Chefes dos três Poderes rejeitam 'atos de terrorismo' e 'golpistas'

O ato simbólico em defesa da democracia ocorreu após a invasão do Planalto, do Congresso e do STF por bolsonaristas radicais, que depredaram as instalações dos prédios públicos neste domingo, 8

Chefes dos três Poderes rejeitam 'atos de terrorismo' e 'golpistas' - Ricardo Stuckert



O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desceu a rampa do Palácio do Planalto, na noite desta segunda-feira, 9, ao lado de governadores, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e parlamentares, atravessou a Praça dos Três Poderes e caminhou até a Corte. O ato simbólico em defesa da democracia ocorreu após a invasão do Planalto, do Congresso e do STF por bolsonaristas radicais, que depredaram as instalações dos prédios públicos neste domingo, 8. Mais cedo, os chefes dos três Poderes já haviam publicado uma carta conjunta na qual classificaram a violência praticada em Brasília como de "atos de terrorismo".





"Eles querem é golpe e golpe não vai ter. Não vamos permitir que a democracia escape das nossas mãos", disse Lula, durante reunião com representantes dos 26 Estados e do Distrito Federal. Em entrevista ao chegar à sede do STF, o presidente afirmou que o caos na capital da República foi promovido por "um bando de vândalos". "Não vamos dar trégua até descobrir quem financiou isso."

O encontro de Lula com governadores teve também a participação dos presidentes do STF, Rosa Weber; da Câmara, Arthur Lira (PP-AL); e do presidente em exercício do Senado, Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), além do procurador-geral da República, Augusto Aras.

"O que vimos ontem (domingo) foi coisa que já estava prevista. Isso tinha sido anunciado há algum tempo porque pessoas que estavam nas ruas na frente de quartéis não tinham pauta de reivindicação", afirmou Lula. Mesmo assim, de acordo com ele, "todos foram pegos de surpresa" com a violência dos atos criminosos.

Lula dirigiu críticas a integrantes do Exército ao afirmar que "nenhum quartel" ou "nenhum general" se moveu para dizer a quem protestava ser proibido pedir a destituição de quem foi eleito. "Pessoas estão livremente reivindicando o golpe, na frente dos quartéis, e não foi feito nada por nenhum quartel. Nenhum general se moveu para dizer 'Não pode acontecer isso', 'É proibido pedir isso'", afirmou o presidente.

No Planalto, Rosa Weber afirmou que as atividades na Corte serão retomadas na data prevista. "O STF foi duramente atacado. Nosso prédio histórico foi praticamente destruído. Essa simbologia a mim entristeceu de maneira enorme, mas quero assegurar que vamos reconstruí-lo e no dia 1.º de fevereiro daremos início ao ano judiciário."

Na abertura da reunião, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), fez um discurso no qual afirmou o compromisso dos Estados com a democracia e disse que as polícias militares já haviam iniciado a desmobilização dos acampamentos.

Cada governador falou em nome de uma região. "Nossa solidariedade aos Poderes agredidos e nosso compromisso pela manutenção da ordem democrática", afirmou Eduardo Leite (PSDB), do Rio Grande do Sul. Pelo Sudeste, discursou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Carta

Na carta conjunta, os chefes dos Poderes afirmaram "rejeitar os atos de terrorismo, vandalismo, criminosos e golpistas" e pediram à população a "defesa da paz e da democracia". O documento foi assinado por Lula, Lira, Vital do Rêgo e Rosa Weber.

As autoridades defenderam a normalidade no Brasil. "O País precisa de normalidade, respeito e trabalho para o progresso e justiça social da Nação", disseram. O texto foi divulgado após reunião, pela manhã, no Planalto.

Tarcísio prevê democracia 'mais forte'

Ex-ministro e aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), participou da reunião dos chefes dos Executivos estaduais com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e disse que "a democracia vai sair mais forte" após o ataque às sedes dos Três Poderes, no domingo.

Representando os governadores da Região Sudeste, Tarcísio também afirmou que precisaria "aprender" com o ex-governador e atual vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin sobre o Estado de São Paulo.

O encontro com representantes dos 26 Estados e do Distrito Federal foi realizado após os atos criminosos de domingo em Brasília. Tarcísio citou a necessidade de pacificação, que, segundo ele, demanda "gestos de todos", incluindo o Judiciário, o Legislativo, o Executivo e os Estados.

"O Brasil que hoje conta com sistema de educação gratuito, que conta com sistema único de saúde universal gratuito, que construiu uma rede de proteção social que alcança tantos brasileiros, país que tem potencial enorme para crescimento e que construiu a duras penas sua democracia, é valor que tem que ser defendido, exaltado. E essa reunião significa que a democracia brasileira vai se tornar, depois dos episódios de ontem (anteontem), ainda mais forte", disse Tarcísio. O governador não previa participar do encontro, mas acabou decidindo ir a Brasília.

Distrito Federal

A governadora em exercício do Distrito Federal - palco dos ataques extremistas -, Celina Leão (PP), disse que Ibaneis Rocha (MDB) recebeu informações "equivocadas" por "infelicidade" no "momento da crise". Ele foi afastado do cargo por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.

"Primeiro, (quero) reafirmar que o governador eleito Ibaneis é um democrata, é um homem que exerceu a presidência da OAB, sabe o que significam os ataques aos Poderes da República. Preciso trazer esse posicionamento do nosso governador que foi interinamente afastado que, por infelicidade, recebeu várias informações equivocadas no momento da crise", declarou Celina.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.