‘’Medo Profundo: O segundo ataque”: mais um filme de tubarão que você torce para o tubarão?



JOÃO MARCELO MORAES - DE ARAÇATUBA

Quatro jovens fazem um mergulho escondido em uma cidade submersa, qualquer coisa dá errado, elas ficam presas abaixo d’água com oxigênio limitado, a, é mesmo, e tem um tubarão. Assim temos o nosso filme.

Mesmo não se tratando da sequência de ‘Medo Profundo’ (2017) este filme deixa muito a desejar em relação a seu ‘’antecessor’’ em quase todos os aspectos.

Ambos são dirigidos pelo britânico Johannes Roberts e aqui mesmo se tratando de um filme B, a maioria dos aspectos técnicos poderia ser um pouquinho mais trabalhado, parece que o diretor está bem menos interessado neste filme do que no do ano retrasado.

O roteiro já começa com um melodrama baratíssimo de uma família que acabou de se mudar para um novo lugar, onde as filhas, meias-irmãs, não se dão bem, pois uma é extrovertida e outra tímida, onde precisam passar por alguma situação de dificuldade para fortalecer sua relação.

É uma competição ferrenha entre personalidades das protagonistas, relação entre elas, furos no roteiro, clichês do gênero e diálogos para saber quem é mais genérico e mal escrito.

-  ‘’vamos, mesmo sendo muito perigoso, devíamos ir’’

- ‘’não, é muito perigoso!’’

- ‘’mas vai ser legal’’

 - ‘’Tudo bem, vamos”

Por isso eu creio que com diálogos como este, essa categoria leva o prêmio.

Uma coisa que o diretor já havia feito no seu filme anterior e repete muito bem aqui é usar o ambiente, neste caso uma cidade submersa, a favor da trama. A claustrofobia é nítida e funciona tão bem que a falta de um tubarão talvez nem fizesse falta. Se fosse um filme apenas de sobrevivência poderia até ser melhor.

Tirando o fato de mergulharem sem experiência alguma, sabendo que a cidade submersa é um labirinto embaixo d’água, o roteiro não deixa que as personagens tomem decisões estúpidas com relação a acharem uma saída ou escapar das empreitadas do animal faminto, muito pelo contrário, mesmo estando próximas da morte, as garotas agem com muita racionalidade para resolver a situação.

Um grande problema aqui é a trilha sonora, é intrusiva demais e ao tentar criar tensão falha e só deixa os jump scares mais previsíveis do já que são. Se o diretor tivesse apostado mais no silêncio, que aterroriza, quando ele o faz, o longa causaria mais preensão e ajudaria os sustos a causarem mais impacto no público.

No elenco temos como quarteto protagonista, Sophie Nélisse, Carinne Foxx, Brianne Tju e Sistine Stallone, a última que parece ter herdado o talento do pai, ou a falta dele.

Não tem muito para se analisar nas interpretações, o filme não se preocupa em desenvolver nenhuma delas. Nos apresenta, dá o motivo para que entrem na caverna e só. É difícil culpar as atrizes, pois aqui, elas não têm material nenhum para trabalhar, são personagens unidimensionais. Fica muito difícil se apegar a qualquer uma delas e até mesmo torcer para que elas sobrevivam, para mim o sentimento foi de indiferença.

Mas tudo isso é o que menos importa em um filme de tubarão, então vamos falar da fera.

Se com cinco milhões de dólares Roberts conseguiu entregar um peixe aceitável, claro, o ótimo uso da escuridão ajudou bastante, aqui com 12 milhões como orçamento temos um dos piores tubarões do cinema. Fisicamente borrachudo, com movimentos robóticos, sem peso e muito mesmo textura.

Mas isso você até deixa de lado para analisar a péssima construção do animal. ‘’ele é cego, deve ter nascido e crescido aqui embaixo, se desenvolveu sem olhos’’. Este diálogo não só contraria leis da biologia (sim, isso tem que ser levado em consideração, pois se o filme se leva a sério, eu também devo fazê-lo. Não temos aqui um caso de ‘Piranhas 3D’ ou ‘Sharknado’), mas também é um grande furo de roteiro. Como um tubarão branco adulto de quatro metros e uma tonelada sobreviveu naquela caverna sem nenhum outro ser vivo para que ele se alimentasse?

Em resumo, comparar ‘Medo Profundo: O segundo ataque’ com ‘Medo Profundo’ (2017), que já é limitado, seria como comparar ‘Tubarão’ (1975) à ‘Sharknado’ (2013).

Nota: 1,5

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