Verões mais longos podem provocar extinção dos ursos polares

Aumento das temperaturas na região do Ártico acelera derretimento das calotas de gelo que permitem a ursos polares caçarem animais marinhos. Em terra, eles correm risco de inanição

Verões mais longos podem provocar extinção dos ursos polares - Hans-Jurgen Mager/Divulgação/Unsplash


A equação é relativamente simples. Se não há calota de gelo marinho, não há chance de se caçar focas em alto mar. E então a busca por alimentos se torna tortuosa, perigosa e mortal em terra.


Esse é o cenário enfrentado pelos ursos polares na região oeste da Baía de Hudson, no Canadá, de acordo com um estudo publicado na revista Nature Communications. Especialistas rastrearam 20 ursos polares com colares de câmera e GPS, chegando a descobertas surpreendentes e perturbadoras.

A pesquisa constatou que os verões cada vez mais longos no Ártico estão forçando os ursos a passar mais tempo em terra, onde é improvável que consigam se adaptar a viver por longos períodos e correm o risco de passar fome a médio prazo. Isso se deve ao fato de que não é fácil encontrar alimentos nesses locais.

"Os ursos não têm estratégias comportamentais e energéticas que possam usar para evitar a perda de peso no verão em terra, e esta será maior quando eles passarem períodos mais longos em terra", disse à agência de notícias EFE o autor principal do estudo, Anthony Pagano, do Centro de Ciências do Alasca do Serviço Geológico dos EUA.

Pesquisas anteriores mostraram que o período sem gelo no oeste da Baía de Hudson aumentou em três semanas entre 1979 e 2015. Antes, os ursos passavam de 100 a 110 dias em terra, enquanto hoje eles passam 130 dias em terra. Dependendo dos diferentes cenários de emissão de gases de efeito estufa, é "provável" que o tempo fora do mar aumente de cinco a dez dias por década. Os especialistas estimam que, se os ursos passassem 180 dias por ano em terra firme, morreriam de fome.

Comem, mas não o suficiente

Dos 20 animais estudados, 19 perderam uma média de um quilo por dia. Para evitar o dispêndio de energia a que não podiam permitir-se, muitos machos adultos ficavam deitados para evitar a queima de calorias, mas 70% dos animais se mantiveram ativos na busca de alimentos terrestres, como bagas, gramíneas e carcaças de aves ou renas. Algumas fêmeas adultas passavam até 40% do tempo procurando alimentos e, embora o alimento lhes proporcionasse algum benefício energético, elas precisavam gastar mais energia para acessá-lo.

Três indivíduos nadaram longas distâncias, até 175 quilômetros em águas abertas, onde dois deles encontraram carcaças de mamíferos marinhos das quais não puderam se alimentar enquanto nadavam ou trazer para terra. O único indivíduo que ganhou peso, entretanto, foi porque achou um mamífero marinho morto em terra.

Embora esses animais "mostrem uma plasticidade notável em seu comportamento, eles ainda correm o risco de morrer de fome" devido ao declínio previsto do gelo marinho do Ártico, pois a pesquisa sugere que o alimento que eles obtêm em terra não lhes dá energia suficiente para resistirem mais tempo antes de chegarem a um estado de inanição, afirma Pagano.

md/cn (EFE, AFP)