​Em entrevista, Doria confirma retorno ao setor privado, mas diz que "não desiste do Brasil"

Ex-governador de SP confirma mudança de rota, mas afirma que não vai deixar o PSDB

​O ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) anunciou nesta semana o retorno ao setor privado depois de seis anos dedicados à política brasileira, mais especificamente a paulista. E a participação de Doria no cenário político balançou as estruturas e os bastidores nos últimos anos.

Em menos de uma década, Doria elegeu-se prefeito de São Paulo, a maior cidade do país, no primeiro turno, foi eleito governador de São Paulo apenas dois anos depois e venceu, de forma inédita, as prévias para ser o candidato do P​​SDB ao Palácio do Planalto em 2022. Daí, esbarrou na cúpula do PSDB, que preferiu pela primeira vez não ter um candidato ao Planalto.


​Em entrevista, Doria confirma retorno ao setor privado, mas diz que "não desiste do Brasil" - Divulgação


Doria teve trajetória marcante por desburocratizar boa parte dos processos do Estado, enxugar a máquina pública por meio de concessões e parcerias com a iniciativa privada, além de ser o responsável por trazer a primeira vacina contra a covid-19 no Brasil.

Ao fazer um balanço de tudo, durante entrevista para a revista Isto É, Doria afirma que cumpriu sua missão como representante do povo.​ ​“Cumpri a minha missão e aquilo que os eleitores esperavam de mim. Sem populismos, com boas conquistas e transparência.”

Leia os principais trechos da entrevista para a Isto É.

O sr. anunciou a volta à iniciativa privada. Como será sua participação no conselho do Lide?

Neste momento, o único convite que eu aceitei foi do chairman Luiz Furlan, para compor um board especial de conselheiros. O Lide já tem o seu comitê de gestão, e tem comitês específicos. Mas ele teve a iniciativa de criar um board especial com o Henrique Meirelles, o Celso Lafer e eu. Vou viajar duas semanas com a Bia, minha esposa, e em julho tomarei, aí sim, uma decisão final sobre qual caminho seguir. Se é o setor de serviços, de mídia ou industrial. Os conselhos de que eu puder fazer parte, farei. Quero voltar para a atividade plena no setor privado.

Dá para fazer política sendo empresário?

Mais do que possível, é recomendável. Você tem que ter as pessoas com sentimento de cidadania. A sociedade civil como um todo precisa ter um papel mais forte. Não para substituir os políticos, não se faz democracia sem política. Mas é a sociedade civil que expressa isso pelo voto e pela participação. E é isso que pretendo fazer.

O sr. vai permanecer no PSDB?

Não vou sair. Sou filiado desde o ano 2000, são 22 anos de PSDB. Mesmo com as suas idiossincrasias, suas boas características e as não boas, eu prefiro manter minha filiação. É um partido que não tem dono e que, ao longo da história, sempre respeitou a democracia. No dia que romper esse compromisso com a democracia, eu não estarei no PSDB. Mas no momento, permaneço.

Passada a tempestade, qual foi o momento mais delicado nas negociações da sua candidatura?

Todo o processo das prévias foi muito delicado. Não houve respeito à expressão plena das prévias, ou seja, que fossem realizadas, onde cada voto valesse um voto. Foi assim que eu disputei duas prévias em 2016 e 2018. Quem determina peso para voto não respeita plenamente a democracia. Não foi um bom gesto no PSDB. Mesmo assim, disputei e venci. O próprio processo poderia ter sido mais transparente, com a utilização das urnas eletrônicas. Pior seria se as prévias tivessem sido canceladas ou anuladas. Então, entre os males ocorridos, venceu o bem.

O sr. enxerga um futuro na política?

Neste momento, meu foco vai ser a vida privada. Mas não posso deixar de considerar, no futuro, a hipótese de voltar para a vida pública.

Qual foi sua maior marca na administração de São Paulo?

A vacina, o respeito à ciência e à saúde. O crescimento econômico e a geração de empregos. São essas quatro marcas que o governo deixou, até os adversários reconhecem. E, por fim, uma que não deveria ser uma referência, mas é, dadas as circunstâncias do Brasil: foi um governo honesto e transparente. Aqui não se roubou dinheiro do povo.

Esse legado elogiado na gestão pode ser reproduzido por outros políticos?

Pode. Começando pelo Rodrigo Garcia, por quem tenho estima e respeito. Torço e espero que ele seja o próximo governador de São Paulo. Ele tem capacidade, seriedade, hombridade e experiência.

O sr. vai participar da campanha dele?

Naquilo que ele julgar que eu possa ser útil, sim. Mas a campanha é dele. Ele tem que construir seu próprio caminho. Aonde ele sentir que eu possa, pela minha experiência, ajudar, ajudarei.

Bolsonaro e Paulo Guedes falam em volta do congelamento, há um pacote para subsidiar combustíveis e o populismo fiscal ganha força… A economia do País está sob risco?

Está. A economia e a democracia. As eleições serão turbulentas. E antes das eleições, isso tende a aumentar pelo antagonismo das duas únicas candidaturas que se fortaleceram ao longo desse período. Os riscos na economia são representados pelos dois candidatos, tanto o Bolsonaro quanto o Lula. E na democracia, mais da parte de Bolsonaro.

Como é sua visão para o futuro do Brasil?

Sempre sou otimista. Um País que já suportou tantas crises, 20 anos de ditadura militar, sevícias, torturas, mortes e confrontos…. e sobreviveu. Vai sobreviver também essa tormenta. Poderia ser de maneira melhor, mais efetiva. Com mais compaixão, solidariedade, empregos, oportunidades e igualdade. E com menos populismo.