Para 62% dos brasileiros, Rússia é maior culpada pela guerra

Pesquisa aponta que apenas 17% concordam com a propaganda de Putin, de que a Rússia seria uma vítima que reagiu à Otan. Para 67%, líder russo deveria ser julgado por crimes de guerra

Para 62% dos brasileiros, Rússia é maior culpada pela guerra - Divulgação/Kremlin


A narrativa propagada pelo presidente russo, Vladimir Putin, sobre o início da guerra na Ucrânia, compartilhada por parte da esquerda brasileira – de que Moscou seria uma vítima que reagiu à Otan – não convence muitos no Brasil, segundo uma pesquisa de opinião divulgada nesta quarta-feira (10/05).


Questionados sobre quem foi mais responsável pelo início da guerra, a Rússia ou a Otan, 62% dos brasileiros apontaram o dedo para Moscou, enquanto apenas 17% responsabilizaram a aliança militar ocidental. Outros 21% não souberam responder ou preferiram não opinar.

O percentual de brasileiros que culpam a Otan pelo conflito é menor do que na Alemanha, onde 21% responderam nesse sentido. O país europeu integra a aliança militar e tem enviado apoio financeiro e bélico a Kiev, mas parte da ultraesquerda e da ultradireita alemã é simpática a Putin.

As pesquisas foram realizadas em abril pela Morning Consult, uma empresa americana especializada em sondagens feitas pela internet, com uma amostra de pelo menos mil adultos representativa da população em cada país, e têm margem de erro de 2 a 3 pontos percentuais.

Divergência com falas de Lula

A opinião da maioria dos brasileiros vai na direção contrária de algumas das declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o tema, que procuraram inicialmente equiparar a responsabilidade de Kiev e de Moscou pelo início da guerra.

Em 30 de janeiro, questionado sobre o conflito, ele disse que a Rússia havia cometido um erro ao invadir a Ucrânia, mas ponderou: "Continuo achando que quando um não quer, dois não brigam". Em 16 de abril, o petista voltou a acusar a Ucrânia de ter participação no início do conflito. "A construção da guerra foi mais fácil do que será a saída da guerra, porque a decisão da guerra foi tomada por dois países", disse.

Em outras ocasiões, Lula adotou um tom mais crítico a Moscou. Em 22 de abril, ele disse que nunca igualou os dois países, e que "todos nós achamos que a Rússia errou".

A guerra na Ucrânia começou em 24 de fevereiro de 2022, após a Rússia invadir o país vizinho. Desde o início do conflito, Kiev passou a receber armamentos e munições de vários países europeus e dos EUA, o que possibilitou segurar o avanço russo e transformar uma guerra que Putin planejava terminar em poucas semanas em um conflito que dura já mais de um ano.

Maioria quer Putin julgado por crimes de guerra

A maioria dos brasileiros também é crítica a Putin. Para 63% dos respondentes, o mundo seria um lugar melhor se o russo estivesse fora do Kremlin, e 67% disseram que ele deveria ser julgado por uma corte internacional por crimes de guerra. Apenas 14% aprovam a forma como Putin conduz a Rússia em relação à Ucrânia.

A conduta do presidente americano, Joe Biden, sobre a Ucrânia é aprovada por 46% dos brasileiros, e desaprovada por 31%. Percentual semelhante é obtido pelo presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, apoiado por 46% e reprovado por 29% dos brasileiros.

Nesse ponto, a aprovação de Zelenski entre os brasileiros é inferior do que entre os alemães, onde 55% o aprovam e 27% o desaprovam.

Apoio a sanções contra Moscou

Questionados sobre as sanções do Ocidente aplicadas contra a Rússia – das quais o Brasil não participa – 41% dos respondentes brasileiros disseram que elas deveriam ser mantidas até os militares russos deixarem o território da Ucrânia, e 24% defenderam que sejam mantidas até a queda de Putin. Apenas 12% afirmaram que as sanções deveriam ser retiradas imediatamente.

O governo brasileiro é crítico às sanções contra Moscou. Em 17 de abril, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, reuniu-se em Brasília com seu homólogo russo, Sergei Lavrov, e se mostrou contrário a essas medidas. "As sanções, além de não terem a aprovação do Conselho de Segurança das Nações Unidas, têm um impacto negativo nas economias mundiais, especialmente nos países em desenvolvimento", disse Vieira. 

Política de neutralidade

A posição do Brasil sobre a guerra na Ucrânia é de neutralidade no conflito, no sentido de que o país não participa enviando armas ou munições. Ao mesmo tempo, o Brasil defende o princípio da integridade territorial e é contra a violação de fronteiras internacionais, e foi o único país dos Brics a votar a favor de resolução da ONU pela retirada das tropas russas da Ucrânia.

Lula afirma que o Brasil "está fazendo um esforço muito grande" para constituir um grupo de países, entre eles China e Índia, para negociar acordo de paz, e vem conversado com diversos líderes mundiais sobre o tema.

Nesta quarta-feira, ele falou sobre o assunto com o primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, em reunião em Brasília. No mesmo dia, o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Celso Amorim, reuniu-se em Kiev com Zelenski e membros do governo ucraniano para discutir como encerrar a guerra, após o governo brasileiro sofrer críticas sobre a proximidade com Moscou e sua neutralidade no conflito.