudo isto para prevenir a falência progressiva dos órgãos.

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Edmo Atique Gabriel é professor livre-docente na Unilago (União das Faculdades dos Grandes Lagos), conselheiro de Comissão Nacional de Residência Médica do MEC (Ministério da Educação), especialista em cirurgia cardiovascular, com aprimoramento em centros como Harvard Medical School e Cleveland Clinic, e pós graduado em nutrologia médica pela ABRAN (Associação Brasileira de Nutrologia). Escreve para os portais UOL e sbtinterior.com.

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