Furto de metralhadoras: exército encerra aquartelamento; veja o que a investigação apontou

O equipamento tem como vantagem operacional a capacidade de perfurar blindagens, principalmente as de caráter civil, como as que estão presente em modelos de carro-forte de transportadoras de valores

Furto de metralhadoras: exército encerra aquartelamento; veja o que a investigação apontou - Exército Brasileiro

As investigações que apuram o furto de 21 metralhadoras do arsenal do Comando Militar do Sudeste, em Barueri, na Grande São Paulo, ainda continuam em andamento. Desde a ausência constatada durante inspeção no dia 10 de outubro deste ano, o Comando Militar do Sudeste manteve quase 500 militares aquartelados para identificar dados relevantes para ajudar a desvendar os fatos envolvidos no sumiço do armamento. Com o avanço das investigações, o Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP) não está mais na situação de sobreaviso, ou seja, não existe mais nenhum efetivo aquartelado.

"Todos os militares da Organização Militar cumprem o expediente normalmente", disse o Comando Militar do Sudeste nesta terça-feira, 24.



Em meio à crise causada pelo furto do armamento, na sexta-feira passada, 20, o comando do Exército anunciou a troca do diretor do Arsenal de Guerra de São Paulo, o tenente-coronel Rivelino Barata de Sousa Batista. A mudança foi publicada no Diário Oficial da União. Para o posto foi nomeado o coronel Mário Victor Vargas Júnior.

Confira o que a investigação apontou até agora.

Quando foi notada a ausência das armas?

A ausência do armamento foi notada durante uma inspeção no local no dia 10 de outubro deste ano. Segundo o Exército, o material era inservível e tinha sido recolhido para manutenção, mas não esclareceu a natureza do problema e se o defeito é corrigível a ponto de ser consertado e usado por criminosos.

Imediatamente, o Comando Militar do Sudeste disse ter instaurado um inquérito policial militar para apurar as circunstâncias do fato. O Exército descreveu a ocorrência como "uma discrepância no controle" das armas e disse ter tomado todas as providências para investigar o caso.

Quais os tipos de armas sumiram?

Entre os armamentos furtados estavam 21 metralhadoras (13 do tipo .50 e oito do calibre 7,62 mm).

Quais as características das metralhadoras furtadas do Exército?

Documentos técnicos das Forças Armadas apontam que a 50 pesa 38,1 quilos, sem contar outros 20 quilos do tripé que acomoda o armamento no solo. Ela tem 1,75 metro de comprimento e atinge alvos com eficácia a mais de um quilômetro de distância. É considerada não portátil por não ser transportada de forma ativa facilmente, mas, além do solo, pode ser instalada em veículos terrestres e aquáticos e possui suportes voltados a alvos aéreos a baixa altitude.

O armamento é usado pelos Estados Unidos desde a década de 1930. Foi intensamente empregado durante a 2ª Guerra Mundial. Ele também tem o uso disseminado entre nações da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e foi adquirido pelo Exército do Brasil.

Por aqui, a metralhadora é usada até em caças A-29 Super Tucano, produzidos pela Embraer e que integram a frota da Força Aérea Brasileira (FAB). Cada aeronave possui duas metralhadoras .50 como parte do armamento à disposição da operação militar. O equipamento tem como vantagem operacional a capacidade de perfurar blindagens, principalmente as de caráter civil, como as que estão presente em modelos de carro-forte de transportadoras de valores.

As metralhadoras têm alto poder de fogo: a .50 pode disparar 550 munições por minuto e provocar a queda de helicópteros.

Para que serve esse tipo de armamento e a quem poderia interessar?

Por seu alto poder de fogo, metralhadoras .50 passaram a ser cobiçadas por organizações criminosas organizadas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV), que possuem armeiros especializados.

Já a de calibre 7,62 é adotada pelo Exército como armamento padrão de combate desde a década de 1960.

Militares foram aquartelados?

Quase 500 militares chegaram a ser mantidos aquartelados na unidade da cidade enquanto a apuração era realizada. Aos poucos, foram sendo liberados. Nesta terça-feira, 24, o Comando Militar do Sudeste disse que não existia mais nenhum efetivo aquartelado

As investigações do Exército sinalizavam para a hipótese de que foi um militar ou um grupo de militares de dentro do quartel que arquitetou o furto das metralhadoras.

