CONFLITOS
Embaixador de Israel usa estrela amarela na ONU
Diplomata Gilad Erdan disse que vai exibir emblema associado à perseguição de judeus pelos nazistas até que a ONU condene atrocidades do Hamas. Instrumentalização de símbolo provocou críticas do Memorial do Holocausto
O embaixador de Israel nas Nações Unidas exibiu uma estrela amarela em seu peito na segunda-feira (30/10) ao discursar no Conselho de Segurança da organização, provocando críticas do memorial do Holocausto de Israel, o Yad Vashem, que classificou o ato como uma "desonra às vítimas" judaicas do nazismo.
Ao colocar o emblema durante a sessão plenária, o diplomata Gilad Erdan afirmou que pretende usar a estrela até que os membros do conselho condenem explicitamente as atrocidades cometidas pelogrupo terrorista Hamas contra cidadãos israelenses.
A estrela amarela é um dos principais símbolos de perseguição aos judeus, que em diferentes momentos históricos foram obrigados a usá-la como um sinal de identificação. A prática teve início no século 8º, no Califado Omíada, por imposição de governantes muçulmanos. Mais tarde, foi introduzida na era medieval europeia pelos cristãos. Seu uso mais recente e conhecido ocorreu durante o Holocausto, no século 20, quando os nazistas obrigaram os judeus de territórios ocupados a portarem variações da estrela com a palavra "judeu" inscrita no meio.
Além do embaixador Erdan, outros membros da delegação israelense na ONU exibiram a estrela na sessão de segunda-feira. Ao justificar por que havia feito isso aos representantes do Conselho, o embaixador evocou a história do Holocausto: "Alguns de vocês não aprenderam nada nos últimos 80 anos. Alguns de vocês esqueceram por que esse órgão foi criado."
"Portanto, vou lembrá-los. A partir de hoje, toda vez que olharem para mim, vão se lembrar do que significa ficar em silêncio diante do mal", disse o embaixador, referindo-se ao ataque terrorista do Hamas a Israel em 7 de outubro. "Assim como meus avós e os avós de milhões de judeus, de agora em diante minha equipe e eu usaremos estrelas amarelas", disse, levantando-se para afixar no peito de seu terno a insígnia, com a inscrição "Never Again" ("Nunca mais", em inglês). "Usaremos essa estrela até que vocês acordem e condenem as atrocidades do Hamas."
סיפרתי למועצה שבסמוך לטבח, הפיהרר חמינאי צייץ ללא הרף דברי שטנה והסתה נגד ישראל: הוא טען שישראל גוססת וקרא להשמדתה. אם להיטלר היה חשבון טוויטר, הוא היה נראה בדיוק כמו של חמינאי. ואת נציגי הרוצח הזה, מזכ״ל האו״ם פוגש בלי מילת גינוי. איזו חרפה!צפו ורטווטו >> pic.twitter.com/Mj6OQzUjKu
— Ambassador Gilad Erdan גלעד ארדן (@giladerdan1) October 31, 2023
Até o momento, o Conselho de Segurança das Nações Unidas, formado por 15 membros, não chegou a um consenso sobre um posicionamento unificado em relação à guerra entre Israel e o Hamas, que resultou na morte de 1.400 israelenses e numa dura resposta de Israel, que vem travando operações militares na Faixa de Gaza, enclave palestino controlado pelo grupo fundamentalista. Até o momento, quatro propostas de resoluções naufragaram no conselho por causa de divisões entre os cinco membros permanentes (Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França), que têm poder de veto.
Duas propostas russas que eram vagas em mencionar o Hamas foram vetadas pelos EUA ou não conseguiram votos suficientes. Um texto dos americanos, mais explícito no apoio a Israel, por sua vez, foi vetado pela Rússia e China. Um quarto texto, proposto pelo Brasil e que chegou a garantir 12 votos, foi vetado pelos EUA sob a justificativa de que não fazia referência aos direitos de autodefesa dos israelenses.
Até o momento, apenas uma resolução foi aprovada, na Assembleia Geral, que não tem o mesmo poder do Conselho de Segurança para impor decisões. O texto, que pede uma "trégua humanitária" na Faixa de Gaza, atualmente sob cerco de Israel, tem tom similar às propostas russas, evitando mencionar o Hamas.
Críticas do Memorial do Holocausto
O gesto de Gilad Erdan de exibir a estrela foi mal recebido por alguns setores da sociedade israelense. O Yad Vashem, o memorial oficial de Israel para lembrar as vítimas judaicas do Holocausto, que pediu que o diplomata usasse a bandeira israelense em vez da estrela.
O presidente do Yad Vashem, Dani Dayan, político e empresário que também teve uma controversa carreira como diplomata, disse "lamentar" a ação da delegação israelense em Nova York. "Esse ato desonra as vítimas do Holocausto, bem como o Estado de Israel", escreveu na rede X, antigo Twitter.
"A estrela amarela simboliza o desamparo do povo judeu e o fato de ele estar à mercê de outros. Agora temos um Estado independente e um exército forte. Somos os donos de nosso próprio destino. Hoje prenderemos em nossa lapela uma bandeira azul e branca, não uma estrela amarela", disse Dayan, que em 2015 chegou a ser indicado como embaixador no Brasil, mas nunca chegou a assumir o posto por causa da oposição de Brasília, que não simpatizava com a associação de Dayan ao movimento de assentamentos judaicos na Cisjordânia ocupada.