Fluxo migratório bate recorde e EUA enfrentam caos na fronteira

Os migrantes que atravessam o Rio Grande fazem fila nas pontes internacionais, lotam os centros de triagem e se amontoam nas calçadas das cidades fronteiriças

Fluxo migratório bate recorde e EUA enfrentam caos na fronteira - Reprodução


Um dia antes de expirar a política que permite ao governo americano expulsar imigrantes ilegais, os EUA já enfrentam um cenário caótico nos principais pontos da fronteira com o México. A medida, conhecida como Título 42, foi ativada na pandemia e expira às 25h59 (0h59 em Brasília).


O fluxo de imigrantes já bateu recordes e vem sobrecarregando os serviços nos Estados de Califórnia, Novo México, Arizona e Texas Ao longo de mais de 3 mil km de fronteira, agentes americanos, soldados e autoridades locais já encontram dificuldades para manter a ordem.

Os migrantes que atravessam o Rio Grande fazem fila nas pontes internacionais, lotam os centros de triagem e se amontoam nas calçadas das cidades fronteiriças.

PRESSÃO

A pressão na fronteira começou a aumentar dias antes do fim do Título 42. Muitos migrantes disseram temer que o situação se torne ainda mais caótica nos próximos dias. Desde quarta-feira, 10, mais de 11 mil migrantes por dia cruzaram a fronteira ilegalmente, segundo dados oficiais. O número é quase o dobro do registrado em março.

Muitos se renderam imediatamente às autoridades e esperavam ser libertados enquanto prosseguiam com seus casos em tribunais de imigração, o que costuma levar anos. A Patrulha de Fronteira já havia superado a capacidade de receber imigrantes em suas instalações. Os agentes teriam sido instruídos a liberar os estrangeiros se a capacidade superar 125% ou se o tempo de custódia passar de 60 horas.

Em alguns pontos no Arizona e no Texas, centenas de pessoas de vários países, incluindo Peru, Brasil, Gana e Tailândia, esperam em fila para se entregar à Patrulha de Fronteira e pedir asilo.

O Título 42, que faz referência a uma lei de saúde pública de 1944, foi acionado pelo governo de Donald Trump, em 2020, e permite a expulsão de imigrantes antes de requerer asilo. Joe Biden manteve a política e expulsou cerca de 2 milhões até dezembro, segundo o Departamento de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA.

EMERGÊNCIA

Prevendo uma situação caótica a partir de sexta-feira, 5, o governo dos EUA enviou 1,5 mil soldados e posicionou 24 mil agentes na fronteira com o México. Três cidades do Texas - Brownsville, Laredo e El Paso - declararam estado de emergência.

Ativistas e legisladores que defendem os direitos dos imigrantes pediam há dois anos ao governo para que suspendesse o Título 42. O debate, porém, não se divide entre as linhas partidárias. Durante as eleições, muitos democratas, temerosos de perder eleitores por causa da questão migratória, pediram que Biden mantivesse a política em vigor.

Nesta quinta, 11, às margens do Rio Grande, a leste de El Paso, 400 imigrantes se amontoavam e tentavam se proteger dos fortes ventos que levantavam a areia. Ao mesmo tempo, soldados da Guarda Nacional do Texas construíam barreiras de arame farpado.

El Paso tomou medidas adicionais, fechando temporariamente uma rua perto de um abrigo para estrangeiros no centro da cidade. As autoridades locais esperavam evitar uma crise como no fim do ano passado, quando uma onda de imigrantes sobrecarregou os abrigos da região, causando um aumento de pessoas dormindo nas ruas a temperaturas abaixo de zero.

PREPARAÇÃO

Funcionários da Casa Branca se prepararam durante meses para o novo fluxo de imigrantes. O secretário de Segurança Interna, Alejandro Mayorkas, pediu paciência aos americanos. "Nós nos preparamos para este momento por quase dois anos e nosso plano dará resultados", disse.

Os republicanos, no entanto, estão prontos para usar as cenas de caos para reforçar seus ataques políticos aos democratas, acusando-os de não proteger a fronteira e de serem liberais demais com as leis de imigração.