Israel diz ter encontrado 1.500 corpos de terroristas

Número de israelenses mortos chega a 1.000. Cerco à Faixa de Gaza, de onde partiu ataque terrorista do Hamas, é intensificado. Bombardeios ao enclave já deixaram mais de 700 palestinos mortos, segundo autoridades locais

Cerca de 1.500 corpos de terroristas do Hamas foram encontrados dentro do território israelense após três dias de combates, afirmou nesta terça-feira (10/10) um porta-voz das Forças de Defesa de Israel. No sábado, terroristas invadiram Israel a partir da Faixa de Gaza, um enclave palestino, ocupando comunidades, atacando instalações militares e massacrando a população civil.

"Por volta de 1.500 corpos de combatentes do Hamas foram encontrados em Israel e ao redor da Faixa de Gaza", disse o porta-voz militar Richard Hecht. Ele ainda afirmou que as forças de segurança haviam "mais ou menos restaurado o controle da fronteira" com Gaza. No sábado, terroristas do Hamas romperam a cerca que divide Gaza e Israel em mais de duas dezenas de pontos. "Desde ontem à noite [segunda-feira], sabemos que ninguém entrou", disse o porta-voz, mas advertindo que "infiltrações ainda podem ocorrer".


Ainda segundo Hecht, o exército de Israel "quase completou" a evacuação de todas as comunidades ao redor da fronteira.

Cerca de 1.000 israelenses - a maioria civis, incluindo crianças - foram mortas pelo Hamas, segundo o último balanço divulgado pelas autoridades. Mais de uma centena de israelenses e estrangeiros que estavam no país também foram sequestrados pelo Hamas e levados para Gaza como reféns. Nesta terça-feira, o embaixador israelense nas Nações Unidas estimou o número de reféns entre "100 e 150".

Entre os civis assassinados em Israel estão cidadãos dos EUA e França. Várias vítimas participavam de um festival de música que ocorria a poucos quilômetros da fronteira com Gaza e que foi alvo de um ataque de homens armados do Hamas. No local, foram encontrados pelo menos 260 corpos.

Outros 107 corpos também foram encontrados no kibbutz isralense de Be'eri, uma comiunidade rural que tinha cerca de 1.000 moradores antes do ataque terrorista. Muitos dos mortos eram moradores, mas também foram encontrados corpos de forças de segurança israelenses. Dois brasileiros que participavam do festival alvo do Hamas foram encontrados mortos no local. Já a França confirmou que quatro cidadãos do país morreram em Israel. Os EUA confirmaram nove mortos.

Cerco e bombardeio à Faixa de Gaza

Além de evacuar as comunidades, Israel continua a realizar bombardeios sistemáticos contra alvos do Hamas na Faixa de Gaza. Desde sábado, foram centenas de incursões aéreas israelenses no enclave, espremido entre Israel, Egito e o Mar Mediterrâneo, habitado por pouco mais de 2 milhões de palestinos.

Os pesados bombardeios de retaliação israelenses também têm provocado baixas entre civis de Gaza. Segundo as autoridades de emergência palestinas, mais de 700 pessoas já morreram no enclave, incluindo centenas de civis.

Israel também ordenou um "cerco total" a Gaza, cortando o fornecimento de eletricidade, água, combustível e comida para o enclave. Ao anunciar o cerco na segunda-feira, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, disse que Israel está "lutando contra animais". No domingo, ao visitar uma das cidades israelenses atacadas pelo Hamas, o ministro já havia advertido que que "o preço que a Faixa de Gaza pagará será muito pesado".

Em reposta ao bloqueio, a Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu esta terça-feira a abertura de um corredor humanitário até Gaza. "É necessário um corredor humanitário para fornecer suprimentos médicos essenciais às populações", disse o porta-voz da OMS, Tarik Jasarevic.

Na segunda-feira, o Hamas continuou a atacar o território de Israel pelo ar. Foguetes lançados pelo grupo atingiram cidades como Jerusalém e Tel Aviv. Um foguete explodiu perto do Aeroporto Internacional Ben Gurion.

Também foram registrados desde sábado choques entre palestinos e forças de segurança isralenses na Cisjordânia, território palestino que é separado da Faixa de Gaza, e que por sua vez é controlado pela Autoridade Palestina, mais moderada e rival do Hamas. Segundo as Nações Unidas, 17 palestinos morreram em confrontos com os israelenses. Mais de 200 ficaram feridos.

