Brasileira Sônia Guajajara é indicada a prêmio da UE

Líder indígena e ativista maranhense concorre ao Prêmio Sakharov 2022, concedido pelo Parlamento Europeu e é mais alta homenagem prestada pela União Europeia ao trabalho na área de direitos humanos.

Brasileira Sônia Guajajara é indicada a prêmio da UE - Eraldo Peres/AP/Picture Alliance


A líder indígena e ativista brasileira Sônia Guajajara foi anunciada nesta segunda-feira (26/09) como uma das indicadas ao Prêmio Sakharov 2022, do Parlamento Europeu. Trata-se da mais alta homenagem prestada pela União Europeia ao trabalho em matéria de direitos humanos.


Guajajara foi indicada pela bancada dos verdes por seu trabalho na proteção do direito dos povos indígenas, motivo pelo qual se tornou alvo de perseguições.

Também indicados à honraria, cujo vencedor será anunciado na terceira semana de outubro, estão o fundador do Wikileaks, Julian Assange, a jornalista morta durante uma operação israelense na Cisjordânia ocupada, Shireen Abu Akleh, a Comissão da Verdade colombiana, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, e o povo e as organizações civis ucranianas.

O grupo do Partido Popular Europeu e os Conservadores e Reformistas manifestam-se a favor de que o prêmio seja dado ao chefe de Estado da Ucrânia, num reconhecimento à sua coragem em se manter no país e por ser "uma inspiração para todos os ucranianos que resistem e também para todos os europeus".

Por outro lado, os sociais-democratas e os liberais do Renovar a Europa são a favor de que a honraria vá para o povo ucraniano, sendo representado por "iniciativas da sociedade civil" e "instituições estatais e públicas que fornecem ajuda de emergência" e defendem e protegem os direitos humanos, as liberdades e a democracia.

A esquerda europeia indicou a Comissão Colombiana da Verdade, uma das três instituições que compõem o Sistema Integral de Verdade, Justiça,

eparação e Não Repetição da Colômbia, criado no acordo de paz de 2016 para defender os direitos de milhões de vítimas da guerra civil colombiana.

Também foi nomeada a jornalista palestino-americana Shireen Abu Akleh, assassinada em maio, enquanto cobria uma operação militar israelense num campo de refugiados em Jenin, após 25 anos trabalhando para rede de televisão Al Jazeera.

Outro grupo de eurodeputado optou por apresentar a candidatura de um dos fundadores do WikiLeaks, Julian Assange, acusado pelos Estados Unidos de 20 crimes por informações e documentos expostos online.

O Prêmio Sakharov ocorre desde 1988 e leva o nome do físico, dissidente soviético e Prêmio Nobel da Paz Andrei Sakharov e é dotado de 50 mil euros. Em 2021, o vitorioso foi o líder oposicionista russo Alexei Navalny, distinguido "pela sua consistente luta contra a corrupção do regime de Vladimir Putin".

Quem é Sônia Guajajara

Internacionalmente conhecida pelo nome do seu povo, Sônia Guajajara é educadora e enfermeira nascida na Terra Indígena (TI) Arariboia, no Maranhão. Uma das principais lideranças indígenas em atividade, a maranhense é coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e cofundadora da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA).

Em 2018, se tornou a primeira indígena do Brasil a disputar as eleições presidenciais (como vice de Guilherme Boulos, pelo Psol). Neste ano, concorre ao cargo de deputada federal por São Paulo, também pelo Psol. Uma de suas principais bandeiras, além da retomada da política de demarcação de territórios indígenas, é o incentivo ao pequeno agricultor e à agroecologia. "Não é possível seguir subsidiando o agronegócio como a única alternativa de crescimento econômico do Brasil", defende.

Atual membro do conselho da Iniciativa Inter-religiosa pelas Florestas Tropicais do Brasil, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Sônia também é figura pop: em 2017, foi convidada por Alicia Keys para subir ao palco do Rock'in Rio. Em 2020, conheceu o ator e ativista ambiental Leonardo DiCaprio em um evento do Oscar em Los Angeles, para onde viajou a convite da diretora Petra Costa, cujo documentário Democracia em Vertigem concorria ao prêmio. Em maio de 2022, foi eleita pela revista Time como uma das cem pessoas mais influentes do mundo.