Corregedoria instaura inquérito para investigar conluio entre hacker e delegado

Divisão de Crimes Funcionais irá conduzir as investigações de possível ligação entre os envolvidos

Corregedoria instaura inquérito para investigar conluio entre hacker e delegado -


A Divisão de Crimes Funcionais, da Corregedoria Geral de Polícia Civil de São Paulo, instaurou um inquérito policial para apurar possível conluio entre um hacker e um delegado de Araçatuba e sua equipe, para levantar provas contra investigados da Operação Raio X, que apurou desvios de recursos públicos da saúde por meio de contratos entre Prefeituras e Organizações Sociais de Saúde (OSSs). As informações são do portal RP10.


Os fatos que apontam a ligação entre o hacker Patrick Brito e o delegado, que pertence à Deic (Divisão Especializada de Investigações Criminais), foram relatados em reportagem publicada nessa sexta-feira (3) na revista Piauí.

Questionada, a Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP) enviou a seguinte nota:

“A Divisão de Crimes Funcionais, da Corregedoria da Polícia Civil, instaurou inquérito policial para apurar os fatos citados na reportagem. Outros detalhes serão preservados para garantir a autonomia do trabalho policial.”

A SSP não respondeu se o delegado seria afastado nem quais providências seriam tomadas para a apuração dos fatos, tampouco em que estágio andam as investigações de inquérito aberto anteriormente pela Corregedoria da PC em Araçatuba para apurar o caso.

Cabe à Divisão de Crimes Funcionais coordenar e fiscalizar os serviços de suas Delegacias de Polícia; elaborar, privativamente, por meio de suas Delegacias de Polícia, os inquéritos policiais referentes à prática de infrações penais atribuídas a policiais civis, no Município de São Paulo, e prosseguir os inquéritos policiais iniciados em outras unidades da Corregedoria Geral da Polícia Civil, quando conveniente aos interesses da Administração Policial, exceto no caso de prisão em flagrante.

Como tudo teria começado

A ligação entre o delegado e sua equipe teria começado no início de 2021, quatro meses após a deflagração da Operação Raio X, que foi deflagrada em setembro de 2020, para investigar desvio de recursos da saúde por meio de contratos firmados por OSSs (Organizações Sociais de Saúde) com prefeituras.

Conforme o hacker, que conversou por videoconferência com o repórter Alan de Abreu, da revista Piauí, o delegado o teria convidado para ajudar nas investigações por meio da invasão de dispositivos dos investigados.

O convite teria sido feito após Patrick Brito ser detido por invadir o celular do prefeito Dilador Borges (PSDB) e da primeira-dama Deomerce Damasceno (União Brasil). Na ocasião, ele teve R$ 10 mil apreendidos, assim como um notebook, passaportes e celular. O hacker foi liberado e, no dia seguinte, recebeu uma ligação do delegado, segundo ele, para uma conversa pessoalmente.

Ao receber o convite para “ajudar a prender pessoas”, concordou em colaborar com a polícia e atuar no Seccold (Setor de Combate à Corrupção, Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro), um dos mais avançandos em tecnologia do País. Na sequência, teve os passaportes e os R$ 10 mil liberados pelo delegado.

Mudança para a Sérvia

Brito, no entanto, estava com receio de ser preso, por ter invadido o celular e o Facebook do então vice-presidente Hamilton Mourão, sendo localizado por servidores da Abin (Agência Brasileira de Inteligência). Com medo, passou a planejar sua mudança para a Europa, o que ocorreu meses depois de seu primeiro contato com o delegado.

Mesmo estando no Leste Europeu, o hacker alega que recebeu várias informações, documentos e provas do setor de inteligência da PC de Araçatuba, o Seccold, e que sempre foi colaborador da autoridade policial. Ele afirma, inclusive, que chegou a receber transferências via PIX diretamente de agente policial.

O rompimento

A animosidade entre o hacker e o delegado teve início quando Brito teve acesso às senhas das redes sociais e contas bancárias do médico Franklin Cangussu Sampaio, um dos investigados da Raio X, e passou a extorqui-lo.

Desconfiado de que seus dados pessoais haviam sido passados por policiais para um hacker, o médico registrou um boletim de ocorrência na Divisão de Crimes Cibernéticos da Polícia Civil de São Paulo. Esta, por sua vez, encaminhou o caso à Corregedoria por haver “elementos mínimos de participação de policiais civis na prática dos crimes aqui apurados”.

O delegado teria ficado furioso e fez um relatório para sua equipe no qual acusa Brito de ter acesso a informações sigilosas da Operação Raio X para extorquir o médico.

Também determinou abertura de inquérito para apurar como o hacker teria invadido os arquivos da polícia e desengavetou o inquérito da invasão dos dispositivos do prefeito e da primeira-dama de Araçatuba. Com isso, o hacker acabou entrando na lista de procurados da Interpol e foi preso em dezembro do ano passado, na Sérvia.

O hacker reagiu às ações do delegado e montou um dossiê com a sua versão da história.