Pressão por invasão terrestre

No momento, cresce entre setores do governo israelense a pressão por uma invasão por terra da Faixa de Gaza, que é controlada com mão de ferro pelo grupo fundamentalista islâmico Hamas. Israel convocou 300 mil reservistas após os ataques de sábado. Tanques foram deslocados para as imediações do enclave palestino.

No fim de semana, o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, que prometeu "vingar" os massacres do fim de semana, advertiu aos palestinos que deixem áreas de Gaza onde o Hamas opera. Mas, com Gaza isolada e cercada, moradores dizem que não têm para onde fugir.

A última operação israelense em Gaza que incluiu uma invasão terrestre ocorreu em 2014, e deixou um saldo de mais de 2 mil mortos na faixa, a maioria civis, segundo as Nações Unidas. Desde então, Israel vinha preferindo realizar apenas operações aéreas contra o Hamas, também como uma forma de limitar potenciais baixas de tropas terrestres israelenses. Mas, após o massacre de sábado, diferentes setores políticos e militares israelenses passaram a pressionar pela tomada de medidas mais drásticas contra o Hamas.

"Qualquer coisa menos do que uma invasão será um grave erro. Precisamos conquistar Gaza, ou pelo menos a maior parte dela, e destruir o Hamas. Não podemos continuar a fazer as mesmas coisas que fizemos antes e que não estão funcionando", disse Amir Avivi, ex-vice-comandante da Divisão de Gaza das forças armadas de Israel.

As tropas israelenses ocuparam Gaza por quase quatro décadas entre os anos 1960 e 2000. Em 2005, Israel promoveu uma retirada unilateral do enclave. No entanto pouco depois a área caiu sob domínio completo do Hamas, que expulsou políticos palestinos moderados e impôs um regime fundamentalista, passando ainda a promover ataques regulares a Israel. Desde 2007, Israel e Egito – que também se opõe ao Hamas – impõem um severo bloqueio econômico e de circulação ao enclave, que ficou ainda mais empobrecido no período.

No entanto, a tomada de dezenas de reféns israelenses pelo Hamas, incluindo mulheres e idosos, que foram levados pela Gaza, devem complicar potenciais planos de invasão terrestre. Um porta-voz das Brigadas Izz ad-Din al-Qassam, o braço armado do Hamas, disse nesta segunda-feira que os bombardeios de Israel à Faixa de Gaza já mataram quatro reféns israelenses. O Hamas também ameaçou matar reféns caso os bombardeios israelenses ao enclave continuem.

Uma nova invasão por terra também levanta o temor de mais um banho de sangue. As áreas urbanas de Gaza estão entre as mais densamente povoadas do planeta.

Mais de 900 mortos em "11 de Setembro" de Israel

O ataque do Hamas já é um dos eventos mais graves da história israelense. O último grande episódio comparável, a sangrenta Segunda Intifada, no início dos anos 2000, matou mais de mil israelenses, mas ao longo de quatro anos de conflito aberto com os palestinos. Na Guerra do Yom Kippur, em 1973, mais de 2.500 militares israelenses morreram em duas semanas de conflitos com a Síria e o Egito. Já as centenas de mortes israelenses no ataque do Hamas foram registradas em apenas um dia. O último balanço mostrou que dos 900 assassinados pelo Hamas em território israelense, 123 eram militares ou policiais. O restante, civis.

Além de assassinar centenas, inclusive crianças, o Hamas ainda sequestrou dezenas em Israel, incluindo cidadãos estrangeiros, levando-os para Gaza. Muitos foram raptados do festival de música que foi alvo do ataque, mas militares e policiais também teriam sido levados.

No início da segunda-feira, o tenente-coronel Jonathan Conricus, porta-voz das Forças de Defesa de Israel, descreveu os acontecimentos de sábado como devastadores. "Este é, de longe, o pior dia da história de Israel. Nunca antes tantos israelenses foram mortos por uma única coisa num único dia."

Ele também afirmou que o dia pode ser comparado a uma combinação de "11 de Setembro e Pearl Harbor", em referência aos atentados sofridos pelos EUA em 2001 e o ataque surpresa japonês à base de Pearl Harbor em 1941, que marcou a entrada americana da Segunda Guerra Mundial.