Bolsonaro se irrita e abandona entrevista após pergunta sobre Centrão

Ao ser perguntado se a indicação para o Ministério da Cidadania não tinha sido do partido Republicanos, Bolsonaro não respondeu e reclamou que "não dá para conversar" com os jornalistas, deixando o local da entrevista

Bolsonaro se irrita e abandona entrevista após pergunta sobre Centrão - Reprodução/Twitter


O presidente Jair Bolsonaro (PL) se irritou com uma pergunta sobre o Centrão nesta terça-feira, 28, e abandonou a entrevista coletiva que concedia no evento Diálogos com Candidatos à Presidência da República, organizado pela União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços (Unecs).


Primeiro, após discursar para empresários dos setores de comércio e serviços, o candidato à reeleição encontrou uma senhora venezuelana e pediu que a imprensa fizesse perguntas a ela. Bolsonaro costuma citar a Venezuela, governada de forma ditatorial pelo esquerdista Nicolás Maduro, para atacar o PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as pesquisas de intenção de voto para o Palácio do Planalto.

Em seguida, quando questionado se ele se sentia constrangido por negociar com o Centrão, Bolsonaro respondeu que precisava "aprovar projetos". "Todos os 513 (deputados) que estão dentro da Câmara foram votados. E é ali que eu tenho que tirar 308 votos (para aprovar uma PEC) ou 257 em cada votação", disse Bolsonaro.

Um dos profissionais da imprensa presente perguntou ao presidente se o Ministério da Cidadania tinha sido "entregue" ao grupo político, mas ele negou. "Tchutchuca do Centrão? Você não tem classe para fazer a pergunta, não? Quem é Tchutchuca do Centrão? Me apontem ministérios entregues para políticos, me apontem! João Roma? (Ex-ministro da Cidadania) tenente do Exército. Botei o João Roma lá. Fez um bom trabalho", afirmou aos jornalistas.

Ao ser perguntado se a indicação para o Ministério da Cidadania não tinha sido do partido Republicanos, Bolsonaro não respondeu e reclamou que "não dá para conversar" com os jornalistas, deixando o local da entrevista.

O presidente criticava as legendas do Centrão na campanha de 2018, mas acabou se unindo ao grupo durante seu mandato para evitar o impeachment e ter mais governabilidade. Hoje, Bolsonaro é filiado do PL, partido comandado por Valdemar Costa Neto, ex-deputado condenado e preso no escândalo do Mensalão.

Neste mês, Bolsonaro foi chamado de "tchutchuca" do Centrão por um youtuber, no Palácio da Alvorada, e também reagiu de forma agressiva. O presidente tentou tomar o celular do homem e o puxou pela manga da camiseta.

No primeiro debate presidencial na TV, realizado no último domingo, 28, o candidato à reeleição se irritou com uma pergunta e atacou a jornalista Vera Magalhães e a senadora Simone Tebet, candidata do MDB. Na ocasião, a candidata Soraya Thronicke (União Brasil) chegou a dizer que muitos homens são "tchutchuca" com outros homens e "tigrão" com as mulheres, em referência ao presidente.

A avaliação na campanha é de que Bolsonaro estava indo bem no debate ao usar os escândalos de corrupção nos governos petistas para tentar aumentar a rejeição ao ex-presidente Lula, seu principal adversário na disputa eleitoral. No entanto, a performance do candidato à reeleição "desandou" quando o foco se deslocou para o ataque às mulheres, disseram aliados ao Broadcast Político. "Ele não conseguiu segurar a onda", afirmou uma fonte.