81% dos policiais querem posse de eleito e 84% preferem a democracia

Os dados da pesquisa sugerem afastamento da possibilidade de corpos policiais serem mobilizados por alguma força política que queira questionar o resultado das urnas eletrônicas

81% dos policiais querem posse de eleito e 84% preferem a democracia - Reprodução SSP-SP


Pesquisa feita pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que 80,9% dos policiais de todo o País concordam que o vencedor das eleições declarado pela Justiça Eleitoral deve tomar posse em janeiro de 2023. Divulgado ontem, o trabalho ouviu 5.058 policiais civis, militares, federais, penais, guardas civis e bombeiros militares em todos os Estados e no Distrito Federal. E mostra que a adesão dos policiais à democracia atinge 84%, que responderam preferi-la ante a qualquer outra forma de governo.


"Esse resultado surpreende pela intensidade da adesão à legalidade democrática", afirmou o ex-secretário nacional de Segurança Pública, coronel José Vicente da Silva Filho. Ainda mais, segundo ele, em razão da adesão tradicional dos policiais a pautas conservadoras e, ultimamente, ao governo Jair Bolsonaro "Há uma enorme simpatia por Bolsonaro, principalmente nas PMs, mas isso não significa adesão a qualquer ideia de ruptura institucional." Recente pesquisa Datafolha mostrou que o apoio à democracia na população em geral era de 75%.

Em relação às polícias, a que mais apoia a democracia e a posse dos eleitos são a Federal e a Científica, com índices próximos de 65% de total concordância em ambos os casos. A adesão menor, simbolizada aqui pelo apoio em parte ao enunciado das duas perguntas, está na Polícia Penal (11% em relação à democracia e 18% sobre a posse dos eleitos) e nas Polícias e nos Corpos de Bombeiros Militares (10% e 17%, respectivamente).

Os dados da pesquisa sugerem afastamento da possibilidade de corpos policiais serem mobilizados por alguma força política que queira questionar o resultado das urnas eletrônicas, a exemplo do que fez o presidente ao condicionar o reconhecimento de eventual derrota ao que ele chamou de eleições "limpas e transparentes".

Nesta semana, integrantes do Conselho Nacional de Comandantes-Gerais das Polícias e Corpo de Bombeiros Militares estiveram reunidos com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, para discutir a segurança nas eleições. O presidente do órgão, coronel Paulo Coutinho, afirmou ao Estadão que não há hipótese de as polícias se unirem em uma ofensiva contra o sistema democrático. Afirmou ainda que seja qual for o resultado das urnas, ele será respeitado. Segundo ele, não há risco de quebra da hierarquia ou disciplina.

RISCOS

Para o presidente do fórum, o sociólogo Renato Sérgio de Lima, embora a adesão dos policiais à democracia seja alta, é preciso lembrar que Bolsonaro nunca se disse contrário a essa forma de governo. "O problema é que para Bolsonaro a palavra democracia tem outro sentido e comporta a contestação do resultado das urnas eletrônicas."

De fato, os dados da pesquisa mostram que, ao serem confrontados com a pergunta sobre se "em alguns casos seria justificável que os militares apoiassem ou tomassem o poder através de um golpe de Estado", apenas 55,6% dos entrevistados discordaram da afirmação, enquanto 14,7% concordaram ou concordaram totalmente com uma ruptura, e 19,1% concordaram em parte.

Outra pergunta que teria capturado o risco de radicalização de parte dos policiais seria a que mostrou que 62,9% discordavam da afirmação de que um governo podia agir fora de lei e por cima do Congresso e das demais instituições em uma situação de crise para resolver problema.

Apesar desses resultados, Lima afirmou que a situação que se desenhava antes do 7 de Setembro do ano passado era mais grave do que a pesquisa capturada agora. Em agosto daquele ano, um dos comandantes da PM paulista, o coronel Aleksander Lacerda, foi afastado por criticar em uma rede social ministros do Supremo Tribunal Federal, por ofender o então governador João Doria (PSDB) e por pregar o comparecimento no ato bolsonarista convocado para a Avenida Paulista, em São Paulo.

"A reação dos comandantes de tropas disciplinando, por exemplo, o uso de redes sociais e combatendo manifestações de caráter político-partidário entre policiais da ativa freou a tendência de radicalização." O coronel José Vicente concorda que a ação dos comandantes-gerais foi importante para a manutenção da disciplina e da hierarquia nas organizações policiais.

DIREITOS HUMANOS

Em outra pergunta, apenas 26,7% dos policiais concordaram com a afirmação de que a sociedade seria mais segura se todos os cidadãos pudessem andar armados. Ao mesmo tempo, 74,9% dos policiais concordaram ou concordaram totalmente com a afirmação de que o respeito aos direitos humanos é essencial para a democracia. A maioria (52,7%) concordou ainda ser importante para a democracia que os tribunais sejam capazes de impedir o governo de agir além de sua autoridade.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.