Os militares foram ouvidos para que fosse possível identificar dados relevantes para a investigação. Parte dos militares foi liberada da unidade no dia 18 de outubro. Posteriormente, o restante.

Como está a investigação?

Ao menos 20 militares vão responder a processos disciplinares pelo furto das 21 armas do Arsenal de Guerra do Exército. Destes, sete são suspeitos de participação direta no desvio das armas, segundo o Comando Militar do Sudeste.

Na segunda-feira, 23, a Justiça Militar de São Paulo decretou as quebras dos sigilos telefônicos, telemáticos e bancários dos sete militares suspeitos de participar do furto. A medida foi decretada a pedido do Comando Militar do Sudeste (CMSE), que instaurou Inquérito Policial-Militar (IPM) para investigar o caso.

Os nomes dos suspeitos não foram revelados. Além dos suspeitos de envolvimento direto no furto, outros 13 são acusados de negligência durante o serviço e podem ser alvo de punições disciplinares. Por enquanto, não há nenhum militar indiciado pelo crime.

As investigações feitas pelo Exército se concentraram entre os militares que estavam de plantão entre os dias 5 e 8 de setembro no Arsenal, quando provavelmente as armas foram furtadas.

No contexto da apuração criminal, os possíveis crimes cometidos, conforme o Código Penal Militar, são: furto; peculato; receptação; e desaparecimento, consunção ou extravio. A qualificação dos crimes compete ao Ministério Público Militar.

Paralela à apuração criminal, na esfera disciplinar, as possíveis punições são: advertência; impedimento disciplinar; repreensão; detenção disciplinar; e prisão disciplinar de até 30 dias, segundo o Comando Militar do Sudeste.

Quem é o principal suspeito de receptar armas em São Paulo?

Um criminoso com histórico de roubo a banco é apontado como o principal suspeito de ter receptado parte das metralhadoras furtadas do Arsenal de Guerra do Exército em Barueri, na região metropolitana, aponta investigação da Polícia Civil de São Paulo Sem intenção de ficar com as armas, ele as teria oferecido a integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), organização criminosa dominante no Estado.

Na noite desta sexta-feira passada, porém, a Polícia Civil frustrou as negociações e interceptou parte considerável do armamento furtado.

Quantas armas foram encontradas?

Ao todo, 17 dos 21 armamentos subtraídos do Arsenal de Guerra foram recuperados até esta terça-feira, 24. Continuam desaparecidas quatro metralhadoras calibre .50.

A apreensão das primeiras oito metralhadoras ocorreu na entrada da Gardênia Azul, bairro da zona oeste do Rio de Janeiro, na quinta-feira, 19. Elas estavam a caminho do Comando Vermelho (CV), principal facção criminosa da capital fluminense.

Antes de serem encontradas em um carro estacionado na entrada da Gardênia Azul, comunidade que fica ao lado da Cidade de Deus, as armas passaram pelo Complexo da Penha, na zona norte, e a favela da Rocinha, na zona sul.

Polícia de SP encontra em lamaçal 9 metralhadoras furtadas

O secretário estadual da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, anunciou na madrugada de sábado passado, 21, que o trabalho de inteligência da Polícia Civil encontrou cinco metralhadoras .50 e quatro 7,62 mm furtadas do quartel do Exército em Barueri, na região metropolitana.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) apontou que as apreensões ocorreram na noite de sexta-feira passada, na Estrada Municipal Emil Scaff, em São Roque, município paulista a cerca de 35 km de Barueri. As armas estavam em uma área de lamaçal.

As buscas pelas armas continuam?

As buscas para encontrar as quatro metralhadoras de calibre .50 que ainda estão desaparecidas continuam. Tanto o Exército quanto a Polícia Civil paulista afirmam que vão "até o fim" para recuperar as armas.

O furto das 21 armas é o maior já acontecido na história recente do Exército brasileiro, segundo o Instituto Sou da Paz. Até então, o maior registro havia sido o roubo de sete fuzis de um batalhão em Caçapava, no interior de São Paulo, em 2009. As armas foram rapidamente recuperadas e os suspeitos, entre eles um militar, foram presos.