Imprensa estrangeira vê Bolsonaro repetir roteiro de Trump

Veículos registram que estratégia do brasileiro de questionar lisura do processo eleitoral recorda a adotada pelo ex-presidente americano em 2020, quando também falava de fraude sem provar e não reconheceu sua derrota

Imprensa estrangeira vê Bolsonaro repetir roteiro de Trump - Agência Brasil/Arquivo


Veículos da imprensa internacional que cobiram a apresentação feita pelo presidente Jair Bolsonaro a diplomatas estrangeiros no Palácio da Alvorada, na segunda-feira (18), na qual ele voltou a questionar o sistema de votação, destacaram similaridades entre o comportamento do líder brasileiro com o do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.


Assim como Bolsonaro, Trump também disseminava suspeitas sobre a votação na eleição americana de 2020, e alegou que seu adversário, Joe Biden, teria sido beneficiado por "fraudes" no processo. Trump não reconheceu sua derrota e usou o argumento de que as eleições haviam sido fraudadas para insuflar seus apoiadores, que invadiram o Capitólio em 6 de janeiro de 2021.

Na segunda-feira, o presidente brasileiro tentou deslegitimar a autoridade do Tribunal Superior Eleitoral para organizar as eleições e repetiu alegações de fraude nas eleições de 2018 que já foram desmentidas pela Polícia Federal e pela corte eleitoral.

"Prévia de estratégia"

Ao noticiar sobre a reunião de Bolsonaro com os diplomatas, o jornal americano New York Times afirmou que a apresentação do brasileiro foi uma "prévia potencial de sua estratégia para uma eleição daqui a 75 dias e para a qual as pesquisas preveem que ele perderá por grande margem".

"Muitos diplomatas presentes ao evento foram impactados pela apresentação, inclusive pela sugestão de Bolsonaro de que a forma para garantir eleições seguras seria com um envolvimento mais intenso dos militares brasileiros [...] Esses diplomatas se preocuparam que Bolsonaro esteja criando os fundamentos para uma tentativa de questionar o resultado das urnas, se perder."

"Bolsonaro parece estar aderindo ao esquema do ex-presidente Donald Trump [...] parece estar desacreditando a votação antes que ela se realize, num suposto esforço para aumentar sua confiabilidade e transparência", analisou o jornal nova-iorquino.

O britânico The Guardian também lembrou em sua cobertura sobre o evento que Bolsonaro era um apoiador de Trump, e que já havia tentado aprovar um projeto de lei que determinasse o retorno ao voto impresso, rejeitado pela Câmara.

"A decisão de Bolsonaro de intensificar suas críticas [ao processo eleitoral] perante um público internacional pode estar ligada à seu mau desempenho nas pesquisas. A maioria delas dá ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma vantagem de dois dígitos, e seus apoiadores estão otimistas de que ele poderia até vencer no primeiro turno".

"Alertas sem provas"

A revista alemã Der Spiegel foi outra publicação que fez paralelos entre o brasileiro e o ex-presidente americano. "De forma repetida, Bolsonaro dissemina dúvidas sobre a confiabilidade do sistema de votação. No ano passado, ele não conseguiu aprovar uma reforma. Como o ex-presidente dos EUA Donald Trump, Bolsonaro faz alertas de possível manipulação, sem provas. Ele exige, por exemplo, que os votos sejam também registrados em papel impresso – do contrário não reconheceria o resultado da eleição em outubro", escreveu o veículo.

A agência de notícias americana Bloomberg, por sua vez, registrou que Bolsonaro, ao dizer que as urnas eletrônicas do Brasil estão sujeitas a fraudes, repetia "teorias da conspiração antigas e desmentidas sobre a segurança do sistema que o Brasil vem usando há mais de duas décadas".

A agência de notícias internacional Reuters afirmou que Bolsonaro é "um nacionalista de extrema direita que diz que seu governo tem como exemplo o de Donald Trump", que "ecoou as alegações sem provas de fraude feitas pelo ex-líder dos EUA nas eleições americanas de 2020".

"Ele vem questionando de forma repetida as urnas eletrônicas do Brasil, alegando, sem provas, que elas são suscetíveis a fraudes, o que desperta o receio que possa se recusar a admitir uma derrota, como fez Trump em 2020", escreveu a Reuters.