Denúncias de assédio eleitoral quadruplicam em 2024, alerta MPT

Especialista em direito do trabalho explica como trabalhadores podem agir diante de pressões políticas no ambiente corporativo

Denúncias de assédio eleitoral quadruplicam em 2024, alerta MPT - Divulgação


A poucos dias das eleições, um problema crescente ganha contornos alarmantes: o assédio eleitoral no ambiente de trabalho. Segundo o Ministério Público do Trabalho (MPT), até o dia 19 de setembro, foram registradas 319 denúncias de assédio eleitoral — um número mais de quatro vezes superior ao do primeiro turno das eleições de 2022, que contabilizou 68 queixas. Dessas denúncias, 265 são relatos únicos, sem duplicidade, o que reforça a gravidade e a abrangência do problema.


Para Giovanni Cesar, advogado especialista em direito do trabalho, esse comportamento está ligado a questões históricas nas relações trabalhistas brasileiras. “Nosso país carrega uma herança de trabalho baseada na escravidão. Esse pensamento ainda persiste em muitos empregadores, que acreditam ter o direito de controlar as escolhas pessoais de seus funcionários, como o voto. Isso é crime e deve ser denunciado”, afirma.

Além de violar o direito à liberdade de escolha, o assédio eleitoral afeta diretamente a dignidade do trabalhador, segundo o especialista. “Essa pressão ignora o direito do funcionário de tomar decisões livres e autônomas, o que causa um enorme impacto emocional e psicológico no ambiente de trabalho”, alerta.

O QUE FAZER?

Diante de uma situação de assédio eleitoral, os trabalhadores podem denunciar ao MPT ou aos sindicatos. O endereço eletrônico do Ministério Público do Trabalho para denúncias é https://mpt.mp.br/assedio-eleitoral.

Além da denúncia, há a possibilidade de buscar reparação judicial. “O assédio eleitoral pode gerar danos morais e resultar em ações trabalhistas, nas quais o empregado pode pedir indenização. Antes restrito às regiões rurais, o assédio eleitoral agora se espalha pelos grandes centros urbanos, onde a pressão por escolhas políticas dentro das empresas tem aumentado”, explica o advogado.

PREVENÇÃO

Com o aumento das denúncias e as possíveis consequências jurídicas, muitas empresas podem adotar medidas preventivas para proteger seus funcionários. “Os empregadores precisam compreender que pressionar os funcionários a votar em determinados candidatos pode resultar em sérios problemas jurídicos”, alerta o especialista.

Treinamentos, programas de compliance e campanhas internas de conscientização estão entre as principais ferramentas que as empresas podem usar para evitar esse tipo de situação e garantir um ambiente de trabalho saudável.

COMO AGIR DIANTE DO ASSÉDIO:

Documente tudo: Guarde provas, como mensagens, e-mails e conversas que possam evidenciar a pressão.

Busque apoio de colegas: Se outros funcionários também estiverem sendo pressionados, façam a denúncia em conjunto para fortalecer a queixa.

Procure ajuda: Não deixe o problema se agravar. O MPT e os sindicatos estão disponíveis para dar suporte.

Mantenha sigilo: O voto é secreto, e o empregador não pode exigir que você revele em quem votou. Mantenha sua escolha confidencial.