Menino de dois anos morre após receber medicação errada em hospital de Andradina

Caso aconteceu no pronto atendimento da Unimed; técnica em enfermagem teve prisão decretada e pagou fiança

Menino de dois anos morre após receber medicação errada em hospital de Andradina - Arquivo Pessoal


A troca de um medicamento provocou a morte de um menino de dois anos, na noite desta terça-feira (6), no pronto atendimento do Hospital da Unimed, em Andradina. Segundo a Polícia Civil, José Rafael dos Santos Silvano de Souza estava com bronquiolite. No hospital, ele foi atendido por uma pediatra, que prescreveu hidrocortisona, remédio usado em casos de problemas respiratórios.


Mas, assim que recebeu a medicação por via intravenosa, o menino teve uma queda rápida na saturação, começou a vomitar e sofreu uma parada cardiorrespiratória. A equipe médica iniciou de imediato as manobras de reanimação. A criança foi entubada, recebeu adrenalina, mas não reagiu.

De acordo com o delegado Genivaldo Alves dos Santos, responsável pelo caso, os profissionais tentaram reanimar a criança por cerca de 45 minutos, sem sucesso.

Durante o atendimento, uma técnica de enfermagem que acompanhava o caso percebeu que havia algo errado com o medicamento e alertou a equipe. Ela foi a primeira a identificar que a colega, outra técnica de enfermagem, de 31 anos, havia aplicado succinilcolina (Succitrat), um relaxante muscular usado em procedimentos de anestesia e intubação. “A técnica não apenas aplicou o remédio errado, como usou uma dose muito alta. A recomendação é de cerca de 1 ml por quilo de peso, mas ela aplicou 100 ml”, disse o delegado.

A Polícia Militar foi acionada e levou os envolvidos à delegacia, onde prestaram depoimento. “Pedi que o familiar com melhores condições emocionais viesse até a delegacia. Quem compareceu foi o pai”, contou o delegado. Ele também ouviu a médica, funcionários do hospital e a profissional que aplicou o medicamento.

“Foram depoimentos longos. Começamos no início da madrugada e só terminamos por volta das seis da manhã”, relatou. “Mas foram fundamentais para que eu tomasse a decisão de prender a técnica em flagrante por homicídio culposo. Ficou evidente a imprudência dela.”

A prisão foi decretada e, em seguida, o delegado arbitrou fiança no valor de três salários mínimos (R$ 4.560). O valor foi pago e a técnica vai responder ao processo em liberdade.

LOCAL ERRADO

Ainda segundo o depoimento da técnica de enfermagem que aplicou o medicamento, a succinilcolina estava armazenada em um pote plástico com o nome da hidrocortisona. Mesmo assim, o delegado entendeu que houve falha grave da profissional, que não seguiu o protocolo obrigatório antes da aplicação.

“Ela deveria ter checado não apenas o nome no frasco, mas também a validade e o aspecto físico do medicamento. Esse remédio precisa ser diluído, ou seja, ela manipulou o conteúdo, teve tempo de verificar e mesmo assim não percebeu que era o produto errado”, afirmou o delegado. “Além disso, o frasco aplicado não é igual ao da hidrocortisona. Existem diferenças de cor e tamanho.”

O delegado destacou no boletim de ocorrência que a técnica agiu com imprudência ao desrespeitar regras básicas da profissão. “Ela não tomou os cuidados mínimos em relação ao medicamento e aplicou um produto diferente do receitado, o que causou a morte da criança.”

O corpo de José Rafael foi encaminhado ao IML (Instituto Médico Legal) para exames antes de ser liberado para a família. O caso foi registrado como homicídio culposo, quando não há intenção de matar.

AFASTADA

Em nota, a Unimed Andradina afirma que lamenta profundamente o falecimento do paciente e que, para garantir uma apuração técnica e precisa, a profissional de enfermagem envolvida será temporariamente afastada de suas funções.

A nota diz ainda que "a Unimed Andradina se solidariza com a família e amigos neste momento de dor, se coloca à disposição das autoridades para os esclarecimentos necessários e reafirma seu compromisso com o cuidado e acolhimento aos beneficiários, especialmente em momentos de fragilidade".