INOVAÇÃO
Presidente Prudente inicia ampliação do 1º gasoduto de biometano do Brasil
Expansão vai acrescentar 40 km de gasodutos urbanos, conectar até 5 mil residências e fortalecer uso de combustível renovável na cidade

Começaram nesta segunda-feira (16), em Presidente Prudente, as obras de expansão do primeiro gasoduto destinado exclusivamente ao transporte de biometano no Brasil. A rede atual de distribuição entrou em operação em 2023 e é abastecida com biometano produzido a partir de resíduos da cana-de-açúcar, como vinhaça, palha e torta de filtro.
Atualmente, o sistema conta com cerca de 65 quilômetros de gasodutos instalados – aproximadamente 51 km em tubulação de aço no trecho rural e 14 km em tubulação de polietileno em áreas urbanas –, interligando a Usina Cocal, no município de Narandiba, até a cidade de Presidente Prudente. Essa infraestrutura compõe a primeira rede isolada de distribuição de biometano do país, por onde o gás renovável produzido na usina é transportado para uso na cidade. Em Presidente Prudente já existem cerca de 14 km de rede urbana operando, atendendo consumidores industriais locais desde 2023.
Com a expansão iniciada hoje, a malha de distribuição será ampliada em 40 km dentro do perímetro urbano do município. O projeto de ampliação, apresentado pela empresa Necta Gás Natural (concessionária responsável pela distribuição de gás na região), prevê a construção de mais 40 quilômetros de dutos ao longo da cidade até dezembro, com foco no atendimento a novos consumidores residenciais e comerciais. A estimativa é conectar aproximadamente cinco mil residências, 50 estabelecimentos comerciais e oito indústrias à rede de biometano urbano com essa nova etapa.
Segundo a Necta Gás Natural, a execução das obras ocorrerá por método não destrutivo, utilizando perfuração direcional horizontal. Essa técnica dispensa valas contínuas: serão abertas pequenas valas a cada 100 metros, o suficiente para guiar a instalação subterrânea dos dutos. Com isso, espera-se reduzir os impactos no trânsito durante a construção e diminuir a geração de resíduos sólidos, já que grande parte do trajeto será perfurado abaixo do solo sem necessidade de grandes aberturas. O material utilizado nas tubulações, polietileno de alta densidade, é considerado o mais adequado para redes de gás em áreas urbanas por causa da resistência e flexibilidade.
PROJETO PIONEIRO
A primeira etapa do projeto foi inaugurada em fevereiro de 2023, fruto de uma parceria entre a GasBrasiliano – concessionária pública de gás encanado do noroeste paulista – e a Usina Cocal. Essa iniciativa, lançada originalmente em 2019 no âmbito do programa estadual Cidades Sustentáveis, recebeu investimentos de cerca de R$ 180 milhões e deu origem ao primeiro gasoduto isolado de biometano do Brasil. A indústria Liane Alimentos foi a primeira empresa em Presidente Prudente a consumir o biometano distribuído por essa rede pioneira, substituindo parte do uso de combustíveis fósseis em seus fornos e caldeiras. Desde então, outras plantas industriais locais também passaram a ser atendidas com o gás renovável.
A ampliação em curso faz parte do programa Cidades Sustentáveis, uma iniciativa da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SIMA) com suporte da agência reguladora Arsesp. O projeto de Presidente Prudente foi incorporado a esse programa por seu caráter inovador e sustentável, contando com apoio da prefeitura municipal desde a fase de aprovação, em 2020.
Especialistas apontam que o biometano – obtido da purificação do biogás oriundo de resíduos orgânicos – desempenha um papel importante na redução de emissões de gases de efeito estufa. Ao aproveitar resíduos da agroindústria que liberariam metano na atmosfera, o biometano evita a emissão de metano, um gás cujo impacto de aquecimento global é mais de 20 vezes superior ao do CO₂. Além disso, ao substituir combustíveis fósseis como o gás natural fóssil e o GLP em residências, comércios e indústrias, o biometano ajuda na descarbonização da matriz energética nacional.
De acordo com a Associação Brasileira do Biogás (Abiogás), o Brasil tem potencial técnico para produzir até 30 milhões de metros cúbicos diários de biometano até 2030, aproveitando fontes como rejeitos agroindustriais, dejetos da pecuária e lixo orgânico. Atualmente, a produção nacional ainda está em fase inicial, mas projetos pioneiros como o de Presidente Prudente demonstram o caminho para expandir o uso desse combustível renovável em larga escala.