O Centro e a polarização política

O Centro e a polarização política - Divulgação


Apesar da polarização política reinante, há um espaço social de centro que se desenvolve no país. Ou seja, a sociedade brasileira está cansada, insatisfeita, com as alternativas que lhe são apresentadas como se fossem definitivas, a saber, Bolsonaro e Lula.


Entretanto, esse espaço social ainda não se traduziu politicamente, na medida em que as candidaturas que cobririam tal demanda social ainda não conseguiram se afirmar. A sociedade clama por mudanças, mas os partidos políticos, até agora, têm se mostrado incapazes de fazerem tal tradução no nível propriamente partidário.

O esquartejamento da sociedade. A polarização política está produzindo uma espécie de esquartejando da sociedade, com famílias se dividindo, amigos se distanciando e a falta de perspectiva tomando conta de todos. De um lado, a pandemia e a sua falta de condução política governamental federal deixaram as pessoas desamparadas; de outro lado, a desesperança apoderou-se da maioria, pois não se vislumbra uma saída possível para o impasse atual. O desemprego é elevadíssimo, a economia está travada, a inflação galopa e não há nenhuma resposta política à altura no horizonte. As ruas estão apinhadas de indigentes, em um espetáculo atroz de pobreza e miséria social.

Amigos e inimigos. Bolsonaro e Lula são duas faces da mesma moeda, ambos alicerçados em uma mesma concepção da política que distingue amigos de inimigos. O outro não é visto politicamente como um rival a ser convencido, um adversário a ser enfrentado em uma batalha eleitoral. São esses traços próprios de um regime democrático, baseado em um mesmo espírito de diálogo, de interlocução e de regras equacionadoras de conflitos. O outro é visto como um inimigo a ser eliminado, a ser combatido sem tréguas. O atual presidente está sempre à procura de um inimigo, pois vive do conflito constante e reiterado. Foram as máscaras, as regras de distanciamento social, o comunismo, o PT, o Judiciário, o voto impresso em uma sucessão interminável que, por pouco, não nos levou a uma crise institucional. O ex-presidente Lula, por sua vez, mudara a representação, a figura, do inimigo, mas não a sua necessidade ideológica. Era o “nós contra eles”, os “conservadores versus os progressistas”, a política de ser contra “tudo o que está aí”.

A não repetição. O Brasil não merece repetir o passado nem perpetuar o presente. O país não pode ficar refém de polarizações que só ameaçam a democracia, embasadas que estão em projetos e ameaças autoritárias. Bolsonaro questiona eleições e o voto eletrônico, dizendo claramente, naquela ocasião, que não aceitaria o resultado do processo eleitoral, nem decisões do STF. Foi obrigado a recuar, pois teve medo do impeachment. Lula questiona o caráter autoritário de tais posições, porém elogia as ditaduras cubana e venezuelana, mostrando um mesmo desprezo pelas liberdades e pela democracia. Não tem, neste sentido, nenhuma credibilidade.  Quem pode lhe dar ouvidos?

Tempo. Urge resgatarmos a esperança, urge apostarmos na democracia, no diálogo e na pacificação política. Basta de radicalizações que a nada levam, salvo ao impasse, à violência e à ausência de alternativas. Estamos a um ano das eleições de 2022, tempo suficiente para que o país construa uma candidatura de centro, que preze as liberdades sem tergiversações e lute contra a profunda injustiça social na qual vivemos. As desincompatibilizações só ocorrerão no mês de abril do próximo ano, as eleições serão em outubro e a campanha propriamente dita terá apenas 45 dias de duração.  Isto é, apesar da pressa, há ainda muito tempo a ser percorrido, tempo esse que consolidará algumas candidaturas, descartará outras e novas podem ainda surgir. Há, por assim dizer, tempo para tudo, embora haja uma urgência por mudanças na sociedade. Líderes partidários mais experientes ainda estão fazendo experimentos, colocam figurantes que podem ser retirados de cena e pensam que dos atuais candidatos alguns irão simplesmente minguar, decantados pelo tempo. A sociedade pode ainda frear a sua corrida rumo à insegurança e a um beco sem saída.