Você sabia que há um coração em nossas pernas?

Você sabia que há um coração em nossas pernas? -


A vida só é possível graças a um fenomenal motor que bombeia o sangue para todos os órgãos e que trabalha incansavelmente desde o primeiro fôlego no útero materno até o último suspiro de vida. Nosso coração é dotado de tantos atributos indispensáveis a vida, que fica  difícil escolher uma função que se sobressaia às demais.

Quando falamos em coração, obviamente vem à mente aquele órgão escondido por trás dos ossos do peito, órgão que a gente sente mas não vê, órgão que a gente até esquece de sua existência em virtude da correria do cotidiano. Este órgão consiste em um emaranhado de fibras musculares e alguns compartimentos internos.

Quando estes compartimentos são adequadamente preenchidos, o coração executa um ato de força máxima, ou seja, contrai vigorosamente para distribuir sangue e vida a todas as partes de nosso corpo.

Percebam que nosso coração é um órgão que depende de um abastecimento constante, isto é, o sangue precisa retornar ao coração , preencher seus compartimentos internos para que seja possível uma nova contração. Um coração saudável consegue distribuir maravilhosamente bem o sangue, mas precisa de mecanismos que facilitem o retorno constante do sangue, mecanismos que garantam a volta do sangue até o próprio coração. 

Este retorno de sangue até o coração pode ser facilitado pelo trabalho dos músculos de nossa panturrilha, mais conhecida como “batata da perna”. Tanto em repouso como aos esforços, estes músculos desempenham o papel de comprimir os vasos sanguíneos da panturrilha, permitindo que o sangue vença a força da gravidade e suba até o coração.

Estes músculos da panturrilha, exatamente por sua capacidade de contração e propulsão do sangue até o coração, podem ser considerados como um coração periférico ou um segundo coração. Sendo assim, se tivermos de escolher músculos de nosso corpo para fortalecer por meio da alimentação e da atividade física, seria prudente priorizar os músculos de nosso coração periférico. Estes músculos nunca terão o apelo estético de um bíceps ou de um peitoral, mas, por outro lado, estão mais diretamente ligados a prevenção de doenças, longevidade e melhor qualidade de vida.

Ao longo de nossa vida, sabemos que há um perda progressiva de nossa massa magra, especialmente massa de músculos. Nitidamente o avanço da idade pode cursar com o enfraquecimento físico, um falso aspecto de emagrecimento, mais por perda de água e músculos do que necessariamente por perda de gordura. Esta condição recebe um nome - sarcopenia - e está intimamente ligada ao desenvolvimento de doenças.

Quando insistimos na tese de que comer muita gordura e açúcar pode levar ao entupimento das artérias do coração e levar a um infarto, deveríamos ampliar ainda mais este conceito, enfatizando que uma alimentação inadequada não fortalece músculos essenciais para nossa sobrevivência, como é o caso dos músculos da panturrilha. Músculos necessitam de proteínas e água para que sua estrutura e força sejam adequadamente moldadas. Em todas as idades, mas especialmente após os 50 anos, precisaríamos de uma orientação especializada para selecionar qualitativa e quantitativamente alguns alimentos, como carnes brancas e alguns vegetais, visando aumentar a ingestão de proteínas. 
Além  disso, pensando na escolha de uma modalidade esportiva e num plano semanal de treinos físicos, seria essencial direcionar estas atividades a um fortalecimento constante dos músculos da panturrilha. Existem estudos que comparam a circunferência e volume muscular das panturrilhas e correlacionam estes achados com maiores índices de longevidade. Em geral, as pessoas com panturrilhas mais fortes são aquelas que vivem mais e desenvolvem menores taxas de doenças como câncer e insuficiência cardíaca.

Esta busca por panturrilhas mais fortes e, portanto, por um coração periférico mais saudável, extrapola as fronteiras de uma alimentação saudável e dos exercícios físicos direcionados. Não podemos negligenciar outros dois aspectos muito relevantes, como evitar a permanência em uma mesma posição por muitas horas ( ficar sentado, ficar de pé ou mesmo ficar deitado) e a escolha dos calçados mais adequados. Este último aspecto depende da orientação de um médico e de um educador físico, visando definir que tipo de calçado poderia aliviar as tensões nos músculos das panturrilhas tal como facilitar o desempenho contrátil dos mesmos. Vejam que são pequenos detalhes que podem engrandecer a saúde de nosso coração periférico.

A partir de hoje, quero fazer um acordo com vocês no tocante a prevenção de doenças. Priorizem uma boa alimentação, especialmente quanto ao teor de proteínas, façam atividades físicas que melhorem força e contração das pernas, mantenham uma hidratação rigorosa, evitem uma mesma postura corporal por tempo prolongado e escolham criteriosamente seus calçados . Fazendo isto, estaremos alinhados com a ideia de estar fazendo bem ao nosso coração;na verdade, aos nossos dois corações.

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