​Construção civil: falta de insumos e alta de preços preocupa construtoras

Este cenário impacta tanto a vida do brasileiro comum, que resolveu fazer pequenas reformas na casa, quanto a de empresas do setor

​Construção civil: falta de insumos e alta de preços preocupa construtoras - Divulgação


Sinal de alerta na construção civil. Alguns materiais tiveram aumentos expressivos desde o começo do ano, e chegam a faltar em fornecedores e lojas.


Este cenário impacta tanto a vida do brasileiro comum, que resolveu fazer pequenas reformas na casa, quanto a de empresas do setor, que também atuam nos segmentos de obras públicas e de moradias populares.

“A escalada nos preços dos materiais de construção e a falta de alguns produtos no mercado, como aço, blocos, pisos e azulejos, colocam em risco a trajetória de recuperação do setor”, comenta o presidente do Sinduscon OESP (Sindicato das Indústrias da Construção Civil da Região Oeste do Estado de São Paulo), Aurélio Luiz de Oliveira Júnior.

A alta dos preços d​​e materiais foi captada em indicadores de inflação, como o IPCA, medido pelo IBGE.

No acumulado dos oito primeiros meses de 2020, o cimento teve variação de 10,67% e o tijolo, de 16,86%, por exemplo. O Índice Nacional de Custo da Construção-M (INCC-M), da FGV, registra alta de 3,39% no acumulado até agosto.

O item materiais e equipamentos tem alta um pouco maior, de 5,05%.

Esses percentuais são menores do que os indicados por levantamentos feitos por entidades da construção civil, que apontam quatro itens como os que tiveram aumentos mais relevantes e que impactam no custo total das obras: cimento, aço, cobre e tubos de PVC.

De acordo com Oliveira Júnior, as razões para o aumento dos preços são variadas. Alguns itens, como aqueles que têm cobre, sofrem o impacto do câmbio: o produto é uma commodity, é importado e o real está desvalorizado perante o dólar.

Cimento e aço tiveram a produção interrompida durante o início da pandemia e as atividades retomadas não alcançaram o patamar produtivo anterior à crise sanitária.

“Na quarentena, a demanda por esses produtos cresceu. E para a grande indústria fornecedora é mais negócio exportar, com o dólar valendo mais de R$ 5,60, do que vender no mercado interno”, explica o presidente do Sinduscon OESP.

EVIDÊNCIAS DE ABUSO

No último dia 14, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) entregou ao governo federal, um documento que reúne evidências sobre abusos no aumento do preço de materiais de construção durante a pandemia. O material, levado à Secretaria de Advocacia da Concorrência e Competitividade do Ministério da Economia, demonstra causas e consequências para os aumentos e para o desabastecimento, além de apresentar propostas para mitigar os seus efeitos na economia nacional.

Para o presidente da CBIC, José Carlos Martins, o aumento nos preços é resultado da falta de oferta de produtos em quantidade suficiente para atender o mercado, uma vez que foi criado um desequilíbrio artificial por parte das empresas. “Com a insegurança inicial gerada pela pandemia, em março, foi gerado um falso desabastecimento, que foi sendo aproveitado pelos fornecedores para recuperar preços. Se não houver um choque de oferta urgente, a memória inflacionária irá criar um caminho sem volta para a nossa economia”, disse.

Para comprovar essa narrativa, a CBIC realizou o cruzamento de informações presentes em diversos documentos, cotações e declarações para acionistas por parte de grandes indústrias.

São apresentados, por exemplo, dados que podem demonstrar interferência no mercado por parte de uma siderúrgica, além do posicionamento de uma entidade da indústria do cimento declarando que o setor possui 45% de capacidade ociosa e que está aproveitando para recuperar preços.

O levantamento ainda traz correspondências enviadas por diferentes fabricantes de insumos comunicando aumentos idênticos nos preços dos mesmos produtos, simultaneamente, para a mesma região.

RISCOS

Na avaliação de Oliveira Júnior, o cenário de aumento dos preços e desabastecimento pode ter sérias consequências negativas, como desemprego, aumento do custo das obras públicas e dificuldades para impulsionar obras em infraestrutura. Ele também cita uma provável paralisação das obras em andamento, assim como redução no número de lançamentos de imóveis já neste segundo semestre de 2020, o que significa menos empregos e aumento nos preços.

Assim como a CBIC, o Sinduscon OESP também prevê aumento do custo dos imóveis populares, o que tende a gerar necessidade de aumento de subsídio. “Esses aumentos abusivos dos insumos do setor são inadmissíveis. O governo federal precisa tomar uma medida em favor da construção civil brasileira”, diz.